quarta-feira, 12 de novembro de 2008

FERNANDO PESSOA e seus FAKES...


POR FERNANDO PESSOA
Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (…)
Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas cousas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)

Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada (…).

Levei uns dias a elaborar o poeta, mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. (…)

Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfa de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem. (…)

POR RICARDO REIS
A palavra contém uma idéia e uma emoção. Por isso não há prosa, nem a mais rigidamente científica, que não ressume qualquer suco emotivo. Por isso não há exclamação, nem a mais abstratamente emotiva, que não implique, ao menos, o esboço de uma idéia. Poderá alegar-se, por exemplo, que a exclamação pura -"ah", digamos - não contém elemento algum intelectual. Mas não existe um "ah", assim escrito isoladamente, sem relação com qualquer coisa de anterior. Ou consideramos o "ah" como falado e no tom da voz vai o sentimento que o anima, e, portanto a idéia ligada à definição desse sentimento; ou o "ah" responde a qualquer frase, ou por ela se forma, e manifesta uma idéia que essa frase provocou.

POR ALBERTO CAIERO
O essencial é saber ver
Saber ver sem estar e pensar
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.

POR ÁLVARO DE CAMPOS
Já que o indivíduo é a soma de vários psiquismos, o que o faz um amálgama de desejos e crenças muitas vezes contraditórios, e de dores, nada mais sensato do que dividir-se o poeta em vários para tudo sentir e tudo expressar. Apenas assim eu poderia, ao mesmo tempo, "Ter todas as opiniões/ Ser sincero contradizendo-me e traindo-me a cada minuto".


retirado do orkut de Marcus_Neme - Fernando Pessoa - Fake

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