*música Pra dizer adeus - de Torquato Neto e Edu Lobo
https://www.youtube.com/watch?v=jHTAHkEj34U
Torquato Pereira de Araújo Neto (Teresina, 9 de novembro de 1944 — Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1972) foi um poeta brasileiro, jornalista, letrista de música popular, experimentador ligado à contracultura.
Vida e obra[editar | editar código-fonte]
Torquato Neto era o único filho do defensor público Heli da Rocha Nunes (1918 - 2010) e da professora primária Maria Salomé da Cunha Araújo (1918 - 1993).[1] De Teresina, mudou-se para Salvador aos 16 anos para os estudos secundários, onde foi contemporâneo de Gilberto Gil no Colégio Nossa Senhora da Vitória (Marista) e trabalhou como assistente no filme Barravento, de Glauber Rocha.[2]
Torquato envolveu-se ativamente na cena soteropolitana, onde conheceu, além de Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar. Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas sobre cultura no Correio da Manhã, Jornal dos Sports e Última Hora.
Torquato atuava como um agente cultural e polemista defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta, circulando no meio cultural efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, o cineasta Ivan Cardoso e o artista plástico Hélio Oiticica.
"Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar." [3]
Nesta época, Torquato passou a ser visto como um dos participantes do Tropicalismo, tendo escrito o breviário Tropicalismo para principiantes, no qual defendeu a necessidade de criar um "pop" genuinamente brasileiro:
"Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido".[3]
Torquato também foi um importante letrista de canções icônicas do movimento tropicalista.
No final da década de 1960, com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros Gil e Caetano, viajou pela Europa e Estados Unidos com a mulher, Ana Maria Silva de Araújo Duarte, e morou em Londres por um breve período. De volta ao Brasil, no início dos anos 1970, Torquato começou a se isolar, sentindo-se alienado pelo Regime militar. Passou por uma série de internações para tratar do alcoolismo e rompeu diversas amizades. Em julho de 1971, escreveu a Hélio Oiticica:
"O chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais tem opinião sobre coisa alguma. Todo o mundo virou uma espécie de Capinam (esse é o único de quem eu não gosto mesmo: é muito burro e mesquinho), e o que eu chamo de conformismo geral é isso mesmo, a burrice, a queimação de fumo o dia inteiro, como se isso fosse curtição, aqui é escapismo, vanguardismo de Capinam que é o geral, enfim, poesia sem poesia, papo furado, ninguém está em jogo, uma droga. Tudo parado, odeio." [3]
Torquato se matou um dia depois de seu 28º aniversário, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro e abriu o gás e isso levou muita gente pensar que Torquato foi morto pelo regime militar. Sua mulher dormia em outro aposento da casa. O escritor foi encontrado na manhã seguinte pela empregada da família (Maria das Graças, que mais tarde adotou o nome de Gal, sugerido pela própria Gal Costa, sua homônima [frequentadora assídua da casa de Torquato]).
A nota de suicídio de Torquato dizia:
"FICO. Não consigo acompanhar a marcha do progresso de minha mulher ou sou uma grande múmia que só pensa em múmias mesmo vivas e lindas feito a minha mulher na sua louca disparada para o progresso. Tenho saudades como os cariocas do tempo em que eu me sentia e achava que era um guia de cegos. Depois começaram a ver, e, enquanto me contorcia de dores, o cacho de banana caía. De modo Q FICO sossegado por aqui mesmo enquanto dure. Ana é uma SANTA de véu e grinalda com um palhaço empacotado ao lado. Não acredito em amor de múmias, e é por isso que eu FICO e vou ficando por causa deste amor. Pra mim chega! Vocês aí, peço o favor de não sacudirem demais o Thiago. Ele pode acordar". [4]
Thiago era o filho de dois anos de idade.
Foi pensando na morte do amigo que Caetano Veloso escreveu a canção "Cajuína", incluída no disco Cinema Transcendental. Os versos da canção relatam o encontro de Caetano com o pai de Torquato, em Teresina, algum tempo depois da morte do poeta.[5]
Na década de 1980, a partir de 1984, as gerações mais recentes puderam apreciar o talento poético de Torquato através do seu poema, "Go Back" (1971), que, naquele ano, recebeu a primeira gravação musical do grupo Titãs, com música feita pelo tecladista e um dos cantores do grupo, Sérgio Britto. A popularidade da canção seria consagrada em 1988, quando os Titãs deram um arranjo ainda mais vigoroso à música. "Go back" é a faixa-título de um disco gravado em Montreux, na Suíça.
Na madrugada do dia 27 de setembro de 2010, seu pai, o defensor público Dr. Heli Rocha Nunes, morreu aos 92 anos de idade, em Teresina, após uma parada cardíaca. A família aguardou a chegada do único filho do poeta piauiense, Thiago de Araújo Nunes (piloto de aeronave em uma companhia aérea brasileira), para realizar o sepultamento do avô.
Composições[editar | editar código-fonte]
- A coisa mais linda que existe (com Gilberto Gil)
- A rua (com Gilberto Gil)
- Ai de mim, Copacabana (com Caetano Veloso)
- Andarandei (com Renato Piau)
- Cantiga (com Gilberto Gil)
- Capitão Lampião (com Caetano Veloso)
- Começar pelo recomeço (com Luiz Melodia)
- Daqui pra lá, de lá pra cá
- Dente por dente (com Jards Macalé)
- Destino (com Jards Macalé)
- Deus vos salve a casa santa (com Caetano Veloso)
- Domingou (com Gilberto Gil)
- Fique sabendo (com João Bosco e Chico Enói)
- Geleia geral (com Gilberto Gil)
- Go back (com Sérgio Britto)
- Juliana (com Caetano Veloso)
- Let's play that (com Jards Macalé)
- Lost in the paradise (com Caetano Veloso)
- Louvação (com Gilberto Gil)
- Lua nova (com Edu Lobo)
- Mamãe coragem (com Caetano Veloso)
- Marginália II (com Gilberto Gil)
- Meu choro pra você (com Gilberto Gil)
- Minha Senhora (com Gilberto Gil)
- Nenhuma dor (com Caetano Veloso)
- O bem, o mal (com Sérgio Britto)
- O homem que deve morrer (com Nonato Buzar)
- O nome do mistério (com Geraldo Azevedo)
- Pra dizer adeus (com Edu Lobo)
- Quase adeus (com Nonato Buzar e Carlos Monteiro de Sousa)
- Que película (com Nonato Buzar)
- Que tal (com Luiz Melodia)
- Rancho da boa-vinda (com Gilberto Gil)
- Rancho da rosa encarnada (com Gilberto Gil e Geraldo Vandré)
- Todo dia é dia D (com Carlos Pinto)
- Três da madrugada (com Carlos Pinto)
- Tudo muito azul (com Roberto Menescal)
- Um dia desses eu me caso com você (com Paulo Diniz)
- Veleiro (com Edu Lobo)
- Vem menina (com Gilberto Gil)
- Venho de longe (com Gilberto Gil)
- Vento de maio (com Gilberto Gil)
- Zabelê (com Gilberto Gil)
Discografia[editar | editar código-fonte]
- Tropicalia ou Panis et Circencis (1968) - Philips LP
- Os últimos dias de Paupéria (1973) - Eldorado Editora Compacto simples
- Torquato Neto - Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia (1985) - RioArte/Prefeitura do Rio de Janeiro e Governo do Estado do Piauí LP
- Todo dia é dia D (2002) - Dubas Música CD
Filmografia[editar | editar código-fonte]
- Como ator
- Nosferatu, de Ivan Cardoso. Como protagonista, "Vampiro" (1970).
- Terror da Vermelha, de Torquato Neto (1971/1972).
- Adão e Eva do Paraíso ao Consumo (super 8, Teresina, 1972), de Edmar Oliveira e Carlos Galvão.[6]
- Como diretor
- Terror da Vermelha, (1972).
- Sobre Torquato Neto
- Documento Especial. Torquato Neto, O Anjo Torto da Tropicália (Ivan Cardoso, 1992)
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Toninho Vaz. Pra mim chega - A biografia de Torquato Neto. São Paulo: Casa Amarela, 2003
- Kenard Kruel. Torquato Neto ou a Carne Seca é servida. Teresina: Editora Zodíaco, 2a. edição, 2008 [7]
- Paulo Henriques Brito. Torquato Neto. Centro de Cultura Alternativa/ Rio Arte / Projeto Torquato Neto/ Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo do Piauí, 1985.
- Torquato Neto. Os Últimos Dias de Paupéria (org.: Ana Maria Silva Duarte e Waly Salomão). Rio de Janeiro: Max Limonad, 1984.
- Torquato Neto. Torquatália - do Lado de Dentro: Obra Reunida de Torquato Neto (vol. 1) (org. : Paulo Roberto Pires). Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.
- Torquato Neto. Torquatália - Geléia Geral: Obra Reunida de Torquato Neto (vol. 2) (org. : Paulo Roberto Pires). Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.
Referências
- ↑ Torquato Pereira de Araújo Neto
- ↑ Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. "Torquato Neto."
- ↑ ab c Talismã do tropicalismo. Um dos idealizadores do movimento, o poeta, letrista e crítico Torquato Neto tem sua obra completa editada nos dois volumes de Torquatália. Por João Marcos Coelho. Época, 20 de fevereiro de 2009.
- ↑ Paulo Andrade. Torquato Neto: uma poética de estilhaços. São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2002 , p. 189.
- ↑ Vídeo. Caetano Veloso conta a história da música ‘Cajuína’
- ↑ Casa da Cultura recebe exposição sobre Torquato Neto. Fotografias mostram a história do filme Adão e Eva do Paraíso ao Consumo. 4 de setembro de 2014.
- ↑ Há exatas quatro décadas, morria poeta Torquato Neto. Artífice da tropicália se suicidou inalando gás em seu apartamento, no Rio. Pesquisador piauiense Kenard Kruel lança edição ampliada e revisada de sua obra sobre escritor e agitador. Por Cláudio Portella. Folha de S. Paulo , 10 de novembro de 2012.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Poema Cogito
- Torquato Neto no Jornal de Poesia
- Vídeo. Torquato Neto – O anjo torto. Série de reportagens especiais sobre os 70 anos de nascimento do poeta.
INÍCIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário