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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"AMOR E ETC" - ROUSSEAU ,SARTRE,FOUCAULT,NIETZSCHE E HANNAH ARENDT

"Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão."
Jean-Paul Sartre

“O amor à verdade é terrível e poderoso”. Nietzsche

“O comportamento sexual não é, como muito se costuma supor, a superposição, por um lado de desejos oriundos de instintos naturais e, por outro, de leis permissivas e restritivas que ditam o que se deve e o que não se deve fazer. O comportamento sexual é mais que isso. É também a consciência do que se faz, a maneira que se vê a experiência, o valor que se a atribui. É, neste sentido, creio eu, que o conceito de gay contribui para uma apreciação positiva – mais que puramente negativa – de uma consciência na qual o afeto, o amor, o desejo, as relações sexuais são valorizadas.” (Michel Foucault - Escolha sexual, ato sexual , 1982)

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(...)Arendt reconhece em Rousseau o primeiro teórico da interioridade, a qual aparece como uma forma de resistência à introdução do social na esfera privada, a rebelião do coração contra a existência social. Mas, ao mesmo tempo, Rousseau é o inventor do amor romântico, que, por ser extramundano, é antipolítico, "talvez a mais poderosa das forças humanas antipolíticas", como Arendt constata. Ela critica o eu da interioridade, do amor romântico, a idéia de procurar a verdade sobre si no profundo de si mesmo, nas emoções, na sexualidade, no amor. Se o amor romântico se apresenta como o ideal sentimental hegemônico, isso acontece porque encarna o ideal que corresponde à nossa realidade antipolítica, isto é, a de uma sociedade voltada para a interioridade na procura de verdade, do sentido, da autenticidade, da satisfação, e que contempla o mundo como hostil a essa busca. Como observa Arendt (1988, p.42): "Uma sondagem de opinião revelou: o ponto central é 'a preocupação pelo homem'. O homem se preocupa por si mesmo. (Descoberta de si mesmo). É assim desde o começo da Idade Moderna. Em contrapartida: o ponto central de toda a política é a preocupação pelo mundo".

Somente desenvolvendo novas formas de amor mundi no sentido arendtiano é que, a meu ver, podemos conceber alternativas a esse ideal, criar e recriar formas de relacionamento voltadas para o mundo, para o espaço público, tais como a amizade, a cortesia, a solidariedade, a hospitalidade, o respeito. Todas elas dependem de uma publicidade, de uma espaço de visibilidade capaz de iluminar os acontecimentos humanos, de um mundo comum que una ou separe os indivíduos, mantendo sempre a distância entre eles, condição da pluralidade. É nesse sentido que Arendt contrapõe a amizade à fraternidade no ensaio sobre Lessing em Homens em tempos sombrios, pois a amizade exprime mais a humanidade do que a fraternidade, precisamente por estar voltada para o público. Ela é um fenômeno político, enquanto a fraternidade suprime a distância dos homens, transformando a diversidade em singularidade e anulando a pluralidade (Arendt, 1987). A fraternidade é, no fundo, uma forma de comunidade identificatória, na qual, na condição de irmãos, somos todos iguais. Assim como a fraternidade e o amor se apresentam como forças antipolíticas, Arendt também critica a família e o parentesco como modelos de organização política. A sociedade moderna é definida como uma "administração doméstica coletiva", um "conjunto de famílias economicamente organizadas", uma "família sobre-humana" (1987, p.38), o que sugere um caráter profundamente antipolítico derivado da compreensão da política segundo critérios familiares: "Na medida em que se constroem corpos políticos sobre a família e são compreendidos como uma imagem dela, considera-se que os parentescos podem, por um lado, unir os mais diversos e, pelo outro, permitir que figuras semelhantes a indivíduos distingam-se as umas das outras ... Em ambos os casos, a ruína da política resulta do desenvolvimento de corpos políticos a partir da família" (Arendt, 1987, p.45-6, grifos nossos).(...)

IN "Hannah Arendt, Foucault e a reinvenção do espaço público"
Por Francisco Ortega

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732001000100015

Um comentário:

  1. Certamente a constituição da família na Idade Moderna se deu a partir da segregação das particularidades das famílias propiciando uma categorização dos tipos de família e criação da necessidade "política e moral" de um certo padrão familiar feito pelas relações de saberes e de poderes existentes em certos efeitos discursivos. Padrão familiar que deve corresponder as necessidades produzidas pela "verdade" de uma realidade.

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