segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O VERDE EM CIMA DO MURO

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O Partido Verde amarelou. Ficou em cima do muro, depois de fazer um grande suspense, colocar propostas escritas para os dois candidatos da direita e prometer tomar uma decisão neste domingo, 17. Mas amarelou.

     A sua decisão foi não tomar nenhuma decisão. Fez-se de desentendido – embora tenha Caetano e Gil que são entendidos e deverão apoiar Dilma.

     Assim como grande parte dos seus membros. Com essa posição, aparentemente imóvel, o PV dá o seu apoio ao PT.

     A diferença entre os dois partidos é uma letra na sigla. É claro que não oficialmente, mas vocês poderão observar a diferença pró-Dilma nas próximas pesquisas de opinião. Ao amarelar, o verde dá o seu apoio à vitória do cor-de-rosa que se finge de vermelho.

     As eleições, portanto, estão decididas. Votar ou não votar no dia 31 não fará nenhuma diferença. Cartas na mesa e cartas marcadas.

     O PV agora é Marina e Marina cedeu. Mesmo fazendo críticas aos dois lados, sabe-se da sua verdadeira posição política: em cima do muro, para ver de que lado bate o sol.

     O Partido Verde nunca teve nenhuma ideologia. Parece temer essa palavra. É um partido ecológico, conforme se supõe pelo nome. Mas defesa da ecologia não é nenhuma ideologia – é um dever de todos, independente de filiação partidária.

     Se vivêssemos em um país que priorizasse a educação não seria necessário nenhum partido verde ou de qualquer outra cor para sabermos de nossos deveres em relação à natureza. Ou seja, os nossos deveres em relação a nós mesmos, que fazemos parte da natureza.

     O Partido Verde é um partido de ondas, ou da onda. De surfistas. Fala em terceira via, mas não a define; diz-se ecológico, mas não defende a reforma agrária. Sequer fala em povo, porque o ignora. É o partido da classe média descontente, que votaria em branco por preguiça – ou falta de consciência – de anular o voto.

     Agora elegerá a Dilma – também por preguiça ou falta de consciência para se posicionar politicamente.

     Na declaração de neutralidade de Marina há uma frase que diz que recomendar o voto em branco ou o voto nulo seria a mesma coisa. Somente por essa frase já se percebe a inconsciência política.

     O voto em branco é o voto daqueles que não se preocupam com nada nem com ninguém; o voto nulo é um voto de protesto.

     Mesmo que a Lei Eleitoral preveja igualdade entre os dois tipos de voto, considerando-os inválidos, há uma gigantesca diferença qualitativa.

     O voto nulo diz “Não!” ao sistema; o voto em branco diz “Tanto faz...”.

     A decisão de neutralidade do PV parece-se mais com o voto em branco. Macunaímico.

     Um partido que não se posiciona tem muito pouco de partido. Nem frio nem quente – é morno. E quem gosta do que é morno são as pessoas mornas, indecisas, que vêem a vida sob um prisma pálido e postiço.

     Em matéria anterior: “OS NOMES DOS BOIS” (http://fausto-diogenes.blogspot.com/2010/10/o-nome-dos-bois.html#links), eu já previa essa decisão indecisa do PV. Melhor, eu creditava apenas a Marina a neutralidade que ajudaria o PT.

     Por todas as razões do seu passado e pelas pressões que agora vem sofrendo. Mas acreditava, também, que seria um voto isolado e que o PV, enquanto partido político, tomaria alguma posição. Porque neutralidade não é posição, é comodismo.

     Embora não tenha votado na Marina, acredito que muitos que o fizeram decepcionaram-se com a sua atual postura disforme; e mais ainda com o PV.

     Além do quê, o PV confundiu-se com o voto dos evangélicos, por obra e graça de Marina, sua líder, que é evangélica, fugindo de sua principal força, que é a da defesa da Natureza – em sua ingênua naturalidade pagã.

     Não vejo futuro político nem para a pessoa de Marina Silva nem para o seu atual partido.

     O verde em cima do muro costuma fenecer, por falta de profundidade em suas raízes. No máximo, transforma-se em musgo, sem flores e com o órgão reprodutor escondido.

Fausto Brignol.

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