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quarta-feira, 11 de outubro de 2017
Manual de Etnobotânica - Plantas,artefatos e conhecimentos indígenas
https://issuu.com/instituto-socioambiental/docs/manual_de_etnobotanica_baixa
Prefácio
Este manual faz parte do treinamento em pesquisa e intercâmbio de conhecimentos em etnobotânica com povos indígenas da região do Alto Rio Negro (Brasil), noroeste amazônico, realizado em 2016, que incluiu uma oficina em São Gabriel da Cachoeira (AM). A oficina foi uma oportunidade de aproximação entre conhecimentos indígenas e científicos sobre as plantas e seus usos, coleções guardadas em acervos institucionais, e sistemas de classificação e visões de mundo. Como objetivo central, a oficina também iniciou o processo de reconectar os povos indígenas com as observações e coleções feitas na região, no século XIX, pelo botânico inglês Richard Spruce. Esses dados e objetos, coletados principalmente na Amazônia brasileira, foram guardados em instituições em Londres (Reino Unido), como o Jardim Botânico Real de Kew, com aproximadamente 14.000 espécimes de plantas secas no herbário e 350 artefatos etnobotânicos na Coleção de Botânica Econômica, além de diários, manuscritos e cartas com descrições minuciosas sobre o uso das plantas, assim como desenhos de pessoas e paisagens. Os dados, imagens e informações desta coleção, guardados há mais de 150 anos, estão sendo disponibilizados de maneira digital aos descendentes dos povos visitados por Spruce, de modo que eles poderão fortalecer suas próprias pesquisas, tendo maior autonomia na preservação e usos dos seus conhecimentos para futuras gerações. Saberes, tecnologias e modos de vida dos povos tradicionais há muito tempo são confrontados e influenciados por seu entorno, assim, essa iniciativa mostrou como as relações entre povos indígenas e cientistas no passado geraram conhecimentos que podem ser retomados e ampliados na atualidade, de forma a contribuir com projetos dos povos indígenas de hoje.
Na oficina que aconteceu em novembro de 2016 em São Gabriel da Cachoeira, participantes indígenas dos rios Tiquié (que incluía indígenas da etnia Tukano, Tuyuka, Desana e Yebamasã), Içana (Baniwa e Koripaco) e Baixo Uaupés (Tukano e Pira-tapuya) apresentaram diversas pesquisas, relativas aos ciclos anuais do rio Tiquié, agrobiodiversidade, cultura material, pimenta baniwa e paisagens florestais. Outros representantes indígenas, incluindo Yuhupdeh, participaram em discussões e explicações dos usos tradicionais das plantas durante este evento. Por sua vez, os pesquisadores não indígenas mostraram as técnicas para coleta de material botânico e etnobotânico (plantas, artefatos, utensílios), noções básicas de sistemática vegetal, formação de coleções e conservação de plantas e artefatos indígenas em acervos e técnicas de ilustração botânica. A interação entre os pesquisadores indígenas e não indígenas abriu tanto um diálogo para que as comunidades possam ter acesso ao conhecimento gerado sobre a região, quanto reforçou a importância da pesquisa indígena e colaborativa, intercultural. Para tal, foi ressaltada a importância do estabelecimento de relações de colaboração entre comunidades indígenas e instituições de pesquisas.
Este projeto, apoiado pelo Fundo Newton do Reino Unido por meio do Conselho Britânico (Edital - Institutional Skills 2015), vem sendo executado através de uma parceria que envolve o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Jardim Botânico Real de Kew, o Instituto Socioambiental, a Birkbeck – Universidade de Londres, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro e o Museu Paraense Emílio Goeldi. Baseia-se em um longo programa de colaboração entre o Instituto Socioambiental (ISA) e pesquisadores indígenas na região, iniciado em 2005, que resultou numa ampla gama de publicações e materiais educacionais relacionados ao manejo ambiental, gestão territorial, cultura, história e tecnologia.(...)
INÍCIO
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