segunda-feira, 17 de novembro de 2008

GLOBO DETURPOU "GRANDE SERTÃO: VEREDAS", DE GUIMARÃES ROSA, QUANDO COLOCOU NO ELENCO BRUNA LOMBARDI COMO DIADORIM

"Nunca a Globo poderia ter colocado Bruna Lombardi como Diadorim,na série "Grande Sertão Veredas".Estragaram esta obra que é uma das maiores, de nossa literatura!
Deveriam ter colocado ,pelo menos ,uma atriz desconhecida do grande público,e que tivesse feições muito mais masculinizadas! A Globo ficou em cima do muro, saiu pela tangente , para não tocar de verdade no tema do homossexualismo,atitude flagrante e discarada,além de desumana!
Leia abaixo parte de uma tese sobre este tema.
Nadia Stabile - 17/11/08


Riobaldo/Diadorim e o tema da homossexualidade

Walnice Matos Vilalva
Professora Doutora da UEMG
wvilalva@terra.com.br

Nego que gosto de você, no mal. Gosto, mas só
como amigo!... Assaz mesmo me disse. De por
diante, acostumei a me dizer isso sempre vezes,
quando perto de Diadorim eu estava. E eu mesmo
acreditei. Ah, meu senhor! – como se o obedecer do
amor não fosse sempre o contrário...
(Riobaldo)

O tema da homossexualidade em Grande Sertão: Veredas se organiza sem que haja dúvida a respeito do
sexo de Diadorim. Riobaldo quando apresenta gradativamente sua relação com Reinaldo/Diadorim,
tecendo em fios saudosistas o que foi a sinuosa relação com o amigo que o encantou, participa a esse
leitor (e ouvinte) as sutilezas de gostar cada vez mais, afirmativamente, em todo seu despojamento e
força de outro jagunço. Essa composição é afirmativa, por excelência. Mesmo sabendo da verdadeira
identidade de Diadorim, Riobaldo opta por apresentá-lo como jagunço. Essa opção intensifica, no
discurso, o tema da homossexualidade, mas busca resgatar o percurso da descoberta da identidade
de Diadorim, ao longo da narração. Essa é a baliza configural de Diadorim como donzela e guerreiro.
Nessa reformulação, a identidade mulher de Diadorim não se constitui, uma vez que se fez jagunço
em toda trajetória. Isso seria passivo de afirmação se a sinuosa narração de Riobaldo não anunciasse
que interposto ao guerreiro, havia sutilezas de Diadorim no agir e enxergar o mundo; façanhas de se
ser ou se parecer em alguns momentos quase que indefinido, ou seria melhor dizer, duplo. Esse jogo
discursivo entre não ser, sendo o tempo todo, é a afirmação conclusiva de Riobaldo sobre a neblina
que foi seu amigo Reinaldo-Diadorim. Riobaldo articula em seu discurso essa cicatriz ao mostrar o
amigo, jagunço e grande guerreiro, que conheceu em sua trajetória. A virgem morta já reconhecida pelo narrador, anunciada previamente, não anula o jagunço, nem mesmo o fato de que Riobaldo
amou esse guerreiro tão intensamente, sem mesmo supor da identidade que esse guerreiro ocul-
tava. Diadorim é configurado, por Riobaldo, duplamente afirmativo: ela é donzela e é guerreiro. Essa
realização se faz pela organização da imagem de Diadorim que intensifica no guerreiro e antecipa,
construindo efeitos de sentidos de Diadorim mulher, espalhados por todo o texto. Exemplo disso a
cantiga de siruiz, a imagem de manuelzinho-da-croa, a beleza da natureza, o ciúme de Riobaldo com
Otacília e Nhorinhá. O masculino, como sentido explícito, o amigo-jagunço, aparece como dado
certo da personagem. À medida que a narrativa de Riobaldo se desenvolve, a sutileza do feminino, na
pele alva delicada, nos olhos verdes, no jeito com as roupas, no cuidado com Riobaldo, contamina (e
nodoa) o guerreiro. A imagem se duplica, sendo a seu tempo masculino e feminino. Nem só masculi-
no nem feminino. Mas masculino e feminino duplamente. Esse efeito de contaminação, proposto pela
imagem, cria o jogo da homossexualidade. Nas nuanças de Diadorim feminino, Riobaldo restaura
sua imagem de jagunço macho. A identidade mulher não identificada por Riobaldo-personagem, no
momento da trajetória ao lado do amigo, é reformulada pelo narrador-Riobaldo. É justamente nessa
reformulação que o projeto narrativo sugere a “adivinhação” que seu corpo realiza do feminino ocul-
tado pelo corpo jagunço do amigo.
– Naquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo
próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensata-
mente. / O corpo não translada, mas muito sabe, adivinha se não entende. (GSV, p. 125)
A imagem da virgem morta resgata Riobaldo desse impasse, e sua narrativa reconstrói, nesse amor
conflituoso e proibido, o saber intuitivo de Riobaldo sobre a Maria Deodorina.
Deixei meu corpo querer Diadorim; minha alma? Eu tinha recordação do cheiro dele. Mesmo no escuro,
assim, eu tinha aquele fino das feições, que eu não podia divulgar, mas lembrava, referido na fantasia da
idéia. Diadorim – mesmo o bravo guerreiro – ele era para tanto carinho: minha repentina vontade era beijar
aquele perfume no pescoço: a lá, aonde se acabava e remansava a dureza do queijo, do rosto... Beleza – o que
é? (GSV, p. 510)
Eu tinha súbitas outras minhas vontades, de passar devagar a mão na pele branca do corpo de Diadorim, que era um escondido (GSV,pág.275) (...)


"Grande Sertão:Veredas" - GUIMARÃES ROSA

LEIA NA ÍNTEGRA EM:
http://www.andrelg.pro.br/cerrados/index.php/cerrados/article/viewFile/51/49


Um comentário:

  1. O grande amor de Riobaldo doi Nhorinhá. É preciso ser homem para avaliar isto.

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