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quinta-feira, 18 de maio de 2017

Maria Bethania - Texto Ultimatum - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)



https://www.youtube.com/watch?v=gl-UL6cm7Us
 
 

Enviado em 7 de jan de 2012
Álvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos do poeta português
Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus
heterônimos e declarou assim que Álvaro de Campos: Nasceu em Tavira da
Serra Grande, teve uma educação exemplar de Liceu; depois foi para
Glasgowsky, Escócia, estudar engenharia naval. Numas férias fez a viagem
ao Oriente Médio de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa
em inatividade.

Ultimatum

Mandado de despejo aos mandarins do mundo

Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma ideia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma ideia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstratamente o infinito."

Álvaro de Campos, em 1917




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