segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O SONO DA INDIFERENÇA


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As pessoas não se importam com a Conferência Climática. As que pensam se importar acreditam que o que foi decidido em Cancun está ótimo, porque, afinal, quem decidiu foram os representantes dos países filiados à ONU e todos devem obedecer à ONU.

     As pessoas não entendem exatamente onde fica Cancun. Os mais ricos sabem, através da mídia dominante tão venerada, que é um ótimo lugar para férias. Mas não estão nem aí se a Conferência do Clima número 16 resolveu alguma coisa. Para eles, isso não importa. Os afetados por enchentes e outras demonstrações de mau humor da Terra sempre serão os pobres. E os pobres não contam. Somente os seus votos contam.

     As pessoas, especialmente no Brasil, não se importam com as outras pessoas. Mas fingem. Quando chega a época do Natal e Ano Novo fingem que tudo vai melhorar, mas não se perguntam o que cada uma delas fez para que tudo realmente melhore. Porque este é um país de individualistas, principalmente da classe média para cima, onde as pessoas lutam para “subir na vida”, mesmo que seja às cotoveladas, não interessando quem esteja ao lado e receba os empurrões.

     São doutrinadas a se importarem apenas consigo mesmas e com as suas famílias, com os seus bens, com os seus espelhos mundanos. Para essas pessoas os outros não interessam; no máximo são empecilhos a superar. Superar com sorrisos e tapinhas nas costas, mas superar. Não hesitarão em matar, se considerarem que é necessário, porque confundem luta com violência.

     E estão cercadas de violência. Violência de verdade, que não corresponde a luta, mas a sobrevivência. As pessoas da classe média brasileira estão cercadas por cinturões de pobreza cada vez maiores, que as sufoca cada vez que saem nas ruas. Tem medo durante a noite e medo durante o dia. Somente se sentem mais libertas, respiram melhor, quando se reúnem em cidades como Cancun, entre os seus iguais. Para férias, negócios ou o que for. Mas em segurança. É quando fingem viver em um mundo de novela. Mas depois terão que voltar para a realidade. E a realidade é 90% de pobreza e indigência e fome e mortalidade e crueldade e violência e toda a desumanidade que elas continuam semeando com o seu férreo e estreito egoísmo.

     Por isto, essas pessoas brasileiras, da classe média para cima, pouco se importam com o que aconteceu em Cancun. Preferem nem saber. No máximo, acreditam que deu tudo certo e os que se queixarem não cheguem muito perto. A vida continuará, e se vier algum vendaval, destelhará a casa dos outros, não as delas.

     Já o povo que não tem opções, entre a miséria e a incredulidade apela para as drogas possíveis e vive o momento da droga de vida que lhe foi dada. Uma parte apela para a violência, outra acredita na vida futura, que os livrará desta agonia sem fim e ainda outros já estão em paraísos idílicos que se formam em suas mentes sempre que tem dinheiro para comprá-los.

     Mas há uma parcela do povo que acredita que lutar pelos seus direitos ainda é o caminho certo. Mesmo sabendo que as leis são feitas apenas para os ricos, que o Congresso é uma ficção do poder, porque representa apenas os poderosos, e que o presidente sempre será um fantoche dominado pelas forças que o colocaram naquele pedestal.

     E parte deste povo estava em Cancun. Tentando desmascarar os falsos acordos climáticos, levantando a sua voz contra os verdadeiros criminosos, que já nasceram com a torpeza em seus corações, tem o lucro como objetivo de vida e o individualismo egocêntrico como maneira de viver.

     Este é o povo que não vive assistindo novelas ou futebol nem buscando a melhor maneira de atropelar o próximo ou tendo a hipocrisia como modelo de comportamento.

     É um povo que acordou e que assusta muito os que preferem o sono da indiferença.

Fausto Brignol.

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