sábado, 10 de outubro de 2009

Plano de ensino à distância causa discordância entre categorias da Universidade

Camila Souza Ramos e Cássia Alves   | Publicado em 02.07.2009 – ed.online (jul/09), universidade
Projeto de implementação de curso a distância na USP antecede Univesp e seus coordendores não querem intereferência pedagógica do programa do governo
A pressa na aprovação do curso de licenciatura em Ciências tem sido somente uma das críticas aos cursos vinculados ao projeto Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), elaborado pela Secretaria de Ensino Superior em 2007, ainda sem data para implementação (leia mais na matéria “matéria sobre adiamento da univesp”). Tanto professores como estudantes e funcionários criticam tanto na forma de implementação nas universidades como no seu conteúdo.
Um projeto institucional da USP de ensino a distância é discutido desde 2003, quando o então Adolfo Melfi designou um grupo de trabalho para estudar a implementação dessa modalidade de ensino na Universidade. Em 2006, o grupo fez a primeira proposição de curso superior a distância: o curso de licenciatura em Ciências. A meta era formar professores de 5ª a 8ª série, com 40% de aulas presenciais, no mínimo. O projeto ainda prevê um módulo introdutório com o objetivo de “levar ao domínio de conhecimentos e habilidades básicas referentes à tecnologia utilizada e/ou ao conteúdo programático do curso, assegurando a todos um ponto de partida em comum”.
O professor José Cippola Neto, coordenador do curso de Ciências que foi aprovado no Conselho de Graduação, afirma que o projeto Univesp será somente para bancar os cinco primeiros anos do curso em suas demandas estruturais. “O que a USP quer da Secretaria é financiamento”, diz. “Não é objetivo da Universidade, com este curso de licenciatura em Ciências, atrelar-se à Univesp. Nosso curso sequer segue suas regras e normas, nosso norte são critérios da USP”, enfatiza.
Cippola critica diversas diretrizes do governo no projeto e no ante-projeto da Univesp. Com relação ao serviço de atendimento telefônico gratuito para tirar dúvidas dos alunos, previsto no ante-projeto, ele sentencia: “isso é uma barbaridade, um acinte pedagógico inaceitável”.
O secretário do Ensino Superior, em resposta ao JC, afirmou que “o projeto acadêmico e pedagógico dos cursos oferecidos pelas universidades é de responsabilidade da universidade. O objetivo do Programa Univesp é oferecer as condições materiais, financeiras e tecnológicas para a realização desses cursos”. Apesar de Cippola garantir que a autonomia da Universidade será mantida, estudantes e professores duvidam que o financiamento do estado não influa nas diretrizes do projeto. “A interferência do governo na autonomia vem desde 2007, com a própria criação da Secretaria de Ensino Superior”, lembra Juliano Polidoro, estudante de Biologia e membro do centro acadêmico de seu curso.
A comunidade estudantil também tem se envolvido na discussão da implementação dos cursos, apesar de não ter sido consultada durante as decisões. Para Polidoro, o ante-projeto vai massificar e precarizar a formação, além de criar uma diferença na qualidade da formação de professores e de outras áreas. Os estudantes de Biologia têm estudado o projeto desde abril de 2008, quando foi divulgado que o instituto ofereceria curso de licenciatura à distância.
Professores e estudantes questionam a real democratização do projeto, já que somente 12% da população tem acesso à internet. Para o professor Gil da Costa Marques, um dos idealizadores do projeto na USP, “as pessoas que fazem a crítica de que o ensino a distância não é democratizante só pensam no presente. Daqui a 5 anos, serão 40 milhões de brasileiros com acesso à internet e este não é um número pequeno”.
Heitor Martins, do centro acadêmico da Faculdade de Educação (CAPPF), diz que o governo erra ao considerar que o problema na educação pública é falta de professores qualificados. “Se os salários fossem maiores, haveria professores na rede pública”, diz. Para Thiago Mahrenholz, do DCE, “como o mercado estaria saturado de formandos da Univesp, esses teriam menos alternativas e acabariam cedendo à oferta um tanto precária do governo”.

FONTE : http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2009/07/plano-de-ensino-a-distancia-causa-discordancia-entre-tres-categorias-da-universidade/

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