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AOS TEUS PÉS - MARCELO ROQUE; Glória Kreinz divulga



Aos Teus Pés

Lindos são estes teus pés

os quais tanto amo pela textura
e delicadeza das formas
Onde tão sutilmente equilibram-se
tuas dores e amores
E que sustentam
e elevam tuas belezas
à vertiginosas alturas
Amo-os tanto
que desejo apenas tocá-los
além dos toques
e beija-los além de mim
Pondo-me assim,
infinitamente aos teus pés
Versejando-os com minhas carícias


Marcelo Roque

BRADLEY MANNING-VITIMA DO FASCISMO AMERICANO





Bradley Manning:
Vítima do Fascismo Americano
Carlos Alberto Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
27 de agosto de 2012
[The military have been] given a large brain by mistake, since for him the spinal cord would fully suffice.
[Os militares têm] recebido um grande cérebro por engano, já que para eles teria sido suficiente uma coluna vertebral.
Albert Einstein, físico e matemático alemão [1879-1955], prêmio Nobel, considerado um dos três maiores cientistas do século 20.
Poucas pessoas no Brasil se têm preocupado com o drama do jovem americano Bradley Manning, salvo, que eu saiba, o escritor Celso Lungaretti, que lhe dedicou vários artigos em seus blogs. Que me lembre, ele escreveu três artigos, mas pode haver outros que não lembro agora (Vide)
Manning está preso numa horrenda masmorra dos EEUU por um delito que, numa sociedade sadia e pacífica seria considerado uma honra: ter ajudado a Wikileaks a difundir a verdade sobre os crimes de guerra, assassinatos de civis, massacres de pessoas indefesas e outras violações praticadas pelos invasores americanos em Iraque.
Em realidade, sua participação nos vazamentos de Wikileaks não tem sido provada, mas esse argumento é irrelevante para sua defesa. Se ele não vazou essas informações, é uma vítima. Se ele vazou essas informações, é um herói.
Em ambos os casos merece o maior respeito e a maior solidariedade de todas as pessoas que se consideram humanas, pacifistas e inimigas de qualquer forma de fascismo, já que o fascismo é um tipo de ação política e pode estar representado em qualquer país, e falar em qualquer língua.

Quem é Manning?

Bradley Edward Manning, nascido em 1987 é um soldado do exército americano que foi preso em maio de 2010, em Iraque. Ele foi acusado de ter passado material militar sigiloso a Wilkileaks. O Pentágono o acusa de numerosos atos, que na gíria militar são “crimes”: ter dado informação sobre a defesa dos EEUU a uma fonte externa (ou seja, Wikileaks) e ajudar o inimigo.
No jargão belicista isto se chama “traição”, pois as castas militares supõem que qualquer que não compartilhe suas idéias e encubra seus crimes, viola certo compromisso fetichista entre o cidadão e o exército. Ou seja, pelo fato de ter nascido num lugar e por estar numa instituição, eles acham que a pessoa deve obediência cega, acima da sua própria moral e consciência.
Não obstante, neste caso, o promotor diz não estar propondo a pena de morte para Manning, mas “apenas” 52 anos de prisão.
Os seguintes dados estão tomados do site de Anistia Internacional, que faz uma campanha pelo trato justo para Manning. (Vide)
Manning é mantido durante 22 horas por dia, numa cela solitária, sem travesseiro, lençóis nem objetos pessoais desde Julho de 2010.
Anistia escreveu ao secretário de defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, pedindo que Manning seja objeto de um trato humano. Nos dias seguintes, ele sofreu restrições e penalidades ainda maiores.
Com o pretexto de que ele está em risco de suicídio foi despossuído das roupas externas e de seus óculos, que são imprescindíveis por causa de sua alta miopia.
Estas restrições foram eliminadas pouco depois, mas ele é ainda considerado como detento de máxima custódia, apesar de não ter qualquer antecedente de violência. Durante as visitas, ele é algemado nos pulsos e nos tornozelos, uma praxe cruel e sádica, sendo que ninguém consegue fugir o rebelar-se numa prisão de alta segurança, muito menos fazer refém uma visita.
O governo americano está colocando em risco sua saúde mental, pois cada 5 minutos o pessoal de custódia olha para ele através da janela de sua cela, e controla as barras do xadrez mesmo quando está dormindo.
Os advogados de Manning dizem que todas suas reclamações são ignoradas pelas autoridades.

Brasil deve Ajudar Manning

Há alguns meses, uma comissão do Senado Brasileiro enviou um pedido de liberdade para os cinco cidadãos cubanos que estavam presos nos EEUU, por supostas acusações de espionagem.
Em 22/03/2012, o Senador Eduardo Suplicy, sempre preocupado pelos direitos humanos, requereu que a Comissão de Relações Exteriores do Senado Brasileiro, se manifestasse contra o bloqueio a Cuba (que foi aprovado), e a soltura dos presos políticos cubanos (que, nessa, fase no foi aprovado por  um voto de diferença).
O mais semelhante ao caso de Manning é o pedido de soltura dos cinco prisioneiros cubanos falsamente acusados de espionagem, que também foi proposta de Suplicy e foi aprovado pela Comissão.
Observe-se o seguinte:
O Caso de Manning e dos Cinco Cubanos coincidem em que:
1.     Em ambos os casos, as pessoas punidas agiram de maneira pacífica, procurando ou difundindo informação para evitar novos abusos dos EEUU sobre outros povos.
2.     Em ambos os casos, as pessoas foram detidas sem respeito e seus direitos humanos, e sem que tivessem cometido nenhuma transgressão ao direito natural.
Mas há também algumas diferenças:
1.     Os Cinco Cubanos fazem um grande benefício ao povo de seu país, protegendo-o de novos ataques americanos e, por reflexo, beneficiam toda América Latina. O esforço de Manning tem maior alcance, pois ele está ajudando a Wikileaks, cujo objetivo é a denúncia do imperialismo em todas as partes do mundo.
2.     As prisões americanas são centro de tortura e barbárie, controladas por funcionários sádicos e psicopatas, mas, mesmo assim, há diferenças de grau. Manning, por ser americano, é considerado pelos EEUU como um traidor, o que aumenta muito o ódio dos militares, que consideram imutáveis os laços de solo e sangre. Por isso, Manning é tratado com mais brutalidade ainda que os Cinco Cubanos.
Embora o sofrimento destas pessoas possam apresentar diferenças, não há motivo para defender uns e não outros.
POR TANTO, FAÇO UM FORTE APELO AO PARLAMENTO BRASILEIRO PARA APRESENTAR UM PEDIDO AO CONGRESSO AMERICANO em favor de MANNING ONDE SE SOLICITE:
1.     Colocar Manning em liberdade, ou então, mostrar claramente qual é a acusação. Fazer notar ao governo americano que a prisão de Manning está em contradição com a Primeira Emenda Constitucional, que diz:

Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances.
O congresso não deve fazer leis a respeito de se estabelecer uma religião, ou proibir o seu livre exercício; ou diminuir a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou sobre o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações por ofensas.
2.     Durante o tempo que ele continue preso, transferi-lo a uma prisão normal e dar-lhe todos os direitos de um detento não acusado, como trabalhar na prisão, estudar, escrever, poder mover-se livremente em seu interior, socializar-se com outras pessoas, não ser algemado, não ser especialmente vigiado, etc.

CORREA & ASSANGE: PRIMEIRA VITÓRIA MAS NÃO ÚLTIMA








Correa & Assange: Primeira Vitória, mas não Última
Carlos Alberto Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
25 de agosto de 2012
Na reunião da Organização dos Estados Americanos de ontem, o governo de Rafael Correa e todas as forças progressistas da América Latina e do mundo, tiveram a primeira vitória no que pode ser uma longa e árdua corrida para liberar Julian Assange da caçada de bruxas lançada pelos Estados Unidos.
Equador não conseguiu, porém, que o termo “ameaça” (em referência ao ato de terrorismo verbal dos britânicos de sugerir que atacariam a embaixada) fora incluído no texto. Mas, esse detalhe semântico é menor, pois todos os países, incluso os EEUU, porém não Canadá, aprovaram o segmento onde se lembra a inviolabilidade das delegações diplomáticas e se insta ao UK e ao Equador a continuar as negociações. Os EEUU não votaram o ponto 4 no qual os países da América Latina declaram seu apoio ao Equador, mas ele foi aprovado por todos os latinos.
Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato marxista à presidência da França foi fator decisivo no triunfo de Hollande, ao desequilibrar a balança da direita com 11,1% dos votos que ganhou no primeiro turno e repassou a Hollande no segundo. Ele propõe que a França se some aos países que apoiam a Equador contra ao Reino Unido. Este é um assunto complexo, pois a brava França sempre esteve dividida entre direita e esquerda, e  hoje o governo progressista é uma ilha no mar do neofascismo de uma Europa genuflexa aos EEUU. Mas é fundamental que os brilhantes ativistas franceses mantenham vigilância sobre o que acontece em Londres.
Embora a decisão da OEA possa parecer um triunfo pequeno, é importante que, após a reunião desta organização, o Reino Unido tenha diminuído suas brutais ameaças de invasão, que se apoiavam no Diplomatic and Consular Premises Act de 1987. Este ato foi aprovado para conter os ataques das embaixadas contra a sociedade britânica, e não para justificar a ação do UK contra as embaixadas que defendem os Direitos Humanos.
A motivação deste Ato foi o ataque de 1984 dos funcionários líbios da embaixada de seu país, contra uma passeata pacífica, durante a qual mataram uma jovem policial disparando jatos de metralha por uma janela. Curiosamente, os indignados ingleses nunca invadiram a embaixada líbia, e até Tony Blair teve a falta de decoro de reatar relações com Gadaffi algum tempo depois, sob a enorme crítica dos sobreviventes dos atos terroristas do demencial jagunço islâmico.
Agora, o UK não fala mais do famigerado Ato, e reforça seu interesse no caminho da negociação. Mas, isso não deve fazer levantar o alerta, com certeza. Hoje mesmo, um plano traçado para sequestrar Assange apenas assomasse um átomo de seu corpo fora da embaixada, vazou dos escritórios de Scotland Yard. Não era um plano muito secreto nem bem protegido, é claro, mas mostra que a imprensa não está disposta a se deixar amordaçar e não tem interesse em fritar Assange.
Mas, existem vários interrogantes que só podem ser respondidos por aproximação, com base em conjeturas:
1.     Por que William Hunt se apressou a pressionar Equador com ameaças tão truculentas e desconhecidas na história diplomática (salvo no caso de Irã) como a de invadir a Embaixada?
É quase certo que Hunt, Cameron e suas equipes tenham pensado, com bastante motivo, que os governos de América Latina são, em sua maioria, fracos e acomodados. Talvez eles lembrassem o caso de um refugiado político que deveu esperar quatro anos para que o governo do país em cujo território (e não embaixada) estava prisioneiro, recusasse sua extradição. Os ingleses devem ter apreendido que governos ambiciosos e sem escrúpulos não tem problema em negociar vidas humanas por vantagens econômicas e estratégicas, ás vezes ínfimas.
Mas eles erraram, porque Correa, junto com Evo Morales, Daniel Ortega e talvez algum outro, são exemplo de dignidade e humanismo.

2.     Por que os EEUU apoiaram parcialmente a resolução da OEA?
Os EEUU tentaram se opor à convocação da OEA com diversos pretextos, mas não tiveram sucesso. Quando, em 2007, Correa convocou a Organização por causa do ataque a seu próprio território pelos Estados Unidos e seus servos colombianos, os americanos se opuseram, porque aí eles estavam implicados de maneira óbvia. Aliás, argumentaram, naquele momento, que se tratava de uma ação antiterrorista.
Mas eles não podiam acusar Assange de terrorismo. Mesmo para a barbárie e cinismo da Casa Branca existe um limite. Eles não podem dizer que já têm um Grande Júri formado em Virgínia para condenar Assange, embora todo mundo saiba, e que há um forte movimento para executar o ciberativista. Votar em favor de Equador significa simular neutralidade e aguardar, na esperança de que os equatorianos relaxem e abram uma brecha para que algum comando britânico possa retirar o perseguido do edifício da embaixada de maneira silenciosa. Talvez possam usar o poderoso agente 007, mas temo que ele já esteja um pouco velho para ações que requerem muita ação e acrobacias.
Jornais e blogues financiados pela CIA e “companhias” fraternas se deleitam observando que a OEA não decidiu nada sobre o asilo de Assange. Mas, ninguém colocou a questão do asilo, e esse problema jamais esteve em pauta. Embora o asilo seja uma instituição universal do direito humanitário, as leis internacionais sobre asilo não obrigam o UK, porque os países Europeus não são signatários de nenhum acordo sobre proteção diplomática.
Mas, o Equador já disse que recorreria às Nações Unidas e ao Tribunal da Haia. Se, como esperamos, essa decisão é forte, e o governo Equatoriano resiste as veladas ameaças de parte da imprensa britânica (como o comentário do jornalista Will Grant da BBC Latino América, para quem “colocar mais gente no problema complicaria a situação”), ela pode ter um resultado de pressão. A Comissão de DH da ONU deveria condenar a ação do UK. Embora os imperialistas se importem pouco das condenações morais, também devemos reconhecer que o imperialismo não tem agora a mesma força que há 40 ou 50 anos, e que este neofascismo globalizado não pode ignorar totalmente as normas, como fez o 3º Reich nos anos 40.
No que diz respeito à International Court of Justice, de Haia, ela poderia tomar como referente o caso de 1950, Peru contra Colómbia, por causa do asilo de Víctor H. de La Torre.
A negação de salvo-conduto para Assange não é uma infração diplomática, já que a UK não está submetida à jurisdição internacional nesse ponto. Mas é um crime contra os direitos humanos, já que viola a Declaração Universal em seu artigo 14, onde garante que toda pessoa tem direito a pedir e desfrutar do asilo.
A Declaração não obriga a nenhum país a dar asilo. Contudo, se o perseguido conseguir o asilo de um país, esta lei outorga o direito a usar esse asilo. Mas, o UK está obstruindo o disfrute desse direito. Logo, o UK está se opondo a uma norma Universal (e não apenas regional) dos Direitos Humanos.
O único argumento que o UK poderia usar é que Assange está perseguido por supostos “delitos comuns”. Bom, mas então provem que existem esses delitos!
Até um estado fascisto-stalinista-delinquencial como a Itália pediu a extradição de Battisti acompanhado um enorme dossiê. As “provas” apresentadas no dossiê eram todas falsas, mas, pelo menos, teve a gentileza de “enganar” os que queriam ser enganados.
Nos próximos passos, várias entidades e pessoas tem um papel fundamental:
1.     A esquerda sueca, especialmente as feministas de esquerda. Elas podem ajudar muito se seguirem o caminho de Hellen Bergman, que é consciente de que  o embuste do estupro manuseia e deturpa a longa luta das feministas pelos direitos de gênero. Ela moveu um processo contra a misteriosa promotora Marianne Ny, cujo resultado é incerto.

2.     Os grupos de defensa cibernética, como o próprio Wikileaks e, especialmente, Anonymous. Eles têm mostrado bastante eficiência (que, no entanto, deve ser aprimorada). Esta réplica dos ciberativista é estritamente defensiva e pacífica, pois ninguém pode dizer que a destruição de bits ou instruções seja uma violência contra alguém. Não existe, que eu saiba, o genocídio de elétrons. (Que deveria chamar-se “eletrocídio”). Todos os dias, em nossos computadores “matamos” trilhões de inocentes bits. Por que não mata-los nos computadores que armazenam dados para matar seres humanos e destruir povos?

3.     E, obviamente, os países latinoamericanos. Em particular, a Argentina deveria pagar uma forte dívida que tem com o Equador. Apesar de ser um pequeno país, que não tira nenhum lucro de sua política externa, como fazem outros estados da região, o Equador apoiou a reclamação territorial da Argentina. Se o país austral moveu até um boicote contra o UK por uma causa mais do que discutível, sem repercussão alguma sobre os direitos humanos, deveria envidar um esforço pelo menos duplo para ajudar a tirar de sua prisão a pessoa que mais preocupa ao imperialismo em todo o planeta.

4.     Os seis prêmios Nobel da Paz, que pretenderam inutilmente serem recebidos por Cameron, para reclamar sobre as Malvinas. Eles deveriam pensar que a causa da transparência, a verdade, e a luta pelos direitos humanos são bem mais importantes que qualquer disputa por ilhas, penínsulas ou continentes inteiros. Salvo para os místicos do Blut und Boden, nunca a matéria inanimada pode valer o mesmo que as vidas.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CASO ASSANGE: SITUAÇÕES SIMILARES NO PASSADO


Ocupação da embaixada Americana; 1979. Teerão

Caso Assange:
Quantas Vezes já Aconteceu Isto?
Carlos Alberto Lungarzo
Prof. Tit. (r) Univ. Est. Campinas, SP, Br.
21 de agosto de 2012
Se ficava alguma dúvida de que a Suécia e o UK atuam como alcoviteiros  dos EEUU para prender Assange, o empenho britânico em atacar a Embaixada de Equador dissipa qualquer ceticismo.
Quantas vezes foi assaltada uma embaixada neste planeta? Nas últimas décadas, quase nunca. Todos os dias, tanto grandes potências como ditaduras pequenas e médias produzem fatos muito mais graves que a violação de imunidade diplomática: tortura, genocídio, execuções, massacres.
No entanto, para a mentalidade fetichista da sociedade de classes, o assalto a uma embaixada é uma espécie de sacrilégio, um pecado mortal. Os governos se acham sagrados, já que representam as elites de seus países (embora sejam votados por muitos outros), e por isso o ataque a uma embaixada é visto como um ato que não deve generalizar-se, porque, quando se quebra um fetichismo, todos os que se utilizam dele, ficam desmoralizados. Há uma saída colonialista, é claro. O mundo se divide entre verdadeiros países e bolsões de população pobre. A sacralidade das embaixadas vale para os primeiros, mas não para os segundos. No entanto, o risco de escândalo tem feito que até os mais violentos e irracionais sistemas políticos se abstenham de invadir as embaixadas de seus piores inimigos.
Aliás, atacando uma legação diplomática, o país agressor está justificando que tal ato seja realizável por outros que tenham pretextos similares ou diversos, e corre o risco (como sem dúvida acontecerá neste caso), de que suas próprias legações sejam alvo de ataques no mundo todo. É claro que, para manter a hipocrisia das relações internacionais, os governos não ousariam manifestar-se em alta voz, mas abundam os movimentos populares em quase todo o mundo, capazes de reagir a nossa eterna condição de lata do lixo da OTAN e seus lacaios.
Por esse e outros motivos, quase nunca um governo foi capaz de assaltar a embaixada de outro país em seu território.
 Como já comentamos em vários posts desta série, em casos excecionais e bem determinados, o UK, através de seu Act 46 de 1987, pode permitir-se entrar numa embaixada. No entanto, um fato mais do que curioso é que, sendo esse Act motivado pelo ataque de funcionários da embaixada Líbia contra policiais londrinos, o UK não fez uso de seu privilégio de entrar na embaixada da Líbia, mesmo após essa nova lei.
Ou seja, o atirador ou atiradora que crivou de balas à jovem policial Ivonne Fletcher, de 26 anos, em 1984, nunca foi procurado, nem mesmo identificado. Apesar do pretencioso Act 46, o UK preferiu pensar no rico e barato petróleo líbio, que Gaddafi vendia a preço baixo, do que fazer justiça com uma garota assassinada. No país que asilou Karl Marx, parece que tempo corre no sentido oposto, em direção à Idade Média.
Isto, por si só, é uma gritante autoconfissão do cinismo e da hipocrisia do já decaído (não apenas decadente) império britânico.
Aliás, essa lei não foi usada jamais. É verdade que em 1988, policiais britânicos entraram na embaixada de Cambodja para expulsar um grupo de sem-teto que a tinha ocupado, mas fez isso por indicação do próprio embaixador de Cambodja.
Não existe, então, nenhum ataque de um país democrático contra uma embaixada que seja lembrado na história da diplomacia.
Mas... esta reflexão não apenas para os democráticos. Nem mesmo as ditaduras ousam atacar embaixadas. Em 1973, quando Harald Edelstam tinha refugiados em sua casa particular e na embaixada da Suécia no Chile, totalizando algo mais de 1000 asilados, a recém instalada ditadura de Pinochet teve a tentação de invadir a sede, mas mudou em seguida de idéia, e até, tempo depois, deu salvo-condutos para que os asilados pudessem viajar a Suécia. (Um desses asilados foi o diretor do filme onde se critica a nova Suécia neoliberal Bastardos no Paraíso, Luis R. Vera).
No último meio século ou mais, o único país que atacou uma embaixada foi o Irã, que ocupou a legação americana e fez reféns. Ora, seria uma grande surpresa saber que os britânicos, com seu histórico de humanismo, ciência e democracia (misturado com colonialismo e patíbulo) desejam ser comparados com aquele mundo obscuro de fanáticos místicos e apedrejadores de mulheres.
Que se pode dizer, então, dos que em vez de assaltar embaixadas, preferem recusar salvo condutos aos asilados nelas? A verdade é que são muito poucos, e quase nunca foram países democráticos.
Os casos mais conhecidos são:
1.      Peru contra a embaixada de Colômbia nos anos 40, durante a ditadura de Manuel Odria.
2.     A Hungria pró soviética contra a embaixada dos EEUU entre 1956 e 1971, para evitar o asilo do cardeal, que esteve finalmente 15 anos dentro da delegação.
3.     Argentina durante a última ditadura, contra a embaixada de México, para impedir a saída de um grupo de refugiados.
4.     A Etiópia contra a Itália também para conter asilados.
5.     A prática aconteceu também várias vezes com a China, mas quase sempre o governo chinês acabou negociando.
A ameaça de Hague, não desmentida e consentida por Cameron, coloca potencialmente a UK como candidato a executar um dos atos mais escandalosos da história diplomática e também um ato nunca realizado por um governo dito “democrático”.
Embora exista genuína preocupação nos países Latinoamericanos, pareceria, pelo menos externamente, que os estados que se solidarizam com Correa, como no caso do grupo ALBA, não estivessem adotando planos concretos de ação no caso de que esta barbaridade acontecesse. Se bem a pressão internacional jamais preocupou aos EEUU, é verdade, no entanto, que os britânicos são mais perceptivos das queixas externas, especialmente porque seus cidadãos são, em média, muito mais conscientes. Entretanto, se o UK tentasse uma blitz contra o Equador, não parece que existam meios para impedi-lo ou para uma rápida resposta.

Depois, vai ser tarde demais, mesmo se houver (sem dúvida não haverá) pedidos de desculpas. Os países da região, especialmente os mais fortes, como o Brasil e a Argentina, devem posicionar-se energicamente contra esta ameaça. As manifestações indignadas são necessárias, mas os governos não se preocupam com elas se não soubessem que serão seguidas de atos concretos. Em particular, a Argentina podia utilizar a energia humana desperdiçada em sua longa disputa territorial de quase dois séculos e, agora, confrontar-se com a Grã Bretanha por uma causa realmente racional, humana, universal e progressista.
É necessário ter em conta que o sequestro de Assange pode ser um ato relâmpago, do tipo que costumam fazer os israelenses com mais discrição, e que se uma pessoa de tanto valor para o mundo for assassinada aos 41 anos, todos nós devemos nos considerar culpáveis.
Há vários indícios de que a tocaia está montada e prestes a funcionar:
1.     Suécia mente com uma hipocrisia torpe. Diz, por um lado, que a caçada a Assange nada tem a ver com Wikileaks. Mas, por outro lado, diz que não pode dar garantias a Assange. Afirma que quem deve fazê-lo é o governo dos EEUU. Mas, não disseram que o problema era um suposto estupro??? O que os EEUU têm a ver com isso???
2.     Por sua vez, os EEUU dizem que não está em pauta a extradição de Assange, mas a Suécia transfere para os americanos a responsabilidade de dar garantias. Se Suécia pensa que os EEUU não querem extraditar Assange, por que deveriam fazer a ressalva de que eles (os suecos) não são responsáveis, mas sim os americanos?
3.     A Suécia não está obrigada a aceitar um pedido de extradição, como nenhum país está. Por que, então, cogitar que Assange poderia acabar sua viagem nos EEUU? Será que já tem preparado até os termos do aceite de extradição?
4.     Alguém pode confiar na palavra dos americanos? Os europeus, tendo as melhores livrarias da Europa e os melhores scholars,  não leem livros de história? Não conhecem os milhares de abusos dos EEUU contra outros países, especialmente nas Américas, violando todos os acordos, mesmo escritos e carimbados?
5.     Finalmente: suponhamos que os EEUU tem um raro ataque de sensibilidade (talvez porque os explosivos que lançam no mundo vêm, em alguns casos, com um “gás da bondade”). Eles decidem julgar Assange e, em vez de condená-lo a morte, dão-lhe dois meses de cadeia.
Ora, por que a opinião pública deveria tolerar isso? Por que alguém que luta para esclarecer uma humanidade narcotizada pelas grossas mentiras da mídia comercial, que defende a paz, que desvenda os secretos da agressão genocida e imperialista, por que essa pessoa, em vez de receber o prêmio Nobel da Paz (dado a muitas pessoas que não mereciam) deveria amargar um castigo, mesmo de dois meses de prisão.
No meio a esta angústia insana, cabe uma reflexão divertida. Se os suecos e ingleses fossem sinceros, todo este absurdo alarde de ameaças teria sido motivado por uma denúncia do que se chama “sexo em condições inadequadas”, pois não é, em termos estritos, um estupro, mesmo tomando literalmente as declarações suecas. Aliás, esta denúncia não foi formulada oficialmente, pois a promotora diz que só pretende um interrogatório.
Ou seja, os britânicos vão provocar um total desastre por causa de uma amigável conversa entre Assange e alguns policiais!
Será que vivemos no século 21, realmente, ou estamos na cultura micênica, quando duas civilizações quase se destruíram, segundo a lenda, por causa do sequestro amoroso de Helena de Tróia?