terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CONVERSANDO SOBRE O PAÍS AO LADO


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- Eu vi Messi jogar.

- Quando?

- Hoje de tarde, na televisão. Tu não viste Barcelona e Real Sociedad? Cinco a zero. Dois gols de Messi, com direito a bola na trave e jogada especial.

- Não vi. Preferi descansar neste domingo. Mas jogada especial? Qual foi?

- A mesma que ele ensaiou várias vezes na Copa e a mesma que ele fez contra o time do Brasil, nesta última partida amistosa. Lembra? A imprensa do Rio-São Paulo botou a culpa no Douglas, porque é do Grêmio e eles sempre tem que achar um culpado, principalmente se for gaúcho. Queimaram o cara, porque ele recebeu uma bola apertada, o Messi tirou, driblou aqueles dois zagueiros do Mano e tocou no canto do Vítor.

- Mas o Vítor falhou. Não era uma bola indefensável.

- Não chegou a ser uma falha de verdade. E os dois zagueiros fizeram o que?

- Contra o Messi? Ficaram só olhando...

- Pois é... E hoje eu vi de novo. Limpou quatro e meteu naquele canto.

- Canto esquerdo do goleiro, bola rasteira?

- Isto. Ele está se especializando naquela jogada. Acho que ninuém mais sabe fazer aquilo.

- Gênio!

- Criador, craque. O craque é aquele que quebra, como a palavra diz. Quebra a monotonia da partida. Inventa jogadas novas, faz coisas que os outros jogadores nem imaginam fazer.

- Como o Pelé, o Maradona...

- O Zidane...

- Mas tem que ter jogadores bons do lado. O craque não faz tudo sozinho.

- Até faz. Mas com jogadores inteligentes no mesmo time é mais fácil. Eles entendem o que ele quer fazer, ajudam a abrir espaço, tabelam...

- E o Barcelona é a seleção da Espanha.

- Mais o Messi. Uma mistura de cerebral com instintivo: já sabe o que vai fazer antes da jogada começar.

- Somente o melhor time do mundo. Lembra o Santos na época de Pelé, o Botafogo na época de Garrincha... Quando o futebol brasileiro tinha craques.

- O Cruzeiro na época de Tostão, acompanhado por Wilson Piazza e Dirceu Lopez.

- Dizem que era melhor que o Santos de Pelé.

- Era melhor. Mesmo com Clodoado e Pepe no time do Santos, numa daquelas decisões lá deles, aqueles torneios Rio-São Paulo, quando convidavam os times de Minas Gerais...

- Sei...

- O time do Cruzeiro fez seis a dois no Santos de Pelé, com Tostão comandando a goleada.

- E o Pelé?

- Sumido no jogo. Marcado pelo Piazza. Foi pouco antes da Copa de 70. Daí, foram obrigados a convocar Tostão, Piazza e Dirceu Lopez. E o Zagallo achou um lugar pro Piazza na quarta-zaga, porque aquele não podia deixar de jogar.

- E os gaúchos?

- Convocaram o Everaldo do Grêmio, pra fazer média.

- Para fazer média? Mas o Everaldo não era bom?

- Sempre convocavam um ou dois gaúchos para a seleção deles. Mas para a reserva. Daquele vez eles tiveram que colocar o Everaldo como titular na lateral-esquerda porque não tinham outro por lá.

- E aqui tinha jogador sobrando pra qualquer seleção. Mas eles sempre se acharam os melhores, pelo menos no futebol.

- Eles tem a propaganda e a mídia dominante do lado deles. Dizem que é seleção brasileira, mas sempre é Rio-São Paulo-Minas. E não é só no futebol.

- A velha política do café-com-leite.

- E dinheiro nas cuecas.

- Eles conseguiram dominar o Brasil só através daquele eixo estreito do Sudeste. Todo o poder para a região Sudeste e o resto do Brasil que pegue as migalhas, se puder.

- O resto do Brasil é o “Bolsa-Família” deles. Só funciona em época de eleições. Compraram os nordestinos através dos coronelões com quem eles tem conexão. E muito dinheiro “investido” nas eleições.

- Mas o Lula não é nordestino?

- Nasceu no Nordeste. Mas fez a vida dele em São Paulo. É sempre a mesma coisa.. E a Dilma é de Minas Gerais. E o governador aquele que botou o exército nas favelas é do Rio de Janeiro.

- E eles querem todo o dinheiro do pré-sal para o Rio de Janeiro.

- Claro. Eles só tem poder porque tem dinheiro, e as Forças Armadas do lado deles.

- Mas, na teoria, a vontade do povo não é mais forte que qualquer exército?

- Na teoria. Mas quando o exército não tem ideologia, não sabe o que é nacionalismo nem tem amor à pátria, ele passa a ser contra o povo.

- Mas e aqui no sul?

- Aqui ainda resta um pouco de tradição e de cultura nossa, cultura própria. Isto, enquanto eles não dizimarem o que ainda resta. Tem muita gente vendida por aqui. Eles usam o dinheiro principalmente para comprar as consciências. Mesmo que tenhamos feito uma revolução em 1930 e outra em 1932, e mesmo que eles tenham matado o Getúlio e, depois, o Jango e o Brizola, conforme se diz, ainda resta gente de coragem por aqui, apesar dos que se dizem gaúchos mas tem o coração em outro lugar.

- Mas tu estás pensando em outra revolução?

- Não. Apenas no exercício dos direitos civis. Quem sabe um plebiscito...

- Eles não iriam deixar.

- É claro que não. Mas a diferença entre nós e eles é que o nosso povo raciocina, não se deixa levar tão facilmente. Ao contrário deles, temos uma história própria, hino e até bandeira.

- E é o nosso hino que nós gostamos de cantar, e não o deles.

- Exatamente. Porque o nosso hino fala da nossa história. Tu sabias que a Revolução Farroupilha nunca acabou?

- Como assim?

- Claro que não. Foi só um armistício que dura até hoje, mas não uma rendição.

- Só que depois eles botaram governadores pelegos aqui que eram piores que ditadores.

- E por isto fizemos a Revolução Federalista de 1893. E depois a de 1914 e a de 1919.

- Pois é... mas tu estavas dizendo que viu o Messi jogar hoje...

- Vi, e nunca vou esquecer. Lá no estádio do Barcelona, capital da Catalunha. E foi cinco a zero fácil contra um dos times da Espanha, o país ao lado.

- País ao lado?

- Lá o povo é bravo e sabe o que quer. Os catalães fizeram um plebiscito pela independência em relação à Espanha. Foi no ano passado. E mais de 94% concordaram.

- Quer dizer que eles vão se separar da Espanha?

- Até 2014. Se os espanhóis não colocarem o exército pra cima deles.

- Mas o povo deles é bravo...

- É um povo muito bravo!


Fausto Brignol.

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