segunda-feira, 12 de abril de 2010

A lógica da abundância - AUGUSTO DE FRANCO

Tempo estimado de leitura : 4 minutos
Texto publicado originalmente na Escola-de-Redes em 06/02/09


Uma das coisas mais bacanas das redes sociais distribuídas
é a chamada “lógica da abundância”. Dizendo de outra
maneira, de uma perspectiva menos estrutural e mais
processual: se você não produz artificialmente escassez
quando se põe a regular qualquer conflito, produz rede
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(distribuída); do contrário, produz hierarquia
(centralização).
Os problemas que se estabelecem a partir de divergências
de opinião são – em grande parte – introduzidos
artificialmente pelo modo-de-regulação. Por exemplo,
queremos escolher 5 pessoas para uma função qualquer,
mas 10 pessoas estão postulando. Problema? Que nada!
Basta escolher as 10. Quem disse que teriam que ser
apenas 5? Essa determinação está, por acaso, nos “Dez
Mandamentos”? Isso só será um problema se nos
tornarmos escravos dos estatutos e regimentos: sim, em
algum lugar foi definido que teriam que ser 5 pessoas, mas
e daí? Qual o problema de mudar essa definição?
Ah! Mas é muita gente, não cabe na sala, vai dificultar o
processo de decisão... Todas essas são, é óbvio, desculpas
esfarrapadas para produzir artificialmente escassez. Não
cabe na sala? Arrumamos uma sala maior ou fazemos um
rodízio de quem entra e quem fica fora de cada vez. Vai
dificultar o processo de decisão? Criamos duas instâncias e
redefinimos as responsabilidades pelas funções.
O fato é que somente em estruturas hierárquicas essas
coisas são realmente problemas. Porque nessas estruturas
o que está em jogo não é a funcionalidade do organismo
coletivo e sim o poder de mandar nos outros, quer dizer, a
capacidade de exigir obediência ou de comandar e controlar
os semelhantes.
Quanto mais distribuída for uma rede, mais a regulação que
nela se estabelece pode ser pluriarquica. Uma pessoa
propõe uma coisa. Ótimo. Aderirão a essa proposta os que
concordarem com ela. E os que não concordarem? Ora,
bolas, os que não concordarem não devem aderir. E
sempre podem propor outra coisa. Os que concordarem
com essa outra coisa aderirão a ela. E assim por diante.
O papel dos administradores das ferramentas de
netweaving usadas em uma rede não é o de chefes, nem
mesmo o de líderes. Eles devem ser netweavers, não
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coordenadores. Nem sempre um netweaver é a pessoa
mais importante. Tem os hubs. Tem os inovadores. Todos
esses papéis são tão os mais importantes em uma rede do
que o de netweaver.
Muitas vezes os administradores de sites e grupos em uma
plataforma interativa como o Ning não cumprem nem
mesmo o papel de netweavers. São apenas pessoas que
tomaram a iniciativa de abrir um site, formar um grupo,
colocar um tema em discussão em um fórum ou marcar um
evento. Quem deve aderir a essas iniciativas? Quem quiser.
E quem não quiser? Quem achar que não é bem assim, que
poderia ser melhor “um pouquinho”, que o desenho não
está adequado, que a proposta está equivocada etc., pode
sempre dizer isso para as pessoas que tomaram a
iniciativa.
E se não adiantar, se essas pessoas insistirem em manter o
que propuseram? Ora, nesse caso, também não deveria
haver o menor problema. Quem não está totalmente
satisfeito ou confortável com o que foi proposto, pode
propor outra coisa.
Vamos pegar o nosso próprio exemplo, o da Escola-de-
Redes. Aqui nunca se admite a votação como método de
regular majoritariamente qualquer dilema da ação coletiva.
E quando há discordâncias de opiniões, como fazemos?
Ora, não fazemos nada! Por que deveríamos fazer alguma
coisa? Viva a diversidade!
Se você estabelece alguma coisa a partir da votação, cai
numa armadilha centralizadora ou hierarquizante. Produz
“de graça” escassez onde não havia.
Vamos imaginar, por hipótese, que exista alguém que não
esteja muito contente com a maneira como o administrador
de algum grupo ou do próprio site da Escola-de-Redes está
conduzindo a coisa. O que essa pessoa pode fazer, além de
externar sua opinião e colocá-la em debate?
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Ora, no limite, essa pessoa descontente pode abrir uma
nova “rede” no NING (é fácil e gratuito) e chamá-la de
Escola de Redes (acrescentando, por motivos técnicos –
para satisfazer exigências do sistema, se não quiser lançar
mão de outro – um diferencial designativo qualquer, como
‘Escola de Redes 2’, ou Escola de Redes B’). Ela tem toda a
liberdade – e legitimidade – para fazê-lo. Se mantiver os
objetivos (investigação sobre redes sociais) e os requisitos
organizacionais da escola (topologia distribuída), não será
outra coisa, senão a Escola de Redes. E quem vai aderir?
Quem quiser.
A rigor, cada nodo já é uma outra-e-mesma escola. Cada
nodo pode, se assim desejar, abrir seu próprio site no NING
(ou em outra plataforma interativa qualquer) ao invés de
figurar como um grupo aqui.
Considerando, porém, a aceitação geral desta Escola-de-
Redes e o seu nível de atividade (relativamente alto em
vista do pouco tempo de existência), tudo indica que ainda
é melhor ficar por aqui. Um dia, entretanto, pode não ser.
Mas o mundo não vai cair por causa disso.
A Escola de Redes não é uma organização se expandindo e
sim uma idéia se disseminando. Como a vida – na bela
imagem de Lynn Margulis – ela não se apossa do globo pelo
combate e sim pela formação de redes. No plural.
Foi pensando nisso que escrevi, no segundo semestre do
ano passado (2008), o texto “Articule você também uma
escola de redes”.

FONTE : http://www.escoladeredes.ning.com

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