Carlos A. Lungarzo
NOTA: Muitos dizem que meus artigos são
muito longos. Para os que acham isso, pensei uma solução. Dividi este artigo em
duas metades.
Você mentalize-se e pense que este artigo termina ao fim da primeira
parte. Quando acabe, terá lido um artigo que é bem menor que outros que eu
escrevo.
Agora, amanhã ou depois você pode ler a 2ª. parte. Assim, você acaba
lendo o artigo inteiro, convencido de que leu dois artigos pequenos.
Concorda?
Boa Leitura.
Parte
1
O que é o Banco
Central (BC) [publica hoje]
Tipos de
independência.
A independência
absoluta e seus exemplos.
Parte
2
Casos importantes
produzidos pela independência dos BCs
Por que a um
Presidente pode interessar tanto?
Que pode acontecer no
futuro com um banco independente.
O QUE É O BANCO CENTRAL (BC)?
Nas
democracias modernas, o Banco Central é uma instituição que se ocupa
principalmente dos problemas monetários. Os mais importantes desse problemas
são
1)
Inflação
(aumento de
preços)
2)
Taxa
de juros
3)
Taxa
de câmbio entre a moeda nacional e outras.
4)
Emissão
de moeda
5)
Supervisão
da reserva monetária.
6)
Operações
de mercado aberto (como leilões), depósitos compulsórios, políticas de crédito, redesconto. Empréstimos e similares.
Em alguns
países, o BC atua como vigilante dos Bancos Comerciais, para garantir que estes
Bancos cumpram as Normas que o Banco Central formula.
Exemplos:
1.
O BC vigila para que os bancos não façam
empréstimos a uma taxa de juros maior.
2.
Vigila, também, que os bancos comerciais
apliquem a taxa de câmbio dentro da faixa fixada pelo BC, etc.
Em alguns países, o BC se limita a
estabelecer a política monetária (inflação, juros, superávit, câmbio, etc.),
mas não controla os outros bancos.
O termo “Banco Central” é usado em toda
América Latina, salvo no México, onde se chama Banco do México ou “Banxico” ou “Banco Nacional”.
Nos EUA não há um único BC, mas um sistema de
Bancos, cada um dos quais é um “Banco da Reserva Federal”. (Federal Reserve Bank) A rede formada por
todos esses bancos chama-se “Sistema da Reserva Federal” (Federal Reserve System). Há um banco em cada uma de 13 das cidades
com maior importância financeira dos EUA.
Hoje todos os países democráticos têm um ou
mais BCs, mas nem sempre foi assim. Até finais do século XVII, quando se criou
o BC da Inglaterra, todos os problemas de moeda,
câmbio, inflação, etc., eram resolvidos pelos governantes dos países,
fossem reis, Duques, Imperadores, etc., aconselhados por um Comitê de Nobres e
de Grandes Magnatas. Eles decidiam geralmente diminuir o manter constantes os
valores da inflação, que, para eles, era a grande vilã. Se a Inglaterra devia
dinheiro á França, e o devedor tinha um inflação de 10%, então, para comprar
francos, a Inglaterra devia gastar 10% mais de livras. Se devia 30 mil livras,
com a inflação ia dever 33.000.
Para tanto o Tesouro Real (ou seja, uma espécie de Ministério da Fazenda),
diminuía o soldos dos recrutas, ou, então, demitia os trabalhadores que foram
pagos pela Coroa, até eliminar esse 10% de inflação.
À medida os países ganharam mais democracia,
um grupo maior de assessores dos governantes, aconselharam métodos menos
brutais. Para conter a inflação, era desumano mandar na rua milhares de pessoas,
e foi assim que surgiu aos poucos, a economia,
disciplina (e, em alguns de seus aspectos, ciência), que estuda as relações
entre as variáveis que determinam a circulação dos bens gerais de uma
sociedade. A economia estuda a relação da moeda, com os valor dos metais; e
relação entre inflação e trabalho; entre custo de produção e preço, etc
Os primeiros bancos centrais foram fundados
no século XVII (Inglaterra e Suécia) e a grande fundação de Bancos foi no
século XIX, quando a economia adquiriu seu caráter científico pela primeira
vez, graças a David Ricardo, Karl Marx, e, parcialmente, Adam Smith.
No século XX, alguns governos, como o dos
EUA, propuseram a privatização do Banco Central. Entretanto, em quase todos os
países os BCs foram instituições autárquicas,
ou seja, com independência de gerenciamento, dependentes em suas metas
principais e em sua estrutura, do Estado: basicamente, do Governo e do
Parlamento. Seus membros prestavam conta a justiça comum em caso de delitos.
Desde 1994, entrou na moda uma nova forma de
BC que se chama “independente”. Mas, independente
de quê? Isso não se disse com clareza, e por isso escrevemos este artigo.
O grande guru do chamado neoliberalismo Milton Friedman propôs, nos anos 70, a
eliminação dos Bancos Centrais dos EUA, mas essa proposta foi considerada muito
à direita, até para a conservadora sociedade americana, e nunca foi aplicada.
Segundo ele, toda a política monetária devia ser controlada pelos Bancos
Privados.
TIPOS DE INDEPENDÊNCIA
TIPOS DE INDEPENDÊNCIA
Uma forma de independência de uma instituição
em relação com o Estado é a autarquia.
Autarquia Administrativa
São pessoas jurídicas de direito público,
criadas por lei específica (art. 37, XIX, da Constituição Federal), que dispõem
de patrimônio próprio e realizam atividades típicas do Estado, de forma
descentralizada.
No Brasil, a autarquia é a pessoa jurídica de
direito público, o que significa ter praticamente as mesmas prerrogativas e
sujeições da administração direta. O seu regime jurídico pouco se diferencia do
estabelecido para esta, aparecendo, perante terceiros, como a própria Administração
Pública.
Uma
forma de independência algo maior é a das entidades autonomia politica e
autonomia de poderes.
Autonomia Política
Têm autonomia
política relativa, a a União, Estados e Municípios, que são pessoas
públicas com capacidade política, têm o poder de criar o próprio direito. Suas
limitações são menores que a autarquia administrativa, pois esta não pode criar
suas próprias leis. Nos Estados e Municípios Brasileiros essa autonomia é
relativa. Um Estado não pode criar seu código penal. A União é a mais autônoma
(soberana) mas está limitada pela legislação internacional, especialmente a de Diretos
Humanos.
Autonomia de Poderes.
No
Brasil, o Poder Judicial, Legislativo e Executivo possuem autonomias bastante amplas.
Estes podem executar uma série de atos sem
pedir autorização a ninguém. O PJ pode julgar um crime comum sem autorização do
Congresso, mas este pode fazer leis e o PJ não pode. Ou seja, os poderes
públicos tem ampla liberdade, mas não absoluta.
Devem respeitar os direitos dos outros poderes.
Mas, nem sequer os poderes públicos têm
independência total. Eles não pode propor Objetivos Própios, que seja diferentes aos objetivos do
Estado. Por exemplo, o Judiciário não pode propor-se a Independência de Metas. A independência do PJ está limitada por uma obrigação
“cumprir com as leis”. Por exemplo: um Tribunal Brasileiro não pode dizer:
“nossa meta é aplicar a pena de morte.”
INDEPENDÊNCIA
ABSOLUTA
A independência que exige a candidata Marina
Silva e, de maneira menos explícita (e talvez menos completa) o candidato do
PSDB é a
independência absoluta do Banco Central.
A
independência ABSOLUTA inclui também
a independência de metas, ou, na
gíria usada pelos especialistas em finanças de todo o mundo, uma goal
Independence.
O BC do Brasil, atualmente, é uma autarquia. Um senador não pode dizer ao
Presidente do BC: “Você deve calcular a Inflação com o índice X, e não com a
funcão Y”. Os técnicos do BC são os que sabem os procedimentos internos para
obter a inflação.
De mesma maneira, o Ministro de Educação não
pode entrar numa escola e dizer ao professor de física.
“Você
não deve dizer aos alunos que força=(massa)X(aceleração),
Você
deve dizer que
força=(massa)X)(velocidade)
Num BC autárquico, os técnicos podem fixar as
variáveis como indica seu critério, desde
que sejam compatíveis com as metas de Estado e do povo. Ou seja, as metas
devem ser consultas com e Executivo, com o Conselho e, se houver dúvidas, com
uma Consulta Popular, no caso (que às vezes acontece) que o problema seja de
interesse geral.
Por exemplo, imagine que um BC independente,
quer reduzira Inflação a 0.5% ano.
Impossível??? Que nada! O Banco independente
poderia o que quiser, assim. O Estado gasta 800 milhões em saúde e 1600 em
educação. Então, o BC manda reduzir os orçamentos para 100 e 200 milhões.
Então, terá poupado 80% do orçamento nesse
itens. Com isso deixa milhões de pessoas sem escola nem assistência médica e
vários centos de milhares sem emprego. Uma bruta economia. O consumo de toda
essa capa social cai, a população se reduzira porque muitos morrerão por falta
de atenção médica, e os que ficam sem educação poderão ser contratados por um
prato de arroz e feijão.
Desastre?
Não, Aleluia, Aleluia! A inflação caiu a 0,3, ou seja abaixo da
meta. Se cortassem a área de defesa, aí iria ainda mais abaixo, mas isso não se
pode. Os milicos são os grandes amigos
dos independentistas. Cuidemos deles!
Exagero?
Por favor, amigos, vejamos a história
recente. A eliminação de postos de trabalho aconteceu na Argentina de Menem, no
Chile de Pinochet, e até no Brasil, porém em proporção menor: no SP
metropolitano, em abril de 2002, houve 20,4 % de desempregados, ou seja, quase dois
milhões de pessoas em idade de trabalhar. Isto foi em pleno Plano Real. Veja
esta tabela
Desemprego atual em diversos países, medido
em junho, julho e agosto de 2014, em %. Vejas as fontes na publicação:
Ordem cresciente de inflação
|
PAÍS
|
Último
|
Anterior
|
OBSERVAÇÕES
|
3
|
6.10
|
6.40
|
Não Independente
|
|
2 bis
|
4.90
|
5.00
|
BC não independente
|
|
3bis
|
6.50
|
6.45
|
TEM BC INDEPENDENTE
|
|
1
|
4.10
|
4.00
|
Não Independente
|
|
5
|
11.50
|
11.50
|
INDEPENDENTE
|
|
4
|
10.20
|
10.10
|
TEM BC INDEPENDENTE
|
|
2
|
4.90
|
5.00
|
TEM BC INDEPENDENTE
|
Dos BC independentes, o único que tem
atualmente inflação igual ao Brasil é Alemanha, que sempre possuiu um mercado
de trabalho forte. De todos os outros, só Dinamarca tem desemprego inferior ao
do Brasil
Você, que lê isto, o que prefere: um país com
15% de inflação e ter um emprego, mesmo que modesto, ou um país com 0,2% de
inflação e voltar ao desemprego do 20%?
Pense nisso antes de votar.
O Que é a Independência
do Banco Central (Parte 2)
Carlos A. Lungarzo
Parte
2
Fatos importantes
produzidos pela independência dos BCs
Por que a um candidato
interessa tanto?
Que pode acontecer no
futuro com um banco independente.
Fatos importantes
produzidos pela independência dos BCs
Vimos na parte 1, que há, pelo menos 4 formas
de independência para uma instituição num Estado.
Autarquia
|
É só administrativa
|
BC do Brasil
Universidades
|
Autonomia relativa 1
|
Administrativa e Política
|
União
Municípios
Estados
|
Autonomia relativa 2
|
Poderes Públicos
|
PJ, PE, PL
|
Autonomia Absoluta
|
É aquele que permite a autonomia de OBETIVOS ou METAS
|
Está claro que o que propõe a candidata do
Partido Socialista Brasileiro é a autonomia absoluta. O BC do B já é uma
autarquia. Por outro lado, a autonomia proposta, se fosse como o caso 2,
convertiria ao PJ em outro poder. Mas, isso não seria o mais grave. Seríamos um
país com quatro poderes, como Chile.
O problema é que o poder do BC independente,
seria Absoluto. Ele é nomeado pelo Congresso, tudo bem, mas o congresso não
pode impor-lhe condições. Se o BC decide que a taxa de juros deve
quadriplicar-se, por exemplo, para diminuir a inflação, nenhum político se pode
opor a isso.
Se algum político tentar, a mídia ou
qualificará de
―
Corrupto
―
Populista
―
Comunista, em fim, de várias maneiras.
Por que alguns candidatos
podem se interessar tanto pela independência do BCs?
Imagine que, com muita modéstia e patriotismo, um candidato a presidente
disse:
―Eu não quero estorvar os técnicos do BC. Não quero
meter a colher.
Bom, eu acredito que ninguém vai obriga-l@ a intervir. Se você não quiser
intervir, pode apenas ficar em seu canto. Por que promete uma lei que proíbe a
si mesmo de intervir? Considera-se uma pessoa pouco confiável????
Não, não é essa a razão.
O Candidato Aécio Neves disse, num começo, que as medidas para “melhorar”
o país podiam ser amargas. Depois, disse outra coisa, de acordo como soplava o
vento.
A Candidata Marina Silva não disse nada. Não sabemos o que pensa.
Então, imaginemos o cenário mais provável.
Os grandes capitais financeiros (que não são apenas os bancos, mas também
grandes holdings de especuladores bilionários que decidam as eleições em muito
países) não gostam de governos que tenham dignidade pessoal e assumam a causa
dos pobres.
Uma vez derrotados esses governos, aplicam as políticas que esmagam as
classes pobres como aconteceu em:
Idonésia, 1965
Chile, 1973 com ditadura, 2006 àcom democracia
Argentina, 1976 com ditadura, 1989 e 2000 com democracia
México, 2000, 2006 à com democracia.
Um BC no Brasil, independente, vai dizer.
1) Nossa meta de inflação não pode
passar de 2%
2) Para tanto, tem que reduzir o gasto
público.
Esse gasto não vai ser a compra de armas e manutenção do aparato bélico.
Observe, salvo pequenos partidos de esquerda, ninguém falou em reduzir as FFAA?
Foi acaso?
Então, de onde vai sair esse dinheiro?.
Primeiro, sem duvidar.
Cortar:
Bolsa+Família
Minha Casa, Minha Vida,
Mais Médicos,
Mais Especialidades,
Prouni
Cotas para negros, etc
Você vai protestar
―Presidente,
você falou que manteria os programas sociais, que os faria mais poderosos
ainda, que aquilo de Dilma é uma esmola, e agora.... Nos tira tudo.
O President@ poderá chorar e dizer:
―Meus irmãos em Cristo! Eu
sinto muito por vocês. Mas, foi o Banco Central que me tirou o dinheiro. Que
faço sem dinheiro? Não posso desobedecer ao BC. Isso seria coisa de presidente
corrupto e ditatorial.
―Mas, senhor/a: 20 milhões de
pessoas vão morrer por falta de comida e de saúde.
―Deus me perdoe. Mas, a
Pátria está primeiro. Vou orar por suas almas.
Que pode acontecer no
futuro com um banco independente?
O assunto
está pesado. Vamos começar com uma piada:
“Um cirurgião experiente em transplante
de coração tem que colocar um coração novo num paciente. Está rodeado de seus
colaboradores. De repente, entram duas equipes com duas urnas refrigeradas. O
portador disse:
―Este é um coração de um
jovem atleta de 18 anos que morreu em acidente de moto. Era forte, saudável, um
coração 0 Km. ―Com menos ênfase, disse ―Bom,
também apareceu por acaso outro coração. É de um antigo especialista em
finanças, que estava cheio de problemas cardíacos e morreu de um AVC aos 92
anos. Que faço com este? Mando jogar fora?
―Por que? ―
disse o médico, ―
este é o que vou usar.
Toda a equipe ficou exaltada,.
―Doutor. O senhor não
entendeu? É um ancião cardíaco com o coração em frangalhos.
―Vocês esquecem de uma coisa. Mesmo em frangalhos, esse
coração é melhor que o outro...
―O Que...?
―É o coração de um financista. Então, com
certeza nunca foi usado”.
Se o Banco Central ficar independente, os chamados “governadores”
vão ter outro poder. Não vai estarem cingidos a fazer contas, calcular curvas
de Philips, encontrar pontos fixos, criar assintóticas preditivas, não...
Eles também vão a decidir assuntos sociais.
Eles decidirão se o salário se diminui ou se
suprime, se os postos de trabalho se “flexibilizam” ou se fecham.
Eles podem por a meta de inflação em 2
pontos, a taxa de juros em 1% e o superátiv primário em 50% do PBI. (ou PIB)
Olham... sei por experiência. Muitos técnicos
e cientístas temos algo de malucos, mas muitos, mesmo malucos, conservam a
humanidade. Qual é a humanidade daquele cuja meta na vida é só fazer dinheiro.
Como diz o famoso slogan; “O Céu é meu limite”.
Atualmente, no BC do Brasil há técnicos honestos
que se sentem solidários com os planos do governo. Ora, antes de deixa-lo autônomo,
os novos candidatos, se eleitos, colocaram técnicos que obedeçam aos Chicago
Boys, a George Soros e todos esses. E que acontecerá?
O PT costuma a dizer que os candidatos que
lutam contra Dilma nos farão voltar aos anos 90. Mas isso não é exato. Nos anos
90, FHC não fez tudo o que o capital financeiro internacional mandava, Apesar
de sua “agilidade” e sua ”versatilidade”, FHC não pode fazer tudo em oito anos.
É pouco tempo para desmontar um país como o Brasil. Pior ainda quando a
democracia impõe alguns limites.
A Petrobrás (lembram PETROBRAX) não pôde ser
vendida. Aliás, o bando de estelionatários psicopatas que vendem milagres eram menor.
Hoje eles tem 40 m de fregueses.
Aliás, Os
países ricos estão em crise. Por que vão a permitir que nossos países, cheios
de negros e índios, sobrevivam?
Você podem dizer:
“Pago para ver”
Justo: é seu direito. Mas tome suas
precauções, porque, como diz o ditado: “quem viver, verá”.
Como diz Peter Howells (veja biografia em http://ideas.repec.org/f/pho208.html),
professor de Economia Monetária na Universidade West England, faz vinte anos
apareceu uma “moda” de clamar pela independência dos Bancos Centrais. Por
razões “misteriosas”, essa moda se propaga com enorme velocidade. Mas, por que?
fonte da imagem : http://www.bancax.org.br/configuracoes_home/campo_c/economia-brasileira-inicia-o-ano-em-crescimento-mostra-indice-do-banco-central.html
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