sábado, 15 de agosto de 2009

Ruth Escobar ( Enciclopédia Wikipédia )

Maria Ruth dos Santos Escobar (Porto, 31 de março de 1936) é uma atriz e produtora cultural luso-brasileira.

A atriz e produtora cultural Maria Ruth dos Santos Escobar, mais conhecida como Ruth Escobar, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em 1936.

Ruth Escobar é uma das notáveis personalidades do teatro brasileiro, empreendedora de muitos projetos culturais especialmente comprometidos com a vanguarda artística.

Nascida em Portugal, Ruth Escobar veio para o Brasil em 1951. Anos depois, casou-se com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar e juntos, em 1958, partiram para a França, onde fez cursos de interpretação. Ao retornar para o Brasil, montou companhia própria, a Novo Teatro, em parceria com o diretor Alberto D'Aversa. Protagonizou "Antígone América", texto do marido, em 1962, após algumas experiências de palco, como "Mãe Coragem e Seus Filhos", de Bertolt Brecht, em 1960, e "Males da Juventude", de Ferdinand Bruckner, em 1961, ambas dirigidas por D'Aversa.

Em 1964, decidiu empreender um teatro popular e, para tanto, fez adaptar um ônibus que se transformou em palco, levando espetáculos à periferia de São Paulo, iniciativa intitulada de Teatro Popular Nacional. Ali, Antônio Abujamra dirigiu "A Pena e a Lei", de Ariano Suassuna; Silnei Siqueira encenou "As Desgraças de uma Criança", de Martins Pena, entre outros, encerrando suas atividades em 1965.

Em 1964, inaugurou também sua própria casa de espetáculos, orientada para a vanguarda artística. Casou-se com o arquiteto Wladimir Pereira Cardoso que se tornou cenógrafo das produções da companhia. Entre outras, foram ali encenadas a "A Ópera dos Três Vinténs", de Bertolt Brecht e Kurt Weill, com direção de José Renato, 1964; "O Casamento do Sr. Mississipi", de Dürrenmatt, dirigida por Jô Soares, 1965; "As Fúrias", de Rafael Alberti, outra encenação de Abujamra, em 1966; "O Versátil Mr. Sloane", de Joe Orton, tendo Antônio Ghigonetto como diretor, em 1967; e "Lisístrata", de Aristófanes, encenação de Maurice Vaneau, em 1968.

Uma iniciativa ousada seguiu-se, em 1968, com a vinda para o Brasil do franco-argentino Victor Garcia, convidado para a montagem de "Cemitério de Automóveis", adaptação do próprio Garcia para a obra de Fernando Arrabal, encenada anteriormente em Dijon, 1966; e em Paris, 1968, ambos na França. Uma antiga garagem na Rua 13 de Maio foi totalmente remodelada e a encenação, de uma beleza visceral e chocante, destacou Ruth Escobar como atriz e produtora de grande projeção.

Seu prestígio aumentou, em 1969, com a produção de "O Balcão", de Jean Genet, deslumbrante encenação de Victor Garcia cenografada por Wladimir Pereira Cardoso. A produção arrebatou todos os prêmios importantes do ano e Ruth Escobar foi agraciada com o troféu Roquette Pinto para a personalidade do ano.

Novas polêmicas cercaram-na com as produções de "Missa Leiga", de Chico de Assis, com direção de Ademar Guerra, em 1972, proibida de utilizar a Igreja da Consolação como palco e montada numa fábrica; e "A Viagem", adaptação cênica do poema Lusíadas, de Luís de Camões, por Carlos Queiroz Telles, cuja estréia contou com a presença do primeiro ministro de Portugal, Marcelo Caetano.

Nos anos subseqüentes, Ruth Escobar ficou à frente do Centro Latino-Americano de Criatividade, projeto abortado por falta de recursos, bem como centralizou no seu teatro importantes manifestações contra o regime militar, inclusive a fundação do Comitê da Anistia Internacional.

Com o 1º Festival Internacional de Teatro em 1974, Ruth Escobar deu outro passo ambicioso: apresentar periodicamente em São Paulo o melhor da produção cênica mundial. A cidade pôde conhecer, entre outros, o trabalho de Bob Wilson (Time and Life of Joseph Stalin, que a Censura obrigou a mudar para Time and Life of David Clark), a excepcional criação de Yerma, de Victor Garcia, com Nuria Espert; além dos encenadores Andrei Serban e Jerzy Grotowski.

Em 1974, centralizou a produção para circuito internacional de "Autos Sacramentales", encenação de Victor Garcia baseada em Calderón de la Barca. Estreado em Shiraz, Pérsia, a realização triunfou na Bienal de Veneza, Itália, em Londres e em Portugal.

Em 1976, outro projeto de fôlego - a Feira Brasileira de Opinião - reuniu textos dos mais destacados dramaturgos da época, mas foi interditado pela Censura, o que a obrigou a arcar com os prejuízos da montagem em andamento.

No 2º Festival Internacional, de 1976, chegaram ao país o grupo catalão Els Joglars, com Allias Serralonga; os City Players, do Irã, com uma inusitada montagem de "Calígula", de Albert Camus; a companhia Hamada Zenya Gekijo, do Japão; o grupo G. Belli, da Itália, com Pranzo di Famiglia, dirigida por Tinto Brass, entre outros.

Em 1977, Ruth Escobar resolveu voltar à cena. Para interpretar a exasperada Ilídia de "A Torre de Babel", trouxe a São Paulo o autor Fernando Arrabal para dirigi-la. Produziu "A Revista do Henfil", de Henfil e Oswaldo Mendes, sob a direção de Ademar Guerra, em 1978; no ano seguinte, Ruth Escobar voltou à cena em "Caixa de Cimento", encenação do franco-uruguaio Juan Uviedo cheia de equívocos; ainda em 1979, produziu "Fábrica de Chocolate", texto de Mario Prata que aborda a tortura.

Entre as grandes atrações do 3º Festival Internacional, em 1981, estavam o grupo norte-americano Mabu Mines; o belga Plan K; o La Cuadra, de Sevilla; além do uruguaio Galpón e do português A. Comuna.

Nos anos 80, Ruth Escobar afastou-se parcialmente do teatro; foi eleita deputada estadual para duas legislaturas e dedicou-se a projetos comunitários. Em 1994, voltou aos festivais internacionais, então mais discretos, porém ampliando sua abrangência ao trazer grupos de teatro, de dança, de formas animadas ou que unem todas essas linguagens em uma manifestação híbrida, como o Aboriginal Islander Dance Theatre; o Bread and Puppet; o Cricot 2; os Dervixes Dançantes. A quinta edição, de 1995, acentuou a forte tendência à diversificação ao trazer para o país a dança de Carlota Ikeda e o grupo japonês Dumb Type, o russo Levdodine com Gaudeamus, e Michell Picolli, entre outros. Em 1996, Phillipe Decoufflé; o grupo Dong Gong Xi Gong, de Taiwan; e Joseph Nadg foram os destaques da 6ª edição.

Em 1987, Ruth Escobar lançou "Maria Ruth - Uma Autobiografia", contando parte da sua trajetória, na qual a produção cultural se mescla, de modo indissolúvel, à sua atuação social, voltada sobretudo para o inconformismo com as regras estabelecidas.

Em 1990, retornou aos palcos, numa encenação de Gabriel Villela, de "Relações Perigosas", de Heiner Müller.


[editar] Carreira

Como intérprete

* 1959 - Festival Branco e Preto (também diretora)
* 1960 - Mãe Coragem
* 1961 - Os Males da Juventude
* 1962 - Antígone América
* 1964 - A Ópera dos Três Vinténs
* 1964 - A Farsa do Mestre Patelin
* 1964 - As Desgraças de uma Criança
* 1965 - Soraia Posto 2
* 1965 - Histórias do Brasil
* 1965 - O Casamento do Senhor Mississipi
* 1966 - As Fúrias
* 1966 - Os Trinta Milhões do Americano
* 1967 - O Estranho Casal
* 1967 - O Versátil Mr. Sloane
* 1968 - Roda Viva
* 1968 - Cemitério de Automóveis
* 1968 - Lisístrata
* 1968 - Os Sete Gatinhos
* 1969 - O Balcão
* 1969 - Romeu e Julieta
* 1969 - Os Monstros
* 1971 - Os Dois Cavaleiros de Verona
* 1972 - A Massagem
* 1974 - Capoeiras da Bahia
* 1974 - Festival Internacional de Teatro, 1.
* 1976 - Festival Internacional de Teatro, 2.
* 1977 - Torre de Babel
* 1978 - Revista do Henfil
* 1979 - Fábrica de Chocolate
* 1979 - Caixa de Cimento
* 1981 - Festival Internacional de Teatro, 3.
* 1982 - Irmã Maria Ignácio Explica Tudo
* 1989 - Relações Perigosas
* 1994 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 4.
* 1995 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 5.
* 1996 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 6.
* 1997 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 7.
* 1999 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 8.

Como produtora

* 1959 - Festival Branco e Preto
* 1960 - Antígone América
* 1964 - A Pena e a Lei
* 1964 - A Ópera dos Três Vinténs
* 1964 - As Desgraças de uma Criança
* 1966 - As Fúrias
* 1967 - O Estranho Casal
* 1967 - O Versátil Mr. Sloane
* 1968 - Cemitério de Automóveis
* 1968 - Os Sete Gatinhos
* 1968 - Roda Viva
* 1969 - O Balcão
* 1969 - Romeu e Julieta
* 1969 - Os Monstros
* 1970 - Cemitério de Automóveis
* 1972 - Missa Leiga
* 1972 - A Massagem
* 1972 - A Viagem
* 1973 - Missa Leiga
* 1974 - Autos Sacramentais
* 1974 - Capoeiras da Bahia
* 1974 - Festival Internacional de Teatro, 1.
* 1976 - Festival Internacional de Teatro, 2.
* 1978 - Revista do Henfil
* 1979 - Fábrica de Chocolate
* 1979 - Caixa de Cimento
* 1981 - Festival Internacional de Teatro, 3.
* 1982 - Irmã Maria Ignácio Explica Tudo
* 1989 - Relações Perigosas
* 1994 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 4.
* 1995 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 5.
* 1996 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 6.
* 1997 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 7.
* 1999 - Festival Internacional de Artes Cênicas, 8.
* 2001 - Os Lusíadas

Fontes: Site Itaú Cultural, Site Rolando Boldrin, Site UniRio, Folha de São Paulo.

Bibliografia
FERNANDES, Rofran. Teatro Ruth Escobar: 20 anos de resistência. São Paulo: Global, 1985.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...