Disseram-me para escrever sobre a rosa, posto que a rosa é mais valorosa. Ou será saborosa? É tão bela a rosa!... Todos gostam da rosa, mas em primeiro lugar os poetas. Quando um poeta busca inspiração ele pensa logo: a rosa! Pois. A Rosa.
Disseram-me para escrever mais sobre a rosa e sobre as coisas belas da vida. Escrever sobre governos, tramas, maldades, maquiavelismo, já está ficando demodée. Deixa eles!... Façam o que quiserem.
Disseram-me que isso sempre existiu e sempre existirá. O correto é escrever sobre a rosa. Quem não gosta da rosa? Escrever sobre a rosa é escrever sobre o que todos gostam. As pessoas ficam felizes quando lêem sobre aquilo que gostam. Vou escrever: Rosa. Gostaram?
Não passa aquela sensação melíflua, pura, sincera, natural, cósmica, telúrica, virginal, sossegada, tranqüila? Ou, como direi? bela? Todos não ficam felizes quando lêem a palavra rosa? Ou quando vêem uma rosa?
Eu também.
Escreverei sobre a rosa. Ou Rosa. Como preferem, rosa ou Rosa? Tem a rosa vermelha, da paixão, a rosa amarela, que não pode ser melindrada, a rosa rosa, que fica entre cá e lá e a rosa branca, da paz e da felicidade. Da calma e do amor sincero. E tem outras cores de rosa, que eu já nem sei quantas são. Hoje em dia, criam-se rosas de todas as cores e até de cores desconhecidas. Transgênicas, é claro, mas rosas.
Ó meu Deus! Lá vou eu de novo... Mas que coisa, já está virando mania! Falar em transgênicos numa matéria sobre a rosa...! Que falta de tato com os meus cinco leitores. Peço perdão. Humildemente. Escrever sobre a rosa deve ser uma ação contemplativa, embevecida, apática, para deixar os leitores felizes. Mas não se deve dizer simplesmente: rosa. Fica meio brusco. De preferência, dentro de uma poesia que, necessariamente, será lírica.
E precisamos de lirismo nesta nossa vida tão atribulada e cheia de percalços (gostaram do “cheia de percalços”?).
Lá no Pará já estão tomando chá de rosas. Com exceção dos indígenas, que declararam guerra ao governo. Mas são indígenas... Seres inferiores que ainda usam arco e flecha...
Dizem que é pra espantar o fantasma de Belo Monte. Viram só? Belo Monte já virou fantasma, antes mesmo de existir. Chá de rosas é ótimo contra esse tipo de fantasma. Receita do Dr. Bach. Não se pensa mais a respeito e quando acontecer o desastre ecológico, já aconteceu e pronto! Todos estarão felizes e fingindo que não é verdade. Os milhares de bichinhos que morrerem são irracionais e a flora que for destruída um dia crescerá, se Deus quiser. Se Deus não quiser, ele é quem sabe.
Portanto, chá de rosas. Com um pouco de ayahuasca e cannabis sativa. E recite um mantra quando tudo explodir. Em posição de lótus, visualizando uma rosa. E tudo correrá bem para você. Terá visões fantásticas e percepções mediúnicas. Fantasmas de toda a fauna e flora lhe dirão que não se preocupe porque eram apenas matéria e o que interessa é o espírito.
O que interessa é a rosa.
Talvez uma rosa com forma de bomba atômica, “com cirrose/estúpida/inválida/hereditária” – mas sempre rosa.
O que interessa é a rosa. De preferência em versos líricos, metrificados, apaixonados, recitados em noite de luar quando a leve brisa beija os cabelos da sua amada e você beija a rosa e a joga para ela. Mais perfeito impossível.
Não se preocupe com a fome, a pobreza, a miséria, as injustiças. Isso é kármico. Uma questão de lei cósmica. E você não tem nada a ver com isso. Portanto, não se revolte. Aceite tudo com resignação.
Olhe a beleza da natureza, enquanto ela ainda existe. Admire a perfeição da rosa, mesmo que transgênica ou artificial.
Pense só em você. E na rosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário