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DA JANELA e REENCONTRO - MARCELO ROQUE


Da Janela

Olhando pela janela
repousa meu olhar sob mais uma manhã;
tão clara e límpida quanto o nosso amor
E assim, percebo o quanto te amo
Amo-te nos ventos que tocam as folhas,
no pássaro a aprumar seu ninho,
na urgência do rio em alcançar o mar ...
Amo-te assim nas pequenas coisas, pois,
tudo se faz mais belo ... porque te amo

Marcelo Roque


Reencontro

Ao me ver,
do outro lado da calçada,
ela me lançou um sorriso
Que num instante,
atravessou a rua,
o vento
e o tempo ...
até me alcançar

Marcelo Roque


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POSTAGENS POPULARES DO SARAU PARA TODOS NA ÚLTIMA SEMANA







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A ADORAÇÃO DOS PRÍNCIPES


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Milhares de pessoas de todos os países estão na Inglaterra para tentar entrever e fotografar o príncipe Williams e sua consorte. Talvez tenham sorte e consigam fotografias que guardarão a vida inteira e naquelas reuniões informais de amigos, no breve momento em que a conversa fora já foi recolhida para o lixo, a dona da casa dirá, displicentemente: “Pois estivemos lá! Eles passaram e conseguimos algumas boas fotos”.

     Será o suficiente para que todos queiram ver as fotos e saber detalhes de todas as circunstâncias que envolveram o casamento. Todas as circunstâncias e detalhes os donos da casa não saberão, mas algumas mentirinhas sociais indesmentíveis serão aceitas, e logo a conversa tomará novo fôlego, regada a uísque – “escocês legítimo, vejam!” – que acompanhará uma legítima torta de maçã inglesa. As senhoras preferirão chá. E todos ficarão felizes.

     Custo a acreditar que pessoas pensem e ajam assim. Mas é verdade. Em pleno século XXI o sentimento de vassalagem permanece no inconsciente coletivo de milhões de pessoas. E, provavelmente, no consciente. Não pasmem, existem pessoas assim. Pessoas que vivem pensando na riqueza das outras pessoas, nas roupas das outras pessoas, nas jóias das outras pessoas, nos carros das outras pessoas, nos filhos das outras pessoas, no penteado das outras pessoas, no modo de viver das outras pessoas – e até acreditam que as outras pessoas que elas tanto veneram tem sangue azul e merecem a sua devoção.

     Fiquei muito surpreso quando a Espanha, que aparentemente é um país democrático, concordou que o ditador Francisco Franco passasse o seu poder vitalício para Juan Carlos I, em 1975, aplaudido pela maioria dos espanhóis, que adoraram ter uma família real novamente simbolizando a nobreza dos espanhóis.

     Logo a Espanha que tinha passado por uma longa e sangrenta guerra civil, nos anos ’30, que derrubou a Segunda República espanhola e instituiu o fascismo, com Franco no poder. Fiquei surpreso, porque acreditava, ingenuamente, que os povos do mundo inteiro, aos poucos, não aceitariam mais casas reais para representá-los, como se fossem órfãos de vontade própria. E logo a Espanha...

     E Franco era muito amigo do atual rei da Espanha – aquele que quer a América Latina calada e submissa – e o colocou no trono. E os espanhóis ali, assistindo, sem nada fazer a respeito, deixando-se emburrecer cada vez mais pela sua mídia, porque não é só no Brasil que a mídia aliada ao Estado tem a função de deixar as pessoas parvas e submissas. Também na Europa, Estados Unidos e outros países que passam por desenvolvidos.

     Entre eles, a Inglaterra. A Inglaterra da mistificação da realeza, da pirataria, dos corsários; a Inglaterra que enriqueceu invadindo países mais pobres, que difundiu o ópio pelo mundo; a Inglaterra que desenvolveu o sistema bancário para melhor dominar a economia da maioria dos países; a Inglaterra que fingiu uma guerra com os Estados Unidos, deixou-o “libertar-se” para depois torná-lo no seu principal aliado na dominação das Américas.

     A Inglaterra que criou a sua própria igreja, mais como aliada política do Estado do que difusora do Cristianismo; a Inglaterra que criou a moderna Maçonaria, em 1717, não para buscar a Verdade, mas para ter um poder oculto em todos os países, para manobrar os seus governos; a Inglaterra que se tornou senhora do mundo, junto com os Estados Unidos, depois das duas guerras européias que a enriqueceram ainda mais.

     E devido a isso, a todo esse poder que manipula governos e fabrica mídias para embasbacar as pessoas e deixá-las a cada dia mais distante da sua própria realidade, tudo o que acontece na Inglaterra (e nos Estados Unidos) é tão ovacionado que as pessoas que estão vivendo neste século de tanta tecnologia estão se transformando em produtos utilizáveis e facilmente descartáveis, que entregaram a sua mente curta e o seu mínimo senso crítico aos meios de comunicação de massa. Porque realmente se tornaram massa; massa que pode ser moldada da maneira que bem apetecer aos donos do poder.

     E os próprios veículos de comunicação estão compostos, em sua grande maioria, por jornalistas que perderam a noção do que realmente é ou deveria ser o jornalismo e se transformaram em meros repetidores das informações que lhes chegam através das agências de notícias que pertencem aos donos do capital ilusionista.

     No Brasil – e talvez no resto do mundo – está havendo um massacre de informações - patrocinadas por esses repetidores - que vem diretamente da Inglaterra, devido ao casamento daqueles dois seres que tudo ganharão à custa do trabalho do povo, e o povo inglês – assim como o povo espanhol e outros povos que ainda tem um regime monárquico - não percebe que sustenta milionariamente uma família que nada lhes dá em troca, a não ser o fastio de uma visão de conto de fadas.

     Não percebem e não querem perceber que estão sendo usados, manipulados e que depois que tudo passar nada mais restará a não ser a visão da pobreza mental das suas vidas limitadas ao nada que escolheram.

     É uma verdadeira adoração dos príncipes. As pessoas não saem da frente da televisão, como tardos mentais, obcecadas pela novela real.

     Muitos irão a Londres unicamente na expectativa da passagem do casal multimídia e tentarão algumas fotos para mostrar aos amigos em alguma noite, não muito distante, quando se reunirem para beber um legítimo uísque que acompanhará uma torta de maçã. Alguns preferirão chá.

     Depois, surgirá o inevitável assunto:

     “Quem sabe a volta da família real ao Brasil? Quem sabe os Orleans, os Braganças? Pelé e Xuxa não tem sangue azul. Chega de Dilmas e Lulas, tão pobres até no linguajar! O Brasil só será respeitado quando tivermos um Rei. Imaginem as festas!... Só assim o povo saberá o seu lugar.”

     E a noite se estenderá com planos políticos e leves subversões intimas. Depois, sonharão com ducados e castelos. E desejarão ser ingleses ao acordar.

Fausto Brignol.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

VENDAVAIS - MARCELO ROQUE


Vendavais

Se hoje colho
vendavais em teus beijos,
foram pelos tantos versos
que soprei aos teus ouvidos

Marcelo Roque


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ESBULHO


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“O esbulho possessório é a retirada violenta de um bem (imóvel residencial, comercial ou rural) da esfera da posse do legítimo possuidor. Implica o crime de usurpação tipificado quando alguém invade com violência à pessoa, grave ameaça ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio. Ocorrido o esbulho, o interessado pode entrar com ação de reintegração de posse e por perdas e danos. O "esbulho possessório" é crime. A sentença criminal pode condenar o esbulhador à detenção de um a seis meses e ainda, multa..”


     Convenhamos que a pena é mínima. Procurei o significado de esbulho na Internet, porque nós, brasileiros, estamos constantemente sendo esbulhados, não somente quando alguém toma o que é nosso, violentamente, mas de outras maneiras também violentas, não tipificadas na lei.

     Uma delas é o esbulho por omissão. Quando você sabe que está sendo roubado ou que estará prestes a ser roubado, reclama a quem de direito e nada é feito, ou é feito de maneira tão sutil e invisível que não se percebem os seus efeitos.

     Se você não tiver dinheiro sobrando, no Brasil, prepare-se para ser esbulhado. Inevitavelmente.

     O povo brasileiro é tido por otário pelo Estado, que o esbulha com os maiores impostos do mundo; esbulha a sua saúde ao não lhe dar condições de tratamento adequadas; esbulha a sua educação através de um sistema educacional perverso, que somente deseduca, com professores desmoralizados e mal pagos e diretores sem força ativa; esbulha imensamente os seus trabalhadores assalariados e aos não assalariados esbulha a vida; esbulha a verdade ao povo, através de veículos de comunicação especialistas em nada dizer e em maquiar a realidade.

     Cerca de 10% do povo brasileiro não é esbulhado. São os esbulhadores, donos da mais moderna tecnologia do esbulho. Os corruptos por natureza, por herança genética, por oportunidade, por escolha pessoal, por deterem um poder que lhes permite saciar a sua sede de esbulho e de corrupção e que tem consciência da sua impunidade.

     Fábio Konder Comparato, na matéria “UM PAÍS DE DUAS CARAS”, revela que o Estado brasileiro segue, invariavelmente, a regra de dois pesos e duas medidas no que se refere a direitos humanos. E escreve:

     “Só há uma maneira: denunciar abertamente os verdadeiros autores desses crimes, perante o único juiz legítimo, que é o povo brasileiro. É preciso, porém, fazer essa denúncia diretamente perante o povo, pois em uma democracia autêntica é ele, não os governantes eleitos, quem deve exercer a soberania.”

     Ao mesmo tempo, percebe que isso é quase impossível:

     “(...) Acontece que, numa sociedade de massas, uma denúncia dessas há de ser feita, necessariamente, através dos meios de comunicação de massas. Ora, há muito tempo estes se acham submetidos à dominação de um oligopólio empresarial, cujos membros integram o núcleo oligárquico, que controla o Estado brasileiro.”

     Todas as pessoas que não fazem parte daquele clube oficial dos esbulhadores sentem-se lesadas diariamente neste Brasil de meias verdades. Não é necessário que tenham os seus terrenos invadidos, as suas casas tomadas. Este é o esbulho que a lei prevê. Mas o pior esbulho é o esbulho moral, quando sabemos que nenhuma lei vai nos ressarcir da vida que é tirada, aos pedaços e metodicamente, de todos nós. Para alimentar os corruptos.

     Somos esbulhados diariamente na nossa vontade, na nossa força, na nossa alegria de viver. E, às vezes, pensamos que é melhor deixar tudo de lado e dizer aos esbulhadores: “Foi péssimo ter conhecido vocês. Até nunca mais”.

     De nada adiantaria. Os esbulhadores pertencem a mais baixa estirpe moral dos seres humanos e somente ficariam tristes por ser menos um a esbulhar. São sanguessugas. Por falar nisso, o tal de Impostômetro significa o dinheiro arrecadado pelo Supremo Esbulhador ou apenas dá os números do esbulho imposto pela impostura dos impostores oficiais?

     Fiquei me perguntando por que não festejaram, este ano, o Dia de Tiradentes. Talvez para não lembrarem a História oficial que, mesmo sendo oficial, revela alguma coisa nas entrelinhas. Revela que a Inconfidência Mineira aconteceu porque, naquela época, em 1789, existiam pessoas que não aceitavam ser esbulhadas pacificamente. Era um tempo em que os brasileiros tinham consciência de quando estavam sendo roubados; um tempo em que o Estado não teria coragem de se autodenominar, sarcasticamente, de “Leão” ou ostentar um Impostômetro marcando os dígitos do seu gigantesco esbulho aos brasileiros.

     E essas pessoas reagiram e quando chegou a época da “derrama” – o esbulho oficial - em Minas Gerais, revoltaram-se e tentaram a separação do Império. Foram traídos e presos. Processados e condenados ao degredo nas colônias portuguesas pelo crime de lesa-majestade. Com a exceção de Tiradentes – que era apenas um pobre tira-dentes e não um senhor de engenho ou um bacharel formado em Coimbra ou um ruralista, padre ou militar. Tiradentes foi assassinado para servir de exemplo a todos aqueles que desejarem se revoltar contra o esbulho oficializado.

     Também não comemoraram o Dia do Índio. Passou em branco, menos para os indígenas, que não são nem querem ser brancos. Desde que os brancos chegaram aqui eles foram e continuam sendo esbulhados da sua liberdade, da sua cultura, das suas tradições, das suas terras, da sua força vital.

     Índio não é igual a branco que aceita tudo. Protestaram. Principalmente no Xingu, contra a construção da usina de Belo Monte, já condenada pela OEA e pelo mundo inteiro, mas que a arrogância de Dilma e de seus aliados empresários, políticos e banqueiros quer constituir, à força, no maior esbulho que os índios brasileiros já sofreram em toda a sua sofrida história de dominação pelos brancos.

     Protestaram e prometeram reagir. De armas na mão, se necessário for. Índio não é como branco, que prefere a paz do carnaval e só reage xingando o árbitro quando o seu time é roubado.

     Em entrevista ao jornal “O Liberal”, de Belém, no dia 19 de abril, Sheyla Juruna afirmou: “Não tem o que festejar no Dia do Índio, a gente tem muito é que brigar mesmo, demonstrar a nossa insatisfação diante desse governo injusto, que está aí levando tudo do jeito que ele quer, contra o nosso povo".

     Sheyla destacou que os índios estão prontos para guerrear até a morte, se necessário for: "Não descarto essa possibilidade, porque é o governo que está instigando essa violência, essa guerra. E isso vai acontecer e a culpa será do governo. Nós não temos medo. O que tivermos que fazer para defender nossas casas, nós vamos fazer. Vamos nos defender até o fim desse governo que fala em acabar a miséria, mas está fazendo com Belo Monte mais miseráveis."

     Não saiu na mídia oficial, mas o Governo mandou soldados para Porto Velho, em Rondonia, onde trabalhadores da usina hidrelétrica de Jirau se revoltaram violentamente contra o esbulho da sua força de trabalho, em março. O canteiro da obra foi depredado.

     A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, registra uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Esbulho leva a mais esbulho.

     Os lagos formados pelas barragens das usinas hidrelétricas de Jirau e do Santo Antônio, que serão construídas ao longo do rio Madeira, em Rondônia, deverão ser maiores do que o sugerido nos estudos de impactos ambientais realizados por técnicos da Furnas Centrais Elétricas e da Construtora Norberto Odebrechet. A declaração é do doutor em Planejamente Energético pela Unicamp – Universidade Estadual de Campinas e professor da Unir – Universidade Federal de Rondônia, Artur de Souza Moret. “Os impactos ambientais dessas obras terão uma dimensão jamais vista na Amazônia.”

     Então imaginem o impacto ambiental que terá a construção da usina de Belo Monte – que será a terceira maior do mundo – na natureza, nos ecossistemas, na Amazônia. Porque os esbulhadores pensam somente em seus lucros. Não se preocupam com a fauna, a flora, pessoas, indígenas. Não se preocupam com nada. Para eles, esbulhar é natural, porque as suas naturezas são pervertidas.

     E são esses os que governam o Brasil e falam belas palavras e jogam moedas para o povo esbulhado e não se importam se não há liberdade, justiça ou pão. “Que comam bolos!”.

Fausto Brignol.

OS TEMPOS ESTÃO MUDANDO

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Leio que dezenas de opositores chineses -- advogados, escritores, jornalistas, artistas e blogueiros -- foram detidos, submetidos a prisão domiciliar ou afastados de suas casas nas últimas semanas, em escalada repressiva cujo objetivo óbvio é resguardar mais esta ditadura do  contágio  das revoltas libertárias.

As pedras voltaram a rolar e a única certeza é a de que os verdadeiros revolucionários devem posicionar-se ao lado de todos aqueles que se revoltam contra tiranias.

Não importa que as nações ocidentais façam com a Líbia o que deveriam fazer também com a Síria, mas adotem dois pesos e duas medidas.

Não importa a posição que algumas dessas ditaduras obscurantistas, retrógradas e assassinas assumam no tabuleiro político internacional.

Importa apenas que oprimem seus povos e os seus povos estão se levantando contra elas, pouco a pouco, com o temor da repressão brutal cedendo lugar à esperança.

E o farão cada vez mais, pois o mundo se tornou um péssimo lugar para se viver nestas últimas quatro décadas de refluxo revolucionário. 

É a hora da maré crescente. E a nova onda começa a vir do Oriente, mas -- afirmo sem medo de errar --, acabará se espalhando por todo o planeta.

O mundo está prenhe de revoluções; quem viver, verá.

E quem for revolucionário, lutará.

Estamos exatamente como no final de 1963, quando Bob Dylan compôs The times they're a-changin', antecipando tudo que viria a seguir. O melhor ainda está por acontecer.

Para reacender a chama dos velhos guerreiros e tentar inflamar algum jovens que têm a retórica mas não o instinto dos revolucionários, eis uma bela tradução da canção de Dylan, agora mais atual do que nunca:

OS TEMPOS ESTÃO MUDANDO

Venham, pessoas,
por onde quer que andem
e admitam que as ondas
á sua volta cresceram.
E aceitem que logo
estarão cobertas até os ossos.
Se seu tempo para você
vale a pena ser salvo,
então é melhor começar a nadar
ou vai afundar como uma pedra,
pois os tempos estão mudando!

Venham, escritores e críticos,
aqueles que profetizam com a caneta.
E mantenham seus olhos abertos,
a chance não virá novamente.
E não falem tão cedo,
pois a roda ainda está girando
e não há como prever
quem prevalecerá,
pois o perdedor de agora
mais tarde vencerá,
pois os tempos estão mudando!

Venham, senadores, congressistas,
por favor, escutem o chamado.
Não fiquem parados no vão da porta,
não congestionem o corredor,
pois aquele que pára
será um obstáculo no caminho.
Há uma batalha lá fora,
está rugindo
e logo vai balançar suas janelas
e fazer ruir suas paredes,
pois os tempos estão mudando!

Venham, mães e pais
de toda a Terra
e não critiquem
o que não podem entender.
Seus filhos e filhas
estão além de seu comando.
Sua velha estrada
está rapidamente virando pó.
Por favor, saiam da nova
se não puderem dar uma mãozinha,
Pois os tempos estão mudando!

A linha foi traçada,
a maldição foi lançada
e o lento agora
será o rápido logo mais,
assim como o presente agora
será em breve passado.
A ordem está
rapidamente se esvaindo
e o primeiro agora
será o último depois,
pois os tempos estão mudando!

OS ARAPONGAS DO PATRULHAMENTO CRICRI

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A opção é entre a obra de Monteiro Lobato...
Depois de escorraçados pelos cultos, libertários e (consequentemente) antípodas da censura no final de 2010, os patrulheiros cricris contra-atacaram da forma mais sórdida possível, desencavando cartas em que Monteiro Lobato  expressou conceitos racistas.

Ora, em nenhum momento estiveram em questão as opiniões que o grande escritor, o grande defensor dos interesses nacionais e o grande adversário da ditadura getulista remoía na intimidade. 


Além de inquisidores, os patrulheiros cricris são bisbilhoteiros, comportando-se como repulsivos arapongas.

Igualmente, a grandeza da obra de Jorge Luis Borges não foi destruída pelo seu apoio a uma ditadura argentina -- embora isso nos tenha levado a perder o respeito por ele como homem.

No caso de Lobato, a coisa fede: ele nunca fez proselitismo contra os negros, mas, pelo contrário, compôs sua inesquecível Tia Nastácia como uma personagem extremamente humana, simpática, generosa e sábia em sua ingenuidade de mulher simples do povo.

...a de Torquemada...
O fato é que os patrulheiros cricris fracassaram rotundamente ao tentarem imputar racismo a Lobato a partir das pirraças da Emília, pois qualquer leitor isento percebe que as frases desaforadas da boneca falante não são endossadas, mas sim implicitamente criticadas, como exemplo de mau comportamento, pelo escritor.

Isto é o que importa, e é só o que importa

Se Lobato foi hipócrita e escondeu suas verdadeiras opiniões, por saber que desagradariam aos leitores e o deixariam malvisto nos círculos intelectualizados, é algo que o desmerece como homem. Mas, não há racismo nenhum em Caçadas de Pedrinho, nem em nenhuma obra de literatura infantil do nosso maior escritor do gênero em todos os tempos.

Ninguém aguenta mais o patrulhamento e a má fé dos macartistas de esquerda, que pensam ser tão diferentes, mas são tão iguais aos McCarthys e Nixons -- salvo por nunca haverem tido poder suficiente para mandar seus perseguidos para a cadeia ou condená-los ao ostracismo.

E, em termos mais amplos, tudo o que eu tinha a dizer sobre o episódio em si, antes de os patrulheiros cricris descerem ao nível do esgoto, eu já dissera no meu artigo O Waterloo do patrulhamento cricri, de 09/11/2010 -- que colocou a discussão num nível inalcaçável para esses aprendizes de Torquemada.

Vale a pena ler de novo:

O bizarro episódio em que uma integrante do Conselho Nacional de Educação afirmou existir racismo na obra de Monteiro Lobato, não se esgota na rejeição do seu parecer por parte do ministro Fernando Haddad. É hora de nos defrontarmos com o monstro, e não apenas com a mais chocante de suas monstruosidades.

...a de Joseph McCarthy...
O que havia para se dizer sobre o  politicamente correto, Karl Marx já disse, em 1845, nas Teses sobre Feuerbach:
"A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, de que seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade.

A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como praxis revolucionária." (3ª tese)

"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo." (11ª tese)
Ou seja, os educadores que se arrogam o direito de decidir o que crianças (ou a sociedade como um todo) podem ou não ler, e com que ressalvas lhes devem ser apresentadas tais leituras, têm, eles próprios, de ser educados.

As mudanças das circunstâncias e da atividade humana só se dão por meio da prática revolucionária, não de uma educação mudada (ou expurgada, censurada, castrada, mutilada, maquilada, engessada, etc.).

...e a de Richard Nixon.
Pois não basta a adoção de outras palavras para eliminar-se a carga de preconceitos com que as pessoas as impregnaram, nem fazer triagem de obras artísticas para extirparem-se os comportamentos condenáveis nela retratados.

Somente livrando a humanidade do pesadelo capitalista conseguiremos dar um fim a todas as formas de discriminação, pois uma das molas-mestras da sociedade atual é exatamente a busca da diferenciação, do privilégio, do status, da superioridade.

Enquanto os seres humanos forem compelidos a lutarem com todas as suas forças para se colocarem acima de outros seres humanos, será ilusório pretendermos tangê-los ao respeito mútuo por meio de besteirinhas cosméticas.

É desprezando os iguais que eles adquirem forças para a luta insana que travam, pisando até no pescoço da mãe para alçarem-se a outro patamar da hierarquia social.

Então, a verdadeira tarefa continua sendo a transformação do mundo, para que não haja mais hierarquia e sim a priorização do bem comum, com cada um contribuindo no limite de suas possibilidades para que sejam atendidas as necessidades de todos.

Enquanto nos iludirmos com esses pequenos retoques na fachada do edifício capitalista, estaremos perdendo tempo: seus alicerces estão podres, para além de qualquer restauração.

Ou o demolimos e tratamos de erguer novo edifício em bases sólidas, ou ele ruirá sobre nós.

É simples assim.

Náufrago da Utopia: OS ARAPONGAS DO PATRULHAMENTO CRICRI

Depois de escorraçados pelos cultos, libertários e (consequentemente) antípodas da censura no final de 2010, os patrulheiros cricris contra-atacaram da forma mais sórdida possível, desencavando cartas em que Monteiro Lobato expressou conceitos racistas.

Ora, em nenhum momento estiveram em questão as opiniões que o grande escritor, o grande defensor dos interesses nacionais e o grande adversário da ditadura getulista remoía na intimidade. (...) LEIA NA ÍNTEGRA EM :

Náufrago da Utopia: OS ARAPONGAS DO PATRULHAMENTO CRICRI

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

DESVIRGINAR - MARCELO ROQUE


Desvirginar

Oferece-me, a folha,
sua virgindade
Para assim então ser deflorada
por um poema

Marcelo Roque

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A TORTURA COM NOBREZA


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A presidente Dilma Roussef sabe que o ministro Nelson Jobim e militares de altas patentes das três armas são contra a Comissão Nacional da Verdade, prevista no Projeto de Lei 7376/10, do Executivo. E pede para que Jobim, generais e subalternos que consideram a ditadura militar ainda existente, embora oficialmente nas mãos dos civis, não se manifestem a respeito.

     Não manifestem contrariedade à Comissão da Verdade, para evitarem maiores danos à mentira instituída.

     Enquanto isso, cinco dias depois do massacre de Realengo, no dia 12 de abril, Nelson Jobim, militares e simpatizantes participaram, no Rio de Janeiro, da Feira Latinoamericana de Aviação e Defesa (LAAD, na sigla em inglês), que é a maior exposição de fabricantes de armamentos e equipamentos militares e de defesa. A Feira é latinoamericana, mas a sigla é em inglês, a língua adotada por militares saudosistas brasileiros.

     Foi bem no período em que o Governo aproveitou a mídia resultante do massacre de Realengo para propor um novo plebiscito visando o desarmamento geral do povo brasileiro. Só ficarão armados os bandidos, a polícia e as Forças Armadas. Ótimo para os bandidos.

     A tal feira de armamentos onde as empresas bélicas da América Latina expuseram as suas novidades, para delícia dos militares (e simpatizantes) durou cinco dias. O resultado foi a disposição do Governo em gastar cerca de 30 bilhões de reais, nos próximos 15 anos, para reaparelhar as Forças Armadas.

     Já no final de março, João Lucena Leal, pessoa estreitamente ligada aos órgãos de repressão da época da ditadura militar, fez a apologia da tortura, ao conceder uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, veiculada na quarta-feira, 30 de março, no programa Conexão Repórter, do SBT. “Eu executava a tortura com nobreza”, disse ele. “Não tinha ideologia, apenas cumpria o meu dever de obter informações”. Lucena afirmou ter acompanhado a execução sumária de 15 guerrilheiros do PC do B na região do Araguaia, na década de 70. “O sujeito amarrado, algemado e o executor puxava o gatilho e matava”, narrou.

     Quando saiu a matéria, no mesmo período em que começou a novela do SBT, “Amor e Revolução”, os militares ficaram indignados e queriam se manifestar, dizendo que não é possível, como é que vão revelar os segredos tão zelosamente guardados sobre como eles matavam e torturavam. Por isto, Dilma pediu que ficassem quietos. O silêncio é o maior amigo da mentira.

     Mas não adiantou. Militares da reserva organizaram um abaixo-assinado pela retirada da novela do ar, encaminhado ao Ministério das Comunicações. Em oposição a isso, militantes do grupo "Documento Tortura" fizeram outro abaixo-assinado, pedindo a manutenção da veiculação. Não há indícios de que o governo tenha a intenção de tirar a novela do ar. Por enquanto.

     E o grupo "Tortura Nunca Mais – RJ" lançou um documento na Internet, intitulado “Dossiê de João Lucena Leal”, no qual você poderá ler que o defensor da nobreza da tortura – e não deverá ser o único defensor dessa tão nobre atividade militar - é atualmente advogado inscrito na OAB de Rondônia sob o n.º 52B. É advogado de Darly Alves da Silva, um dos acusados pelo assassinato do líder seringueiro Chico Mendes.

     João Lucena é citado em quatro diferentes listas do "Projeto Brasil Nunca Mais", contidas no tomo II, volume III “Os Funcionários”. Na primeira lista “Pessoas diretamente envolvidas em torturas”, seu nome aparece 7 (sete) vezes, às páginas 26 e 32. É indicado como policial e/ou agente da Polícia Federal do Ceará e tais denúncias referem-se aos anos de 1970 e 1973.

     Mas isso tudo não interessa ao Nelson Jobim ou ao general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que disse em entrevista que "não é motivo de vergonha para o País o desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar" (1964-1985).

     É verdade que o general foi repreendido pela presidente e pediu desculpas, dizendo que era tudo culpa da imprensa. Mas mostra que a ideologia da segurança nacional, que foi motivo para tantos assassinatos e torturas durante a ditadura militar está renascendo durante o governo de Dilma, tão bem servida com ministros como o general José Elito e Nelson Jobim.

     A festa continua, para eles. Se Dilma cumpre o seu papel de puxar as orelhas dos ministros que falam demais, isso não tem a menor importância. Eles sabem que Dilma jamais se atreveria a ir além de um puxão de orelhas ou seria ela a ser demitida do cargo de Presidente.

     Tanto é assim, que o Nelson Jobim está para lançar, no dia 28, o seu Livro Branco das Forças Armadas. Seguindo o exemplo dos Estados Unidos, França, Argentina, Uruguai, Peru, Guatemala, Chile, El Salvador e Canadá - países militarizados ou em via de acelerada militarização. Honduras, Colômbia, Panamá, Guatemala, República Dominicana, Costa Rica e Haiti não terão Livro Branco, porque já estão ocupados pelos Estados Unidos – direta ou indiretamente.

     Oficialmente, será uma declaração de princípios sobre como o Brasil deve encarar suas Forças Armadas, e permite que outros países conquistem a confiança em relação ao Brasil. Ou uma declaração de intenções.

     Estamos cercados por inimigos tão terríveis que será necessário que eles saibam que estaremos prontos para puxar o gatilho, se necessário for. Ou, conforme Nelson Jobim, é necessário defender as fronteiras contra o tráfico internacional, porque o Brasil não permitirá a internacionalização da Amazônia. Nos Estados Unidos as crianças em idade escolar aprendem que a Amazônia brasileira não é mais brasileira. Será que o recado do Jobim foi para os seus amigos norte-americanos?

     Na realidade, o Livro Branco da Defesa Nacional será uma arma dos militares contra as trocas de governo e os cortes orçamentários frequentes. Estará tudo ali, para ser lembrado – e cobrado – dos governantes. Ou talvez seja uma maneira de mostrar aos países que não estão alinhados com os Estados Unidos - como aqueles que formam a Aliança Bolivariana das Américas (ALBA) - que o Brasil está rearmando as suas Forças Armadas, e qualquer coisa...

     Quanto à Comissão da Verdade? Bem, parece que isso é coisa de civis e não interessa para o atual governo.

Fausto Brignol.

terça-feira, 26 de abril de 2011

UM IRMÃO E COMPANHEIRO NO BOM COMBATE: LUÍS ALBERTO DE ABREU

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Luís Alberto de Abreu é como um irmão para mim.

Conhecemo-nos lá por 1971, quando, ainda traumatizado pela prisão, tortura e adiamento  sine die  das minhas perspectivas de ver concretizada uma sociedade igualitária e justa, eu tentava me reencontrar com a vida, de repente tornada tão cinzenta.

Nem me lembro mais como se deu o primeiro contato, provavelmente graças a nosso amigo comum Douglas Salgado. Mas, logo estávamos nos falando e visitando. Ele morava em São Bernardo do Campo e ainda não decolara.

Assisti à última peça do grupo de que o Luís participava, Doces e Salgados, encenada no belo teatro daquele município: Tempo dos Inocentes, Tempo dos Culpados. Era um timaço: ele, a Rosi Campos, o Ednaldo Freire, o Calixto de Inhamuns. Não me lembro se também a Jussara Freire, a atraente esposa do Ednaldo, que acabaria se destacando na TV e nas pornochanchadas  soft  paulistas .

Era uma peça (creio que criação coletiva) na linha do Arena, de Brecht, do teatro engajado na luta contra a tirania -- com as metáforas que a dita (tão dura!) e o bom senso aconselhavam.

Já lá se vão uns 40 anos. Ficou-me a lembrança de que, logo no início da encenação, o Calixto feriu a mão num fio do cenário, mas atuou até o fim, com o sangue a escorrer.

Depois houve uma reviravolta na vida do Luís e, por uns tempos, ele morou na minha kitchenette e desperdiçou seu talento trabalhando comigo em assessoria de imprensa -- foi o ganha-pão que lhe consegui.

Logo encontrou atividades mais gratificantes e morada menos exígua.

Em 1980 estreou como autor ligado ao Grupo Mambembe, com a comédia Foi bom, meu bem?. O Calixto e a Rosi atuavam, o diretor era o Ewerton de Castro.

Tratou-se quase de uma criação coletiva com o texto sendo consolidado pelo Luís, que o submetia ao coletivo e refazia de acordo com as sugestões e discussões.

Cala boca já morreu, no ano seguinte, também tinha essas características difusas, de entretenimento com algumas agulhadas críticas e presença marcante da personalidade do grupo.

A consagração veio com a
empolgante "Bella Ciao". De arrepiar!
Mas, a boa acolhida dos seus dois primeiros trabalhos era tudo de que o Luís precisava para tentar a grande cartada: uma peça que tivesse exatamente a sua cara. Este  tour de force  se chamou Bella Ciao.

A saga de uma família de anarquistas italianos -- como muitas existiam em São Bernardo -- foi sucesso de público e de crítica. A partir daí, o Luís passou a ser respeitado como um talento maior da nossa dramaturgia.

[Minha humilde contribuição foi fornecer-lhe uma cópia da gravação que eu tinha da música Bella Ciao, hino dos partisans italianos, interpretada pelo Quilapayún. Deu para o gasto -- quer dizer, para os ensaios.]

Seguiu-se sua vitoriosa carreira de mais de 40 peças (inclusive infantis), três roteiros para cinema e minisséries escritas para a Globo, como Hoje é dia de Maria. Além de lecionar teatro, muito mais por idealismo do que em função da (parca) remuneração.

E o principal: conservou a integridade. Esteve a um passo de se tornar autor de produções majestosas e polpudas bilheterias, mas preferiu manter sua linha de propor reflexões, sem panfletarismo mas com aguçado espírito crítico, sobre diversos aspectos da desumanidade capitalista. Não aderiu ao  teatrão. Não se vendeu.

Quando atravessei o segundo pior momento da minha vida, quase indo à miséria em 2004/2005, talvez não tivesse conseguido driblar a adversidade sem o apoio do Luís, um daqueles raros amigos das horas difíceis..

Enfim, pelos méritos da obra e do autor, recomendo entusiasticamente a compilação de sua obra teatral, organizada por Adélia Nicolete: Luís Alberto de Abreu - um teatro de pesquisa (ed. Perspectiva, 2011, 696 p.)

Reúne 14 peças e três textos teóricos do Luís, além de avaliações críticas do seu trabalho e de sua importância para a dramaturgia brasileira.

Eu não me julgo isento (nem um pouco!) para analisar-lhe a produção, até porque o teatro nunca foi minha praia. Mas, concordo inteiramente com o que Ilka Marinho Zanotto destacou no prefácio:
"É extremamente importante a inserção do 'bom combate' (...) na literatura teatral hodierna, muitas vezes tão carente de ideal, aparentemente enredada no mais pragmático dos niilismos".
Luís está há quatro décadas travando o bom combate. É mais do que motivo para merecer o respeito e reconhecimento dos melhores brasileiros.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

AUTO CONHECIMENTO - MARCELO ROQUE


Por mais que o amor
faça-nos querer desvendar
sempre mais a pessoa amada,
tal experiência amorosa
serve-nos, principalmente,
para melhor desvendarmos
a nós mesmos

Marcelo Roque

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A FLOR E O ESPINHO - MARCELO ROQUE



A Flor e o Espinho

Enquanto há aqueles
que rejeitam as flores
por seus espinhos,
acolho eu os espinhos,
por suas flores


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Hélio Leites on Vimeo

Hélio Leites on Vimeo: "Documentário parte do projeto Thomás Tristonho

Artista: Hélio Leites
Dirigido, fotografado e editado por: André Saito & Cesar Nery
Trilha original: Fê Sztok e André Saito
Arte Gráfica: Pedro Hefs

Agradecimento: Carla D’aqui, Família Saito, Família Leites, ONG Soy Loco por Ti, Érico Massoli.

thomastristonho.com.br
oqueetristezapravoce.com.br
marciomoreno.com
vitrinefilmes.com.br"

VELHAS PALAVRAS - MARCELO ROQUE

Velhas Palavras

São sempre as mesmas
e gastas palavras
E os já conhecidos assuntos
Ainda assim, surpreende o poeta
Não pelas coisas que diz
mas pela forma como são ditas

Marcelo Roque

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REVOLTA ÁRABE: LIBERDADE, AINDA QUE TARDIA

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Ao ler que outro tirano bestial dos países árabes promoveu, na 6ª feira que para nós foi santa, outro massacre bestial, veio-me à lembrança a frase com que Edgar Allan Pöe iniciou seu soturno conto Metzengerstein:
"O horror e a fatalidade têm tido livre curso em todos os tempos. Por que então datar esta história que vou contar?"
Só que há, sim, um motivo para termos bem presente a data em que os Gaddafis e al-Assads tentam perpetuar-se no poder por meio das mais repulsivas carnificinas.

É que as lutas pela liberdade, em nações que não perderam o trem da História, aconteceram no final do século 18 e ao longo do século 19.

A sensação é de déjà vu. Parece que embarcamos num túnel do tempo, de volta a um passado autocrático que não deixou nenhuma saudade, para assistirmos à tomada de Bastilhas que há muito já deveriam ter virado pó.

E pensar que  ainda existem alguns tacanhos ditos de esquerda, capazes de, em nome de uma racionália tortuosa e também ancorada num passado execrável (o do stalinismo e da guerra fria), negarem a povos oprimidos esse mínimo sem o qual a existência humana se torna um exercício diário de aviltamento e humilhação.

Para os que amargamos a experiência de padecer sob as botas de tiranos fardados e não a esquecemos, faz todo sentido outra frase marcante, esta da peça Arena Conta Tiradentes: "Mais vale morrer com uma espada na mão do que viver como carrapato na lama!".

Que a liberdade continue guiando os povos árabes na sua heróica luta para saírem do lodaçal que os déspotas  lhes impõem, tomando todas as Bastilhas e derrubando todos os tiranos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

ESPETÁCULO - MARCELO ROQUE

Espetáculo

Nesta vida não há tempo para ensaios
Não existe a possibilidade para se decorar falas
As cortinas estão sempre abertas
e as coxias também fazem parte dos palcos
Portanto, se nos falta ensaio,
compensemos então com a emoção
Sem nunca nos cobrarmos uma perfeita apresentação

Marcelo Roque


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A VERDADEIRA PÁSCOA


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A Páscoa cristã, este ano, quase coincidirá com a Páscoa judaica. A páscoa judaica é celebrada de 19 a 26 de abril e a páscoa cristã de 21 a 24 de abril, sendo que o dia exato é 24 de abril. Se houvesse a coincidência entre as duas páscoas, isso seria considerado quase como um sacrilégio pela Igreja Católica e demais igrejas cristãs.

     Para que nunca houvesse essa coincidência, a Igreja Católica transformou a Páscoa numa festa móvel com o decreto do papa Gregório XIII (Ugo Boncampagni, 1502-1585), Inter Gravissimas em 24.02.1582, seguindo o primeiro concílio de Nicéia de 325 d.C., convocado pelo imperador romano Constantino. A data de Páscoa foi definida como o primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera (no hemisfério Norte). Esta data é muito próxima a 14º dia de Nisan. No caso de a data assim determinada coincidir ou se antecipar à celebração da Páscoa judaica (14 de Nisan), a Páscoa cristã deve ser adiada em uma semana para que seja conservada a analogia com a sucessão dos fatos históricos.

     Mesmo havendo uma fórmula para determinar a Páscoa a cada ano, tornando-a distante ao menos uma semana da Páscoa dos judeus, o curioso e quase alarmante para os cristãos é que este ano quase coincidiu e a Igreja nada fez a respeito, ou seja, não adiou a Páscoa de uma semana, como seria o correto. Talvez essa inação por parte da Igreja seja consequência direta das tentativas de ecumenismo, o que pode parecer bom na aparência, mas poderá levar o Cristianismo novamente a diluir-se dentro do Judaísmo, perdendo a sua razão de ser.

     Novamente, porque nos primórdios do Cristianismo, quando da feitura da Bíblia – erradamente chamada de Bíblia cristã – juntou-se a ela, além dos 27 livros do Novo Testamento, incluindo, muito mais tarde, o Apocalipse, os 46 livros, atualmente considerados canônicos da religião judaica, chamados de Velho Testamento – que incluem o Torá ou Pentateuco , os Livros Históricos, os Livros Poéticos ou Sapienciais (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos – algumas outras igrejas cristãs adotando os livros Sabedoria e Eclesiástico) e os Livros dos Profetas. Além desses livros, considerados canônicos ou aceitos como verdadeiros pelas duas religiões, ficaram de fora 52 livros do Velho Testamento e 61 livros do Novo Testamento – todos considerados apócrifos.

     Mas os livros que são a base da religião judaica, ou Velho Testamento, nada tem a ver com o Cristianismo. Foram adotados pelos cristãos, em momento de confusão quanto à verdadeira mensagem de Jesus, ou de tentativa de proselitismo entre os judeus. A própria religião judaica é completamente diferente da religião cristã. A única relação que existe com o Cristianismo é o fato de Jesus ter sido Judeu, porque a mensagem que ele passou é oposta à da religião dos judeus.

     Ele disse que deixava aos seus seguidores apenas dois mandamentos: 1º Amar a Deus sobre todas as coisas; 2º Amar ao próximo como a si mesmo. Nada mais. E no momento em que ele falou isso, deixou claro que os dez mandamentos da religião judaica não tinham mais validade. Também colocou o amor no condicional: devemos amar ao próximo na mesma medida em que amarmos a nós mesmos. Se não gostarmos de nós, nunca poderemos amar, verdadeiramente, aos mais próximos. Ele era um judeu, submetido às leis do seu país, como todo judeu, mas trazia uma nova mensagem, que foi a mensagem do amor, da paz e da igualdade.

     Nada tenho contra a religião dos judeus, que foi criada para unir um povo nômade e forjar uma raça. Mas o deus Judeu, Javé, era chamado de “Deus dos Exércitos”, enquanto Jesus pregava a paz. Em nenhum momento do Novo Testamento é encontrada a palavra Javé, ou Jeová. Jesus, ao referir-se a Deus falou de um deus de bondade, a quem deu o nome de Pai e que está sempre pronto ao perdão. O deus Jeová dos judeus, de acordo com o Velho Testamento, mandava matar a todos os inimigos da nação hebraica e quando o primeiro rei judeu, Saul, desobedeceu essa ordem, depois de uma batalha, foi destituído da sua realeza.

     No entanto, as igrejas cristãs pregam o Judaísmo junto com o Cristianismo, o que é um absurdo. Isto, graças ao fato de que o livro que deveria pregar unicamente a mensagem de Jesus – a Bíblia – foi unido ao chamado “Velho Testamento”, que prega a mensagem do Judaísmo. E uma religião que estava confinada a uma raça, por vontade explícita dessa raça, e que somente era divulgada entre os membros dessa raça, em uma faixa estreita do Oriente Médio, graças ao Cristianismo é conhecida pelo mundo inteiro.

     Porque o Cristianismo foi – e continua sendo - o principal veículo de divulgação do Judaísmo.

     A Páscoa da religião judaica significa “passagem” ou “libertação", porque, segundo a fé dos judeus, o seu deus os teria tirado do Egito no dia 14 do mês de Nisan do ano 5771, de acordo com o calendário judaico. Naquele dia, depois de muito insistir com o Faraó para que o povo judeu pudesse sair do Egito, Jeová teria mandado o seu anjo para matar todos os primogênitos das famílias egípcias. Enquanto os egípcios choravam os seus filhos, os judeus foram embora, depois de um jantar que incluía um cordeiro assado e pão sem fermento.

     Desde aquele dia, os judeus comemoram esse feito no dia 14 do mês de Nisan.

     Os cristãos faziam o mesmo, nos primórdios do Cristianismo, porque os primeiros cristãos eram judeus. E provavelmente Jesus participou muitas vezes da celebração da páscoa judaica. A última vez foi chamada de Santa Ceia, ou Última Ceia, quando Jesus disse que ele era, doravante, o cordeiro de Deus, aquele que tirava os pecados do mundo. E disse que o pão que eles estavam comendo era o seu corpo, o corpo do cordeiro de Deus, e que o vinho que estavam bebendo era o seu sangue, o sangue do cordeiro de Deus. E pediu aos apóstolos que fizessem isso, seguidamente, para lembrá-lo. E foi naquela santa ceia que foi instituída a eucaristia.

     O significado de eucaristia é "reconhecimento", "ação de graças". E uma celebração em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Também é denominada "comunhão", "ceia do Senhor", "primeira comunhão", "santa ceia", "refeição noturna do Senhor".

     O evangelista Lucas registrou esse mandamento da seguinte forma: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20, e também Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, I Coríntios 11:23-26).

     Naquela noite ele foi preso, depois de ser entregue pelo traidor Judas Iscariotes ao Sinédrio, que era uma espécie de conselho maior da religião judaica. Os sacerdotes judeus o entregaram ao braço secular romano. Poncio Pilatos, que era o governador da Galiléia, entregou Jesus ao tetrarca da Galiléia, Herodes Antipas, alegando que Jesus era da jurisdição de Herodes, o qual, depois de humilhar Jesus de todas as maneiras, enviou-o de volta a Pilatos. Cabia a Pilatos a decisão. Jesus foi interrogado, açoitado e Pilatos não achou nele culpa alguma.

     Naquele tempo havia o costume judeu de libertar um prisioneiro durante a Páscoa. Pilatos perguntou se queriam libertar Jesus ou Barrabás, que era um perigoso criminoso. Os judeus disseram que queriam que Pilatos crucificasse Jesus e que soltasse Barrabás. Pilatos lavou as mãos, simbolicamente, dizendo que estava isento daquele crime e que a culpa recairia sobre os judeus. Os judeus retrucaram dizendo que assumiam a culpa do crime.

     Jesus foi crucificado na sexta-feira, véspera da Páscoa dos judeus, que era no sábado. Morreu e ressuscitou ao terceiro dia, no domingo, que passou a ser o dia sagrado dos cristãos, porque naquele dia Jesus venceu a morte.

     Durante o I Concílio de Nicéia (325 d.C.), entre outras questões doutrinárias ficou estabelecido que a Páscoa cristã deveria ser celebrada separadamente da Páscoa judaica, porque os significados das duas Páscoas eram diferentes e também porque os judeus é que tinham mandado matar Jesus. Isso foi referendado pelo Concílio de Antioquia (341 d.C.) que proibiu os cristãos de comemorar a Páscoa junto com os judeus. Já o Concílio de Laodicéia (363 d.C.) proibiu os cristãos de observar o Shabbat e de receber prendas de judeus ou mesmo de comer pão ázimo nos festejos judaicos.

     Assim, quando da instituição do Calendário Gregoriano, ficou fixado que a Páscoa aconteceria no primeiro domingo após a lua cheia que ocorre em ou logo após 21 de março. Sendo que 21 de março nem sempre é o dia do equinócio, mas para a Igreja era necessário encontrar um dia fixo, para basear a sua fórmula que estabelece a Páscoa a cada ano. Mas, principalmente, era importante que os dias da Páscoa cristã – a Semana Santa – jamais coincidissem com os dias da Páscoa judaica, porque o significado da Páscoa cristã difere completamente do significado da Páscoa judaica.

     Mesmo que o Cristianismo tenha sido o veículo através do qual o Judaísmo ficou conhecido no Ocidente, devido à união da mensagem das duas religiões em um só livro, a Bíblia, são religiões diferentes com objetivos diferentes e mensagens quase opostas.

     A religião judaica, de acordo com a lenda, foi criada pelo seu deus, Jeová ou Javé, para unir o povo judeu em torno do objetivo material de conquistar a Terra Prometida, que seria, hoje, a Palestina. Mesmo sofrendo todas as perseguições conhecidas através dos tempos, o judeus nunca se afastaram dessa linha religiosa e usaram-na para invadir a terra dos palestinos e confiná-los na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Com o apoio da ONU, que em 1948 criou o Estado de Israel em uma terra povoada por palestinos.

     Mas o Cristianismo, ao contrário, não é uma religião materialista. Jesus costumava dizer: “O meu reino não é deste mundo”. E pregava aos seus seguidores a humildade, a paz, o amor e a busca da igualdade entre os povos.

     Mesmo com todas as contradições e erros da Igreja através dos tempos, essa mensagem de Jesus atravessou os séculos e perpetua-se como o esteio espiritual do Cristianismo. Além disso, persiste o erro histórico de se considerar o deus dos judeus o mesmo deus que Jesus chamava de Pai – e passará ainda um bom tempo antes que esse erro seja suprimido de vez.

     Nesta Páscoa devemos lembrar que a ressurreição está presente em todos nós. Como seres materiais devemos, naturalmente, morrer, mas mesmo a morte é a contraparte da vida conhecida e devemos encará-la como mais uma etapa a ser percorrida sem o corpo material. Talvez uma etapa de preparação para uma vida superior e mais espiritualizada.

     O ovo da Páscoa - apesar da sua utilização comercial pelo nosso atual mundo mercantilista - simboliza a ressurreição, porque tudo está em tudo e a vida é eterna, em suas diferentes formas ou aparências. Mas o principal símbolo, eternamente vivo, que devemos sempre lembrar, é o deixado por Jesus através do seu sacrifício, para nos lembrar que a vida é muito mais do que a matéria conhecida e que a busca da transcendência deve ser uma constante em todos nós.

     Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá.”

Fausto Brignol.