(...)Já em 1995, logo no início, portanto, da popularização da Internet, Kaysing saiu do ostracismo afirmando que todas as idas à Lua, começando pela histórica façanha transmitida ao mundo em 20 de julho de 1969, assistida por 600 milhões de terráqueos embevecidos, não passaram de uma enorme fraude da NASA. A gloriosa foto da pegada em solo lunar seria meramente uma mentira desenhada no deserto. Em vez da Lua, os astronautas teriam pisado nas areias de Nevada, não por acaso na mesma área apontada pelos ufólogos como sede de uma base governamental subterrânea ultra-secreta (Área 51) para esconder e testar naves extraterrestres acidentadas. Alguma novidade nisso?
Não. Desde o final da década de 1970 a NASA tem sido obrigada a conviver com a desconfiança e rechaçar seus detratores, despendendo um tempo precioso com explicações elementares. E quem mais contribuiu para isso, involuntariamente ou não, foi a própria indústria cinematográfica de Hollywood – que paradoxalmente tanto alimentou o imaginário e estimulou a ida do homem ao espaço nas décadas anteriores – ao lançar em 1978 o filme Capricorn One (Capricórnio Um), do diretor Peter Hyams. Apesar do roteiro e da produção fracos e dos personagens não muito bem caracterizados, os efeitos visuais e os argumentos soaram convincentes pelo menos para uma parcela do público que ficou encafifada com a história da missão tripulada a Marte que, naquela fase já não tão quente da Guerra Fria, é encenada em um estúdio pela NASA para enganar a opinião pública. Depois que a missão real falha, saindo fora do previsto, agentes de setores obscuros do governo – antecipando o clima de Arquivo X, série que, aliás, muito contribuiu para semear a paranóia e conferir “credibilidade” e “seriedade” a todo tipo de “conspirações” – entram em cena para caçar e assassinar implacavelmente os astronautas e impedirem que revelem a verdade ao povo.
Os convictos defensores da teoria da farsa, em suma, alegam que na época a NASA não tinha capacidade técnica (!) para alcançar a Lua; em contrapartida, os EUA, em desvantagem na corrida espacial – desde que os soviéticos colocaram o primeiro satélite artificial em órbita em 1957 e o primeiro homem no espaço em 1961 –, às voltas com a Guerra Fria – e amargando fracassos políticos como a desastrosa invasão da Baía dos Porcos em Cuba e a prolongada guerra no Vietnã, tinham razões políticas de sobra para ratificar sua supremacia tecnológica e precisavam desesperadamente de um feito heróico marcante como alcançar a Lua para vencer mais uma batalha contra a ex-União Soviética e por extensão o comunismo. Colocar um homem na Lua era menos um feito histórico do que propriamente uma forma de ratificar a supremacia norte-americana para o resto do mundo, deixando patente que não existia país mais poderoso na face da Terra. Estrategicamente, era por demais importante que as palavras de Kennedy se tornassem reais.
Entre a leva de suspeitas, as que se referem à atmosfera lunar são as mais intrigantes. Se há vácuo, por que a bandeira norte-americana aparece tremulado nas fotos? Se não há atmosfera e o céu é preto, por que as fotos não mostram um horizonte de estrelas? Se as imagens foram feitas em pontos separados por quilômetros de distância, por que sempre mostram o mesmo lugar? Além disso, correm rumores de que o incêndio na nave Apollo 1, que matou três astronautas, foi uma ação criminosa para calar Gus Grissom (morto junto dos colegas Roger Chaffee e Ed White), que ameaçava contar toda a verdade sobre a farsa do projeto espacial.
Ditas e colocadas dessa forma, para um leigo tais questões soam de fato bastante convincentes. Muitas outras dúvidas lançadas na Internet soam mais convincentes ainda. Não somos os mais habilitados a respondê-las, ainda mais uma por uma, o que ocuparia dezenas de páginas de cansativas e áridas explicações técnicas de físicos, químicos, engenheiros, especialistas em óptica, fotografia etc. e demandaria uma inútil perda de tempo, já que provavelmente nem assim os negadores da Lua e seus acólitos, dispostos a teimarem renitentemente em suas posições, ficariam inteiramente satisfeitos, imbuídos que estão das imagens e dos símbolos do pensamento ingênuo e das aparências sensíveis fornecidas pela experiência espontânea que constituem intransponíveis “obstáculos epistemológicos”, termo cunhado pelo filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962) na década de 1930, que faz referências àquelas certezas (deduzidas tanto do saber comum como também do saber científico) tão arraigadas que tendem a impedir toda ruptura ou descontinuidade no crescimento do saber científico e, por conseguinte, constituem obstáculos poderosíssimos para a afirmação de novas verdades. Eis porque Bachelard preconiza uma estratégia do corte epistemológico, sendo o filósofo o que trabalha na retificação do saber.(...)
*Cláudio Tsuyoshi Suenaga
Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis
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