Novo
Linchamento Judicial nos EEUU
Carlos A.
Lungarzo
AIUSA 9152711
Em Jackson, no estado de Georgia, no Sul profundo americano, região
chamada de Biblia Belt (cinturão da
Bíblia), por causa da superstição e o fanatismo místico, e seu profundo e
visceral racismo, um afrodescendente de 42 anos, Troy Anthony Davis (1968-2011) foi executado na madrugada da 5ª
feira 22 de setembro, com uma injeção letal, no presídio da cidade.
Davis sofreu o sadismo doentio do sistema penal-judicial americano,
representado por 20 anos de espera por sua execução, enquanto todas as
protestas de milhões de pessoas no planeta, e os sucessivos recursos eram
ignorados. Como sempre, o réu é submetido a um último ato de cinismo e
crueldade. Em épocas ainda piores que as atuais, os esposos comunistas Julius e
Ethel Rosenberg (1953) foram eletrocutados com eletrodos mal grudados, sem o
uso do fluído condutor, para que a corrente passasse lentamente, e suas cabeças
pegassem fogo quando ainda estavam vivos. Hoje, quando se usa o “humanitário”
método da injeção, isso não é possível. Então, os juízes demoraram 4 horas o
momento da execução, no intuito de que o prisioneiro se desesperasse. Mas isso
não aconteceu.
De maneira calma e corajosa, Troy esperou a morte, olhando nos olhos
dos parentes do policial cujo homicídio se lhe atribui sem nenhuma prova, e
apenas com testemunhas que acabaram se retratando (7 de 9). Nada que italianos e brasileiros não
conheçam. Com o olhar fixo, Troy disse calmamente que ele era inocente, e
foi levado à sala onde se lhe aplicou a injeção.
Como os aparatos policiais e militares, especialmente em países
violentos, procuram apenas vingança, os “espetadores” que assistiram o morboso
espetáculo devem ter pensado que não importava se Troy era culpável ou não. Ele pagaria pelo verdadeiro assassino. Veja.
Troy foi defendido durante anos por Anistia Internacional, e celebridades do mundo todo, incluindo o
ex-presidente Carter e o Papa Bento 16, pediram seu indulto. No Brasil, o caso
passou despercebido. A continuação, transcrevo o comunicado da Anistia.
Comunicado Anistia Internacional
Segue o texto oficial da Anistia Internacional, que reproduz integramente o documento original de nossa organização. Por falta de tempo, tenho usado a tradução do jornal Expresso, de Portugal, que parece correta. Os grifos e os textos entre [] são meus.
Início do Texto
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EUA executaram Troy Davis
Amnistia Internacional
15:33 Quinta
feira, 22 de setembro de 2011
|
A Amnistia Internacional condenou a decisão das autoridades do Estado da Geórgia de executarem o prisioneiro no corredor da morte, Troy Davis.
Troy Davis, de 42 anos, que se encontrava no corredor da morte
desde 1991, foi executado por injeção letal na prisão do Estado da Geórgia em
Jackson, no dia 21 de Setembro, apesar das sérias dúvidas em torno da sua
condenação.
No mesmo dia, o Irão
enforcou publicamente um jovem de 17 anos condenado pelo homicídio de um
popular atleta, apesar das proibições internacionais sobre a execução de
adolescentes, enquanto a China executou um paquistanês condenado por
tráfico de drogas apesar dos crimes de droga não se incluírem nos crimes
"mais graves" do direito internacional.
"Este é um dia triste
para os direitos humanos em todo o mundo. Ao executarem estes indivíduos, estes
países estão a mover-se contra a corrente global da abolição da pena de
morte", afirmou Guadalupe Marengo, Vice-diretor da Amnistia Internacional
para a América.
"Os países que mantêm a
pena de morte defendem muitas vezes a sua posição reivindicando que o uso que
fazem da pena de morte é consistente com a legislação de direitos humanos
internacional. As suas ações no dia 21 de Setembro contradizem flagrantemente
estas reivindicações", afirmou a Vice-diretora.
Os ativistas da Amnistia
Internacional fizeram uma extensa campanha contra a pena de morte. Nos últimos
dias, foram enviadas, às autoridades da Geórgia, quase um milhão de assinaturas
em nome de Troy Davis, apelando para comutarem a sua sentença de morte.
Foram realizadas vigias e eventos em aproximadamente 300 locais por todo o
mundo.
Troy Davis foi condenado à morte em 1991,
pelo homicídio do polícia Mark Allen Macphail em Savannah, no estado da
Geórgia. O caso contra Troy Davis baseou-se principalmente em declarações de
testemunhas. Desde o seu julgamento em 1991, sete das nove testemunhas chave
retiraram ou alteraram o seu testemunho, algumas alegando coerção policial.
O adolescente iraniano Alireza
Molla-Soltani foi enforcado na manhã de 21 de Setembro diante de uma
multidão na cidade de Karaj. Foi condenado à morte no mês anterior por
apunhalar Ruhollah Dadashi, um popular atleta, durante uma disputa na sequência
de um acidente de viação a 17 de Julho. O jovem de 17 anos disse que entrou em
pânico e apunhalou Ruhollah Dadashi em legítima defesa depois do atleta o
atacar num local escuro, de acordo com os relatos dos media locais.
Zahid Husain Shah, detido em 2008 por tráfico de drogas, foi
executado na China por injeção letal no dia 21 de Setembro.
No mesmo dia, Lawrence
Brewer foi também executado em Huntsville, no Texas. Foi condenado à morte
pelo seu papel no homicídio de James Byrd Jr., em Junho de 1998.
A Amnistia Internacional opõe-se à pena de
morte em todos os casos, sem exceção.
"A pena de morte é um
sintoma de uma cultura de violência e não uma solução", acrescentou
Guadalupe Marengo. "Devemos manter a esperança e as execuções angustiantes
levadas a cabo no dia 21 de Setembro devem levar os membros da Amnistia
Internacional e outros ativistas a quererem continuarem a luta contra a
pena de morte".
Para além dos EUA, da China e
do Irão, a campanha da Amnistia Internacional para a abolição da pena de
morte foca-se na Bielorrússia.
A Amnistia Internacional está
a trabalhar com o Centro de Direitos Humanos Viasna, uma Organização Não
Governamental, na Bielorrússia [no Brasil conhecida por seu nome em inglês, Belarus],
apelando ao Presidente Lukashenko para suspender imediatamente as execuções e
comutar as sentenças de todos os indivíduos que se encontram no corredor da
morte.
[NOTA minha: Para acessar o site de Viasna,
na Belarus, clique no nome desta ONG. O texto está em inglês.]
Desde que o país declarou a
independência em 1991, estima-se que 400 pessoas tenham sido executadas na
Bielorrússia. Depois de um ano sem execuções, as autoridades bielorrussas
executaram dois homens em 2010 e condenaram três pessoas à morte e outros dois
homens foram alegadamente executados entre 14 e 19 de Julho de 2011, apesar de
não ter havido confirmação oficial das suas mortes. A Bielorrússia é o ultimo
país na Europa e na antiga União Soviética que ainda realiza execuções.
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Final do Texto
As nove testemunhas disseram inicialmente que
tinham visto Troy atirando no policial, mas, vários anos depois, quando a causa
foi julgada em segunda instância, sete
deles reconheceram que tinham sido ameaçados
e extorquidos pela polícia para declarar contra Davis. Para que o
julgamento parecesse normal, o juiz e o promotor escolheram mais de metade de
jurados negros, mas estes
confessaram depois que, por causa da perseguição racial no Sul americano, e a
situação indefensa de afroamericanos pobres, eles votaram pela condenação por
causa da pressão e as ameaças do promotor e os juízes.
Diretos Humanos nos EEUU
Quando se
criou o estado americano, composto pelas colônias originais, os “pais da
pátria” deixaram claro tanto em seus discursos individuais como na Declaração
da Independência, que a nova nação estaria regida por princípios básicos: a crença em Deus (um lema que aparece nas
notas de dólar), a supremacia da propriedade
privada ilimitada sobre qualquer outro direito, e o privilégio de submeter pelas armas quaisquer outros
povos ou etnias. Isto teve sua versão mais explícita na teoria do Destino Manifesto, de 1985, que
justificava a agressão americana em qualquer lugar que fosse acessível a suas
tropas.
Essa visão
totalitária planejada no momento mesmo da criação do estado não possui
equivalentes. Outros estados notoriamente racistas, como a África do Sul do apartheid, e o Estado de Israel,
desenvolveram seu racismo na medida em que avançavam seus projetos de agressão
contra etnias maioritárias (negras e árabes, respectivamente), mas o projeto
racista não foi formulado de maneira explícita na fundação desses países.
Além disso,
a força econômica e militar dos EEUU tem tornado muito difícil a luta contra a
violação dos direitos humanos básicos. A formação de grandes grupos sociais
fundamentalistas, a exaltação do colonialismo e do racismo, e a poderosa
propaganda de ódio da mídia, mantiveram como únicos direitos humanos o porte de armas e a livre expressão. Embora o segundo seja um direito legítimo, ele foi
pensado para combinar os interesses dos magnatas da mídia. Aliás, toda norma
jurídica, sem exceção, pode ser violada,
como mostra o caso dos prisioneiros de Guantánamo.
Enquanto
certos países são estigmatizados por seu terrorismo de estado e a comissão de
horríveis genocídios, como Ruanda e Sudão, os EEUU são vistos com normalidade
por grande parte da população mundial que não sofreu suas invasões, pois,
afinal, são brancos, cristãos e ricos. Além disso, centos de milhões de pessoas
possuem negócios, nexos acadêmicos e técnicos e outros tipos de parceria como
os americanos.
A citação de
Anistia Internacional do terrível
crime contra Troy está acompanhada de relatos sobre execuções no Irão, na China
e na Belarus, e outro de um americano. Isto não é por acaso. Os EEUU estão no
terceiro lugar de terrorismo de estado “legalizado” no planeta. Embora seu
exercício da morte e a tortura sejam menores que em alguns países de Ásia e
América do Sul, a impunidade que significa criar
leis para cometer esses atos coloca grande parte do planeta em risco de
sofrer genocídios derivados das invasões americanas e, consequentemente,
tortura, como em Abu Graib, e execuções, como as que se praticam quase
continuamente nos estados do Sul e em alguns outros.
Para algumas
sociedades sul-americanas, mergulhadas em problemas só nacionais, a morte de
Troy Anthony Davis nem foi percebida. Entretanto, nos países mais organizados
do mundo, o fato provocou uma onda de terror e repúdio.
Milhares de pessoas se estão organizando
contra a pena de morte em todo o planeta. Convêm lembrar que o
Brasil não tem pena de morte para civis desde a ditadura, mas nunca foi derrogada a infame e paleolítica
lei que permite aplicar a pena de morte em caso de Guerra. Talvez, Brasil
nunca mais entrará em nenhuma guerra, mas, mesmo assim, este privilégio dos
militares para decidir sobre as vidas humanas em nome da guerra, é uma mácula
terrível para um país. A Argentina, apesar de sua proclamada política de
Direitos Humanos, somente derrogou a pena de morte em caso de Guerra há dois ou
três anos.
Tudo isto
deve nos fazer refletir sobre a barbárie que ainda vivemos, e começou a ser
lentamente combatida desde 1945. O que falta é muito mais do que já se fez. O mais
importante é que ONU produza uma convenção contra a Pena de Morte, assim como
existe uma convenção contra a tortura.
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