No livro “O que é ideologia”, Marilena S. Chauí recorre aos pensamentos de Hegel e Marx para criar uma contradição e explicar o tema. Seu foco é explicar o que é ideologia através da divisão social e do trabalho.
A autora começa o livro com a teoria Aristotélica das quatro causas, definindo o que ela chama de verdade imutável, o fato de não existir causas finais na natureza, e sim apenas no campo da metafísica. A história pode ser examinada sob dois aspectos: do ponto de vista do homem e da natureza. Ela descreve de forma bem detalhada a dualidade existente entre natureza e homem, necessidade racional e finalidade e liberdade.
Na concepção marxista de ideologia, a autora cita as principais determinações que constituem o fenômeno da ideologia, explicando através de exemplos como a ideologia é o resultado da divisão social do trabalho manual e do trabalho material. Segundo a autora, a dialética marxista é materialista e não espiritualista ou idealista; é algo inerte, constituído por relações mecânicas de causa e efeito.
A autonomia também é bastante discutida; a autonomia intelectual (espiritual), a autonomia dos produtores desse trabalho (pensadores) e por fim a autonomia dos produtos desse trabalho (idéias). Assim a ideologia aparece como um instrumento de dominação, uma forma de ilusão criada pela autonomia intelectual que irá dominar o resto da classe social.
Os homens de certa autonomia intelectual, que possuem a teoria, criam através da analise dos fatos sociais históricos, ideias ou representações, que vão de interesse a classe social em que se encontram. Uma vez produzidas, elas são transmitidas às outras classes sociais, de modo que pareça do interesse de todos. Ideias da minoria tornam-se da maioria, e por fim dominantes.
Essas ideias não passam de ilusões criadas pela classe social dominante. Ilusões do que é o trabalho, para o trabalhador, ilusões do que significa a família para o burguês e assim por diante. A palavra ilusão é substituída por ideologia para melhor dominar. A ideologia do trabalho é algo moral, de prestígio e dignidade, enquanto a verdadeira realidade são as horas cansativas de trabalho, o baixo salário e a mais valia. O ideal de família burguesa raramente se encontra nas famílias burguesas, mas essa é a ilusão implantada.
Para Marilena Chauí o papel da ideologia é impedir que a dominação e a exploração seja percebida em sua realidade concreta. Isso está relacionado com o principio do Kitsch, que em essência significa a tentativa de esconder, de varrer para debaixo do tapete aquilo que há de inaceitável e contraditório na existência humana, criando uma ilusão de que tudo é belo e perfeito.
O kitsch pode ser entendido como uma forma de ideologia. Na segunda guerra mundial, os meios de comunicação nos países comunistas eram controlados, de forma que o que se passava era somente o lado bom daquele regime; isso é uma forma de transmitir a ideologia. Ideias criadas por uma minoria e passadas à maioria, de forma que se pareçam ideias universais.
Outro ponto de vista interessante do livro é a forma de se enxergar as coisas; como a ideologia muda dependendo da situação do observador. Sua situação temporal, social, econômica, cultural e intelectual influencia diretamente na decodificação do signo. O símbolo é a ideologia; precisamos desmontá-la até sua situação primaria; o ícone para entende-la.
Uma forma fácil de entender a ideologia é analisando os meios de comunicação e as estratégias de marketing. Um fenômeno de estratégia de marketing muito usado hoje é atribuir em conjunto com a mídia uma ideologia a certa pessoa. Por exemplo, Marilyn Monroe virou símbolo de sensualidade, uma ideologia de toda uma geração. Um grupo seleto composto por publicitários e por pessoas influentes na mídia criam uma idéia do que é sensualidade e difundem através da mídia transformando em uma idéia universal. Isso é possível graças a teoria de opinião pública, em que a mídia decide os assuntos públicos. Mas isso é um assunto para outra discussão.
Marilena de Souza Chauí é historiadora de filosofia brasileira, professora de filosofia política e historia da filosofia moderna, da FFLCH-USP. É mestre (1967, Merleau Ponty e a Crítica do Humanismo), doutora (1971, Introdução à Leitura de Espinosa) e livre docente de filosofia (1977, A Nervura do Real; Espinosa e a Questão da Liberdade) pela USP.
Chauí é escritora de 15 livros além de “O que é ideologia”, e ganhadora de 8 premios. O livro “A Nervura do Real” ganhou três prêmios, entre eles o Prêmio Jabuti, o Prêmio Multicultural Estadão, em 2000 e o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda, em 1999.
(Escrito por Marina Borelli Rolim de Oliveira, estudante do curso de Comunicação Social, com ênfase em Propaganda e Marketing da ESPM).
FONTE: http://marinaborelli.blogspot.com/2009/03/o-que-e-ideologia-marilena-chaui.html
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