sexta-feira, 17 de julho de 2009

HILDA HILST

É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.



Alcoólicas (1990)


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Demora-te sobre a minha hora.

Antes de me tomar, demora.

Que tu me percorras cuidadosa, etérea

Que eu te conheça lícita, terrena



Duas fortes mulheres

Na sua dura hora.



Que me tomes sem pena

Mas voluptuosa, eterna

Como as fêmeas da Terra.



E a ti, te conhecendo

Que eu me faça carne

E posse

Como fazem os homens.



Da morte. Odes mínimas. (1980)

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