DIRETOR DE ANISTIA INTERNACIONAL CRITICA AÇÃO BRASILEIRA CONTRA REUNIÃO DA CIDH DA OEA NO CASO BELO MONTE
Carlos A. Lungarzo
Numa das suas primeiras aparições públicas, o novo
diretor no Brasil de Anistia Internacional, o historiador e cientista
político brasileiro ATILA ROQUE,
manifesta sua decepção pelo boicote do Brasil à audiência da COMISSÃO
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS DA OEA, em que se discute a questão de Belo
Monte, um super empreendimento que antecipa uma espécie de genocídio
tecnológico contra as nações indígenas do Xingu.
Roque faz notar, gentilmente, que esta atitude do
governo "não corresponde ao histórico do Brasil". No intuito de
tornar o mais eficaz e isenta possível a luta pelos direitos humanos, AI
evita sempre se envolver em questões estritamente políticas que não sejam
essencialmente relevantes ao caso em apreço. Entretanto, creio que vale a pena
lembrar que o estado brasileiro participa em quase todas as reuniões
multilaterais para as quais é convocado, mas apenas de maneira formal. Na
prática, está entre os países que menos cumprem acordos sobre direitos humanos,
refúgio, direitos da mulher e da criança, ecologia, etc. Contam-se com os dedos
às vezes que foram aplicadas algumas punições por crimes de tortura e racismo.
Já o número de refugiados do Brasil (menos de 6000) está por baixo do nível 80º
na escala mundial. Brutalidade policial, maltrato de mulheres e crianças,
trabalho escravo não são seriamente inibidos, a tal ponto que nem são
acessíveis estatísticas sobre os casos em que se cometem estes crimes.
Genocídios
rurais e urbanos são quase desconhecidos hoje em dia em Ocidente: casos como
Carandiru, Vigário Geral, Candelária, El Dorado, etc., ocorrem em poucos países
(eventualmente Colômbia e México), e sempre em proporção menor. Uma chacina
numa prisão de Guatemala cobrou 8 vítimas, contra 111 de Carandiru, e o
ministro de justiça deveu fugir o pais, mas foi encontrado com mandato de busca
internacional. O assassinato de Dorothy Stang, e a super-chacina de El Dorado
foram alvo de numerosos truques jurídicos. Autores de crimes do nível dos
aplicados pelo nazismo são promovidos pelo governador de São Paulo para liderar
as forças e choque policial. Todos estes fatos, além de contrários aos direitos
humanos, são também contrários a numerosos acordos que o Brasil assinou.
O Diretor de AI tem enfatizado, corretamente, que
Brasil há subtraído da miséria absoluta uma parte significativa da população,
mas estas políticas sociais, apesar de imprescindíveis, não podem ser
permanentemente usadas para banalizar os direitos humanos e das comunidades.
Apesar da afirmação irônica feita pelo então candidato a presidente Lula em
2002, dizendo que os direitos humanos consistiam em dar três refeições por dia
a cada popular, deve reparar-se que para comer é necessário estar vivo e
saudável, além de ser tratado com dignidade, o que talvez seja considerado um
luxo por alguns políticos.
O Estado Brasileiro aspirou sempre a consolidar sua
hegemonia regional com base nas construções de obras faraônicas que depredaram
em muitos casos os habitat de
populações inteiras, e distorceram radicalmente a ecologia e o clima. Esta
política tem uma antiga base no chauvinismo de Itamaraty, associado com a
paranoia das casernas, que fabricam projetos gigantescos para defender-se da
“cobiça” dos estrangeiros, os quais, em realidade, não precisam de nenhuma ação
violenta para ter acesso às riquezas do país.
Obtenção de energia elétrica e nuclear a qualquer
custo, ou industrialização poluidora nos moldes do primitivo capitalismo, tem
sido constantes na política nacional. Neste caso, a situação se agrava porque,
ao estar envolvidas principalmente nações indígenas, a tradição etnocida das
sempre vicejantes “bandeiras” das altas classes nacionais, banaliza os perigos
do projeto Belo Monte. Ele, certamente, não seria assumido se pudesse afetar,
por exemplo, o Estado de São Paulo.
Aliás, há ainda um ponto mais essencial, levantado
por algumas pessoas de bom senso, mesmo alheias aos detalhes técnicos do
projeto. TANTA ENERGIA ELÉTRICA SERÁ DESTINADA A QUÊ?
Trata-se do consumo normal de famílias e instituições para
cuidar do dia-a-dia, da saúde, da alimentação, da educação, ou para multiplicar
as indústrias poluidoras que só s existem graças ao consumismo das grandes
cidades, onde os desastres das populações, flora e fauna do XINGU não será
percebidos?
O seguinte
é o texto da Agência Brasil sobre as Manifestações de Atila Roque
A Anistia Internacional considerou
“decepcionante” a ausência do Brasil na audiência da Comissão de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos (OEA), no fim de outubro, que discutiu os
impactos socioambientais da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo
construída no Rio Xingú, no Pará, e que deve ser a terceira maior do mundo.
Para o novo diretor regional da organização no
Brasil, Atila Roque, o governo brasileiro se comportou como
governos de países que violam os direitos humanos e ignoram tratados
internacionais quando são contrariados. “Essa atitude não corresponde ao
histórico do Brasil em relação aos organismos internacionais de direitos
humanos, que sempre foi o de fortalecê-los. Esvaziar e tentar desqualificar
organismos multilaterais que lançam alertas sobre assuntos ligados ao Brasil
demonstram que ainda há um despreparo do país para ocupar um lugar de mais
destaque porque, para se almejar um papel de peso na esfera global, é preciso
estar preparado para lidar com essas situações. Espero que esse tenha sido um
desvio momentâneo”.
Em abril, a Comissão de Direitos Humanos da OEA
pediu a suspensão imediata da construção da usina para que as comunidades
ribeirinhas e os índios da região pudessem ser ouvidos pelo Congresso Nacional,
como determina a Constituição. O Brasil respondeu que os Poderes Executivo e
Legislativo são os responsáveis por fiscalizar as obras de Belo Monte e que a
Justiça supervisiona, de forma imparcial e independente, o respeito aos
direitos humanos dessas populações.
Sobre a posição brasileira em relação à ausência
de representantes do governo brasileiro na audiência da comissão, o Itamaraty
alegou que não surgiram fatos que justificassem um novo debate. E assegurou que
o país age dentro da legalidade na questão dos direitos humanos.
O novo diretor regional da Anistia Internacional,
que assumiu ontem (21) o escritório provisório da organização, na zona sul
do Rio, também chamou a atenção para a responsabilidade do Brasil em ações no
exterior. “O Brasil, hoje, é um ator que investe muito fora do Brasil. O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [BNDES] apoia, tem várias linhas
de financiamento que beneficiam empresas brasileiras e grandes projetos na
África e na América do Sul e tudo isso tem um forte impacto na agenda de
direitos humanos”, disse Atila.
Carioca do subúrbio de Bento Ribeiro, o cientista
político Atila Roque é um dos fundadores do Fórum Social Mundial, foi diretor
executivo da ActionAid International, em Washington, entre 2003 e 2006, e,
antes de integrar a Anistia Internacional, trabalhou para o Instituto de
Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Atila explicou que a Anistia Internacional vai
priorizar, em uma primeira etapa, temas considerados mais críticos, como
situação dos índios, segurança pública e reformas urbanas por causa da Copa do
Mundo e das Olimpíadas. “Queremos cidades inclusivas, que não produzam exclusão
em nome da modernização. Por isso, vamos acompanhar os impactos dessas reformas
na população, daqui até as Olimpíadas”.
Criada em 1961 e presente em mais de 80 países, a
Anistia Internacional recebe e investiga denúncias de perseguição, prisões
políticas, torturas e execuções, entre outras violações de direitos humanos.
Também envia missões de observação de julgamentos de violadores de direitos
humanos nos países onde não tem escritório de representação.
“Nossa intenção é ter um olhar nacional e uma
presença em outras cidades e que, ao longo dos anos, tenhamos, inclusive,
escritórios em outras cidades do Brasil. Sempre com a coragem de ir fundo no
levantamento das denúncias e de pressionar os governos para promoverem direitos
humanos com a força dos nossos 3 milhões de integrantes espalhados pelo mundo”,
disse Roque.
Fonte: Mercado Ético
Seguiremos luchando junto a los pueblos indígenas por un bien común, la preservación de nuestro planeta, seguiremos ocupando las calles, hasta que se de por finalizado de una vez por todas la No Permisión de la construcción de Belo Monte. Nada ni nadie nos van a parar. Iremos hasta el final!
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