sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
o pizza
uma enorme cicatriz nas costas, onde a pelagem não crescia mais. mancha de queimadura grave com formato de pizza, por isso os moleques da rua o chamavam de pizza.
era um cão vira lata com fama de ser muito feroz, de cor preta e que ficava na garagem externa de casas sem habitantes ou em terrenos baldios.
final dos anos 60 do século xx, bairro próximo a região central da cidade de são paulo. uma das casas vazias da rua, recebeu novos moradores, e por sorte dele, a dona da casa era muito generosa e sempre lhe arrumava bons pratos com restos de comida.
as crianças jogavam ping pong na garagem, com mesa improvisada, pizza lá estava, na espreita, podia latir às vezes, mas nunca atacou ninguém.
ainda continuou dormindo em baixo da escada externa da casa da nova moradora generosa que lhe dava comida. ninguém podia ser seu dono, ele era sofrido demais pra ter donos. o passado cheio de torturas ficara gravado para sempre em suas costas e alma.
moleques ainda pensavam em lhe causar mais males, alguns lhe amarravam cordões cheios de bombinhas no rabo, como moleques podem ser perversos!
pizza era o saco de pancadas daquela rua estranha, daquela rua dos anos 60 que expressava de forma mais estranha, todos os males que sofriam naqueles tempos duros, naqueles tempos injustos e crueis de bloqueios de direitos humanos e com isso os animais sem donos, eram alvos da válvula de escape, da catarse, de todos.
quantos pizzas ainda sofrem pelas ruas, hoje? quando as pessoas vão conseguir canalizar suas catarses para coisas positivas?
num certo dia, pizza sumiu... nunca mais o vimos a espreitar nada.
nadia gal stabile - 26 02 2016
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gostei desta "memória", que nos trás dos anos recuados.
ResponderExcluirfoi uma época bela apesar de todas as ditaduras.
eram tempos em que direitos humanos,
como hoje, alás, eram sistemáticamente violados.
os dias que hoje vivemos, não sei se são melhores ou piores. são fiferentes.
para os " pizza" que encontramos, no predente, há a nova consciência.
o mundo está em mudança...e nós, também. parabéns pelo belo texto.
agradeço Luís, felicidades, abraço
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