terça-feira, 7 de junho de 2011

BALANÇO DE UMA PEQUENA CRUZADA CONTRA O ARBÍTRIO E A BARBÁRIE

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Por Celso Lungaretti

Depois de uma luta de dois anos e meio, finalmente consegui colocar na vitrine política o fato de que a Rota -- unidade das mais truculentas da Polícia Militar de SP -- mantém em sua página virtual, abrigada no portal do Governo paulista, elogios à sua própria atuação na derrubada de um presidente legítimo (João Goulart) e na perseguição aos resistentes que confrontavam a tirania instituida pela quartelada de 1964.

Com a interpelação que o dep. Carlos Giannazi  acaba de dirigir ao governador Geraldo Alckmin,  a absurda permanência deste entulho autoritário não poderá mais ser ignorada, como o vinha sendo até agora, apesar das cartas abertas que eu escrevi ao próprio Alckmin, a Alberto Goldman e a José Serra, em seus respectivos mandatos; das mensagens a secretarias do Governo; da interpelação a Serra numa sabatina da Folha de S. Paulo; da petição on line que está no ar; e dos 17 artigos em que abordara ou fizera referência ao assunto (vide relação abaixo).

Houve companheiros que indagaram o porquê da minha insistência, contrapondo que melhor seria olhar para a frente, olvidando o passado.

Realmente, quando recebi a denúncia do companheiro Ismar C. de Souza, em outubro de 2008, acreditei que a Rota simplesmente esquecera de reciclar seu material institucional depois que o Brasil saiu das trevas em 1985. Então, supus que a simples menção do fato seria suficiente para a supressão dos trechos inaceitáveis no estado de Direito.

Em janeiro de 2009, contudo, um oficial da PM prometeu ao portal Brasil de Fato que logo essas excrescências seriam extirpadas, mas a promessa não foi honrada. Percebi, então, que havia a real intenção de desafiar a democracia brasileira, com a Rota reafirmando publicamente sua devoção ao arbítrio do passado.

ISTO NÃO PODERIA SER TOLERADO! Daí meu empenho em derrotar as  viúvas da ditadura  em mais esta frente.

Até porque, face às imensas dificuldades criadas pela decisão estapafúrdia do STF e pelo reiterado posicionamento da Advocacia Geral da União no sentido de que a anistia de 1979 beneficiou também os algozes, não há certeza nenhuma de que ainda consigamos levar ao tribunal os responsáveis pelo terrorismo de estado que assolou o Brasil; e, menos ainda, de que algum deles estará vivo quando uma eventual sentença condenatória chegar à fase de execução, depois do festival de medidas protelatórias que nossa Justiça admite (vide o caso recente do jornalista Pimenta Neves e os inacreditáveis 49 recursos produzidos por sua defesa).

Então, como referência e exemplo para as novas gerações, é importantíssimo que os déspotas e seus capangas recebam o tratamento que merecem nos livros didáticos, na mídia, na internet e nos marcos simbólicos, como a denominação de ruas, praças, etc.

Que, se porventura escaparem do castigo penal, não escapem do moral -- como o que a família Telles infringiu a Carlos Alberto Brilhante Ustra, ao pleitear e conseguir da Justiça que ele fosse declarado torturador.

A Comissão da Verdade é a linha de frente da batalha para que as atrocidades não sejam esquecidas e para que os culpados de crimes contra a humanidade nunca se livrem do opróbrio de terem agido como bestas-feras.

Além disto, as pequenas batalhas -- como esta que agora marcha para um bom desfecho -- são importantes, sim, em termos simbólicos, para reafirmar de novo, e quantas vezes forem necessárias, a vitória da civilização sobre a barbárie.

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