quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"EUCLIDES DA CUNHA" - ESTRELAS

São tão remotas as estrelas, que

apesar da vertiginosa velocidade da luz, elas se

apagam e continuam a brilhar durante séculos.

Morrem os mundos...Silenciosa e escura,

Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,

Nas luminosas solidões da cultura

Erguem-se, assim, necrópoles sombrias...

Mas, pra nós, di-lo a ciência, além perdura

A vida, e expande as rútilas magias..

Pelos séc'los emfora a luz fulgura

Traçando-lhes as órbitas vazias.

Meus ideais! extinta claridade —

Mortos, rompeis, fantásticos e insanos,

Da minh'alma e revolta imensidade...


E sois ainda todos os enganos

E toda a luz e toda mocidade

Desta velhice trágica aos vinte anos..

Se acaso uma alma se fotografasse

De sorte que, nos mesmos negativos,

A mesma luz pusesse em traços vivos

O nosso coração e a nossa face

E os nossos ideais, e os mais cativos

De nossos sonhos...Se a emoção que nasce

Em nós, também nas chapas se gravasse,

Mesmo em ligeiros traços fugitivos:

Amigo, tu terias com certeza

A mais completa e insólita surpresa

Notando — deste grupo bem no meio —

Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente

Destes sujeitos é precisamente

o mais triste, o mais pálido, o mais feio.

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