Pelo menos 15 concursos estão com problemas no Brasil, incluindo o da PM do Estado
Publicado em 07.12.2009, às 09h40
Leonardo Spinelli
Do Jornal do Commercio
O concurso da Polícia Militar de Pernambuco não é o único que está sob suspeita no Brasil. Pelo menos outros cinco processos seletivos estão sendo investigados, outros nove estão sob suspeição e alguns, como no caso do governo de Mato Grosso, estão suspensos. O último caso de denúncia de fraude aconteceu na semana passada com as provas para a Polícia Civil de São Paulo, que também está suspenso e sendo investigado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil daquele Estado. Com tantas denúncias, as pessoas que estudam ou trabalham no setor passaram a ficar com um pé atrás com relação às instituições que vêm se envolvendo nesses escândalos. Uma das mais citadas é a Funrio, fundação ligada à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, que além de ter seu concurso da Polícia Rodoviária Federal suspenso, era uma das três empresas do consórcio Connasel – envolvido no episódio do vazamento das provas do Enem em outubro.
Para a diretora da Associação Nacional de Apoio e Proteção aos Concursos (Anpac), Maria Tereza Sombra, são dois problemas que afligem o setor atualmente. “Existem no Brasil hoje cerca de 100 bancas examinadoras. Há três anos eram 30 e todas boas, com tradição e histórico. Realizaram vários concursos. Agora aparecem as novas e ganham licitação pelo preço mais baixo. São necessários outros critérios para escolha de banca, como quantos concursos já fez, para quantas pessoas, em quantos Estados. Preço deveria ser um critério, mas não o principal”, opina. “A Funrio, por exemplo, colocou fiscais que nem sabiam onde colocar a frase de identificação do cartão respostas. São bancas que não têm possibilidade de fazer concursos com mais de 100 mil inscritos no Brasil. Não têm recursos humanos”, disse Maria Tereza.
“Eu não confio mais nessas instituições que se deixam envolver em fraude. Me impressiona os órgãos representativos selecionarem essas empresas que não têm experiência. Para o concurseiro, isso é terrível, pois investiu dinheiro, tempo e a fé. Muitos deles passam e têm a experiência negativa de ver o concurso suspenso ou cancelado”, comenta o professor de matemática para concursos, Jairo Texeira. Ele se diz preocupado com o próximo concurso do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que contratou por meio de licitação pública a Conesul, banca do Rio Grande do Sul que venceu a concorrência ao apresentar o menor preço de inscrição. “O que ainda funciona no Brasil é a instituição concurso público, mas se cair no descrédito, vai ser ruim para todo mundo. A seleção para o TRE vai ser a prova de fogo da Conesul, empresa que nunca realizou concurso grande como este, que precisa de uma infraestrutura grande para sua realização”, destacou.
Já o professor Marcelo Marques, de administração pública, acredita que os próprios concurseiros é que devem exigir o controle social nas contratações de bancas examinadoras. “Era de se esperar problemas com a Funrio. Acredito que deveria haver negativações de empresas que não fizessem direito seu trabalho, assim como acontece no caso das licitações públicas, onde instituições envolvidas em fraude entram na lista negra do governo”, afirma. Apesar disso, Marques não aconselharia ninguém a deixar de fazer uma prova que seja aplicada por empresa com problemas anteriores. “O que tem de haver é a melhora. Se não existe fiscalização não há como melhorar. Portanto, deixar de fazer não é uma solução”, salientou.
Os estudantes também defendem uma melhora no sistema de escolha das bancas examinadoras e muitos acreditam que o boicote é uma solução para o problema, pelo menos pessoalmente. “Uma instituição que se envolve em fraude mancha a sua reputação. Deixo de confiar e dificilmente faria uma prova dela”, comentou o advogado Bruno César Silva. Ele, que vai fazer o concurso do TRE, diz estar preocupado. “Preferia que fosse uma instituição maior, como a Fundação Carlos Chagas ou Cespe, pois estava estudando pela prova delas e elas têm tradição. A Conesul não tem histórico de fraude, mas nunca fez concurso grande. Seria mais confiável uma empresa de maior renome”, salientou.
http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/economia/noticia/2009/12/07/pelo-menos-15-concursos-estao-com-problemas-no-brasil-incluindo-o-da-pm-do-estado-207812.php
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