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sexta-feira, 1 de abril de 2016

É urgente parar de usar “microcefalia” para algo muito mais amplo



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É urgente parar de usar “microcefalia” para algo muito mais amplo  
31/03/2016

Para especialista, correção na terminologia é fundamental para garantir direitos e aprofundar as pesquisas


“Microcefalia é um termo completamente inadequado para usar no caso da síndrome do zika congênita”, afirma o geneticista e especialista em medicina fetal Thomaz Gollop, professor da Universidade de São Paulo. A crítica ao uso equivocado do termo não é preciosismo, pois essa prática, amplamente disseminada pelos profissionais de saúde e da imprensa tem impacto direto na atenção e garantia de direitos das mulheres e na capacidade de avançar nos estudos relacionando o vírus a má formações do sistema nervoso central de bebês.
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Em primeiro lugar, o uso equivocado do termo microcefalia faz com que sejam feitas comparações entre doenças completamente diferentes. Há casos, em que a moleira do bebê fecha precocemente, a cranioestenose, em decorrência de uma síndrome genética, explica Gollop. E, se identificada precocemente, a doença pode ser tratada com cirurgia. Mas não se trata de microcefalia.
Este é o caso, explica o geneticista, de Ana Carolina Dias Cárcere, que ficou conhecida na mídia por ser uma jornalista, supostamente com microencefalia, e que leva uma vida normal, aos 24 anos. “Ela tem cranioestenose. Foi operada diversas vezes e é absolutamente normal e inteligente. Não tem nada a ver com a síndrome do zika congênita.”
Outros casos levantados pela mídia e criticados por Gollop são de irmãs, em idades diferentes, com microcefalia. Estes seriam casos de microencefalia primária, por determinação genética, que também não devem ser comparados com casos de síndrome do zika congênita.
Já a síndrome do zika congênita tem como uma de suas consequências a microcefalia secundária, em que o crânio e o cérebro se desenvolvem normalmente até que por um evento ocorre uma lesão. “Pode ocorrer por falta de oxigênio, hemorragia, meningites ou encefalites de origem infecciosa. É o que pode ocorrer no caso de se contrair sífilis na gravidez, por exemplo”, detalha Gollop. Assim, mesmo no caso da microcefalia secundária, não é possível generalizar.
O quadro clínico da síndrome do zika congênita, por sua vez, é muito diversificado. Além da microcefalia estão sendo identificadas calcificações intracranianas, dilatação do sistema nervoso central, acentuada lesão do córtex cerebral, alterações oftalmológicas graves, lesões graves no globo ocular, além de articulações rígidas e dobras no couro cabeludo.
Para o especialista, o fato de haver confusão entre microcefalia e síndrome do zika congênita faz com seja disseminada uma falsa ideia de tratamento. Alguns governos estariam fazendo autopromoção com promessas de tratamento para os bebês após o nascimento. “No máximo, podemos falar de suporte, mas com resultados limitados”.
Sem entender exatamente do que se trata a síndrome do zika congênita, muitos casos estão sendo colocados na mesma cesta, o que atrapalha o avanço das pesquisas. Também é negado o direito das mulheres de acesso à informação e direito de escolha. Thomaz Gollop falou no Simpósio sobre os Direitos da Mulher, organizado pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP)



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