Num episódio claríssimo, em que os países-membros concordam totalmente quanto ao único desfecho aceitável, ambas não conseguem enquadrar a pequena Honduras.
Tendo ou não o presidente deposto Manuel Zelaya cometido os 18 crimes de que os golpistas o acusam, o certo é que não foram seguidos os trâmites legais para sua exclusão do poder, nem lhe deram oportunidade para apresentar sua defesa.
Então, cabe à ONU e à OEA imporem, até com o envio de tropas, sua recondução ao poder.
Aí, se o Congresso e a Justiça tiverem contas a acertar com ele, que o façam pelos caminhos apropriados.
Especula-se sobre uma antecipação da eleição para presidente, já aceita pelo chefe do governo golpista Roberto Micheletti. Se a OEA e a ONU engolirem esta solução, é melhor fecharem as portas de uma vez por todas, poupando ao mundo o custo de duas burocracias inúteis.
É óbvio que, num pleito realizado, digamos, dentro de 30 dias, sem a participação de Zelaya na campanha e sob controle dos golpistas, acabará sendo eleito um candidato do agrado dos últimos.
Esta possibilidade só faria sentido se o acordo fosse diferente, com Zelaya reassumindo a presidência para governar com plenos poderes até que passasse a faixa ao substituto.
Não se sabe se ele aceitaria a antecipação da eleição e consequente encurtamento do seu mandato. Mas Micheletti se mantém intransigente quanto à imediata prisão de Zelaya, caso ele retorne a Honduras.
Da forma como está colocada, seria uma fórmula de golpe branco, garantindo o afastamento de um presidente indesejável e criando condições as mais favoráveis para os golpistas fazerem seu sucessor. Inaceitável.
Quanto a Zelaya, continua patético: prometeu retornar ao país nesta quinta-feira (2) e refugou.
Provavelmente incomodado com o péssimo juízo que as pessoas perspicazes fizeram da sua falta de reação quando os golpistas lhe impuseram o desterro em pijamas, resolveu atribuir-se uma virilidade ausente nos atos, ao relatar sua prisão:
"'Fui retirado da minha casa de forma brutal, sequestrado por soldados encapuzados que me apontavam rifles.Ou seja, largou o celular e desandou a fazer discursos fora de hora. Depois, acompanhou os encapuzados sem exigir, "em forma muito audaz", que lhe deixassem ao menos vestir as calças. Pobre coitado!
"Diziam: 'se não soltar o celular, atiramos'. Todos apontando para minha cara e o meu peito. [...] Em forma muito audaz eu lhes disse: 'se vocês vêm com ordem de disparar, disparem, não tenho problema de receber, dos soldados da minha pátria, uma ofensa a mais ao povo, porque o que estão fazendo é ofender o povo'."
Também lhe faltou audácia para honrar a palavra, desembarcando na sua pátria para o que desse e viesse, ao lado dos representantes da ONU e da OEA, além de celebridades (parece que os presidentes inicialmente citados também refugaram...).
É óbvio que poderia ser preso. E é igualmente óbvio que seria um sapo grande demais para as duas organizações engolirem. Teriam de finalmente se mexer, tomando providências de verdade.
Para abortar um golpe de estado e conseguir a vitória final contra seus inimigos, Getúlio Vargas recorreu ao suicídio e à carta famosa. Tinha grandeza.
Ao próprio Hugo Chávez, inspirador dos propósitos continuístas de Zelaya, não faltaria coragem para fazer o que se impunha, arcando com os riscos inerentes.
Então, se Zelaya não serve para calçar as botas do Chávez, não deveria tentar seguir-lhe os passos. É simples assim.
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