sexta-feira, 29 de abril de 2011

A ADORAÇÃO DOS PRÍNCIPES


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Milhares de pessoas de todos os países estão na Inglaterra para tentar entrever e fotografar o príncipe Williams e sua consorte. Talvez tenham sorte e consigam fotografias que guardarão a vida inteira e naquelas reuniões informais de amigos, no breve momento em que a conversa fora já foi recolhida para o lixo, a dona da casa dirá, displicentemente: “Pois estivemos lá! Eles passaram e conseguimos algumas boas fotos”.

     Será o suficiente para que todos queiram ver as fotos e saber detalhes de todas as circunstâncias que envolveram o casamento. Todas as circunstâncias e detalhes os donos da casa não saberão, mas algumas mentirinhas sociais indesmentíveis serão aceitas, e logo a conversa tomará novo fôlego, regada a uísque – “escocês legítimo, vejam!” – que acompanhará uma legítima torta de maçã inglesa. As senhoras preferirão chá. E todos ficarão felizes.

     Custo a acreditar que pessoas pensem e ajam assim. Mas é verdade. Em pleno século XXI o sentimento de vassalagem permanece no inconsciente coletivo de milhões de pessoas. E, provavelmente, no consciente. Não pasmem, existem pessoas assim. Pessoas que vivem pensando na riqueza das outras pessoas, nas roupas das outras pessoas, nas jóias das outras pessoas, nos carros das outras pessoas, nos filhos das outras pessoas, no penteado das outras pessoas, no modo de viver das outras pessoas – e até acreditam que as outras pessoas que elas tanto veneram tem sangue azul e merecem a sua devoção.

     Fiquei muito surpreso quando a Espanha, que aparentemente é um país democrático, concordou que o ditador Francisco Franco passasse o seu poder vitalício para Juan Carlos I, em 1975, aplaudido pela maioria dos espanhóis, que adoraram ter uma família real novamente simbolizando a nobreza dos espanhóis.

     Logo a Espanha que tinha passado por uma longa e sangrenta guerra civil, nos anos ’30, que derrubou a Segunda República espanhola e instituiu o fascismo, com Franco no poder. Fiquei surpreso, porque acreditava, ingenuamente, que os povos do mundo inteiro, aos poucos, não aceitariam mais casas reais para representá-los, como se fossem órfãos de vontade própria. E logo a Espanha...

     E Franco era muito amigo do atual rei da Espanha – aquele que quer a América Latina calada e submissa – e o colocou no trono. E os espanhóis ali, assistindo, sem nada fazer a respeito, deixando-se emburrecer cada vez mais pela sua mídia, porque não é só no Brasil que a mídia aliada ao Estado tem a função de deixar as pessoas parvas e submissas. Também na Europa, Estados Unidos e outros países que passam por desenvolvidos.

     Entre eles, a Inglaterra. A Inglaterra da mistificação da realeza, da pirataria, dos corsários; a Inglaterra que enriqueceu invadindo países mais pobres, que difundiu o ópio pelo mundo; a Inglaterra que desenvolveu o sistema bancário para melhor dominar a economia da maioria dos países; a Inglaterra que fingiu uma guerra com os Estados Unidos, deixou-o “libertar-se” para depois torná-lo no seu principal aliado na dominação das Américas.

     A Inglaterra que criou a sua própria igreja, mais como aliada política do Estado do que difusora do Cristianismo; a Inglaterra que criou a moderna Maçonaria, em 1717, não para buscar a Verdade, mas para ter um poder oculto em todos os países, para manobrar os seus governos; a Inglaterra que se tornou senhora do mundo, junto com os Estados Unidos, depois das duas guerras européias que a enriqueceram ainda mais.

     E devido a isso, a todo esse poder que manipula governos e fabrica mídias para embasbacar as pessoas e deixá-las a cada dia mais distante da sua própria realidade, tudo o que acontece na Inglaterra (e nos Estados Unidos) é tão ovacionado que as pessoas que estão vivendo neste século de tanta tecnologia estão se transformando em produtos utilizáveis e facilmente descartáveis, que entregaram a sua mente curta e o seu mínimo senso crítico aos meios de comunicação de massa. Porque realmente se tornaram massa; massa que pode ser moldada da maneira que bem apetecer aos donos do poder.

     E os próprios veículos de comunicação estão compostos, em sua grande maioria, por jornalistas que perderam a noção do que realmente é ou deveria ser o jornalismo e se transformaram em meros repetidores das informações que lhes chegam através das agências de notícias que pertencem aos donos do capital ilusionista.

     No Brasil – e talvez no resto do mundo – está havendo um massacre de informações - patrocinadas por esses repetidores - que vem diretamente da Inglaterra, devido ao casamento daqueles dois seres que tudo ganharão à custa do trabalho do povo, e o povo inglês – assim como o povo espanhol e outros povos que ainda tem um regime monárquico - não percebe que sustenta milionariamente uma família que nada lhes dá em troca, a não ser o fastio de uma visão de conto de fadas.

     Não percebem e não querem perceber que estão sendo usados, manipulados e que depois que tudo passar nada mais restará a não ser a visão da pobreza mental das suas vidas limitadas ao nada que escolheram.

     É uma verdadeira adoração dos príncipes. As pessoas não saem da frente da televisão, como tardos mentais, obcecadas pela novela real.

     Muitos irão a Londres unicamente na expectativa da passagem do casal multimídia e tentarão algumas fotos para mostrar aos amigos em alguma noite, não muito distante, quando se reunirem para beber um legítimo uísque que acompanhará uma torta de maçã. Alguns preferirão chá.

     Depois, surgirá o inevitável assunto:

     “Quem sabe a volta da família real ao Brasil? Quem sabe os Orleans, os Braganças? Pelé e Xuxa não tem sangue azul. Chega de Dilmas e Lulas, tão pobres até no linguajar! O Brasil só será respeitado quando tivermos um Rei. Imaginem as festas!... Só assim o povo saberá o seu lugar.”

     E a noite se estenderá com planos políticos e leves subversões intimas. Depois, sonharão com ducados e castelos. E desejarão ser ingleses ao acordar.

Fausto Brignol.

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