terça-feira, 18 de agosto de 2009

A ciência em ação: seguindo Bruno Latour

Por Márcia de Oliveira Teixeira



(...)A despeito das influências nos trabalhos sistematizados por Latour em Ciência em ação, é possível discernir rupturas, em certo sentido, profundas. Dimensões, muito pouco presentes nos estudos da sociologia dos conhecimentos científicos (e tecnológicos), despontam como fundamentais nos trabalhos empíricos da década de 1980. São elas as práticas cotidianas dos laboratórios e os materiais (não-humanos) nelas envolvidos. Torna-se também saliente a influência de outras abordagens sociais, cujas ênfases recaem na perspectiva microssocial (Pickering, 1992), a exemplo do interacionismo simbólico e da etnometodologia. Ciência em ação introduz-se na discussão de um campo de estudos sociais da ciência. Trata-se de um outro programa de estudos, que compartilha referências, preocupações e a rejeição de uma perspectiva disciplinar. Porém, a exemplo dos demais programas, não pode ser entendido como um desdobramento linear e eminente.
Alguns poucos comentários se fazem necessários. As pesquisas sociológicas, ao buscarem o social nos conhecimentos científicos, o fazem em termos da identificação dos interesses de diferentes grupos sociais. A disputa e a associação de interesses, na definição de problemáticas e na legitimação de enunciados científicos, são privilegiadas. A análise pauta-se no contexto sociocultural, na dinâmica das redes sociais que sustentam a produção científica. Todavia, o movimento das redes de interesses sociais são insuficientes para explicar as práticas cotidianas da pesquisa (Callon, 1989b; Pickering, 1992). Autores como Latour (2000; 1979), Law (1989) e Callon (1989a) defendem que o entendimento dos processos sociais de produção da ciência deve comportar o entendimento das práticas realizadas nos laboratórios. É preciso entender as conexões entre o social e o tecnocientífico. Para tanto, salientam a simetria entre o social e a posição dos artefatos, das teorias e dos experimentos na produção da ciência ocidental. Propõem uma análise sociotécnica.
Assim, Ciência em ação pode ser interpretado como tentativa de enfrentamento de dois problemas: os limites da etnografia, respondendo se estudos locais de diferentes processos de produção de fatos tecnocientíficos podem nos dizer algo acerca do fazer científico; e o estabelecimento de um campo de pesquisa capaz de lidar com a dispersão das disciplinas e objetos das abordagens sociais das tecnociências (2000, p. 35).
O primeiro enfrentamento está diretamente associado à proposição de se analisar as práticas cotidianas da pesquisa científica. Estudar as tecnociências a partir de descrições densas dos laboratórios, a exemplo do realizado por Latour e Woolgar (1989) no Instituto Salk. Era preciso relatar o que ocorria nesses espaços, enfatizar o que produziu a diferença entre a ciência ocidental e outras formas de conhecimento, qual seja a manipulação de objetos, os experimentos, a fabricação de artifícios de deslocamento e de inscrição permitindo uma acumulação reflexiva. E aqui se inserem os trabalhos já citados de Latour, Woolgar, Law e Callon marcados pelo acentuado cunho etnográfico. Trabalhos reunidos nos chamados 'estudos de laboratório' (Knorr-Cetina, 1981).
Parte dessa produção aparece como material básico de pesquisa do livro em questão. Uma produção que se apóia em relatos minuciosos para levar a cabo seu objetivo de tratar a ciência do modo como ela acontece, como uma sucessão não-linear de práticas sociotécnicas.(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM :
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702001000200012

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