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sexta-feira, 28 de abril de 2017

Google, Facebook e Amazon minam a democracia | Jornalistas Livres

*foto de Steve Rhodes / Flickr

Google, Facebook e Amazon minam a democracia | Jornalistas Livres

https://medium.com/jornalistas-livres/google-facebook-e-amazon-minam-a-democracia-jornalistas-livres-1cdf4b0233c8

Muitos de nós somos ativos no Facebook, usamos muitos dos recursos do Google (pesquisa, YouTube, calendário) e compramos os produtos da Amazon entregues em nossas portas. Mas em algum momento paramos para pensar sobre o enorme impacto que essas três empresas têm em nossas vidas e na nossa sociedade?
Jonathan Taplin refletiu bastante sobre esse tema. O resultado é um livro inovador, de leitura obrigatória, Move Fast and Break Things: How Facebook, Google and Amazon Cornered Culture and Undermined Democracy (1).
O livro conta a história de como a internet “foi sequestrada por um pequeno grupo de radicais de direita [liderados por Peter Thiel (2), partidário de Trump] para quem as ideias de democracia e descentralização eram uma maldição [um anátema]”.
Jonathan Taplin discute em seu livro as maneiras invisíveis pelas quais o cruel libertarianismo permeou o Vale do Silício e a Casa Branca.
A consequência é que a filosofia dominante do Vale do Silício se baseou fortemente na ideologia libertária radical de Ayn Rand (3). A Internet não é o produto de uma ideia cooperativa mítica qualquer, como o público pode imaginar. A opinião das pessoas foi formada a partir de uma ilusão de bondade, amplamente difundida e comercializada, cujo símbolo é o slogan do Google: “Não seja mau” (mudado para “Faça a Coisa Certa”, em 2015, no código de conduta do Google).
O resultado: “desde Rockefeller e J.P. Morgan não há tal concentração de riqueza e poder” nas mãos de tão poucos, de acordo com o livro de Taplin. “E as enormes fortunas sem precedentes criadas pela revolução digital têm influído fortemente no aumento da desigualdade nos Estados Unidos”.
As cinco maiores empresas do mundo (com base no valor de mercado) são Apple, Google (agora conhecido como Alphabet), Microsoft, Amazon e Facebook. Em termos de poder de monopólio, o Google detém 88% do mercado de publicidade em busca e pesquisa. O sistema operacional Android da Google tem 80% de participação de mercado global em sua categoria. A Amazon tem 70% do mercado de e-books (livros eletrônicos) e 51% dos produtos comprados on-line. O Facebook tem uma participação de 77% no total das mídias sociais móveis. Google e Facebook têm mais de 1 bilhão de clientes e a Amazon tem 350 milhões.
Como a “busca implacável de eficiência leva essas empresas a tratar todas as mídias como mercadoria (commodity), o valor real reside nos gigabytes de dados pessoais retirados de seu perfil à medida que você procura o mais recente videoclipe, artigo de notícia ou listicle, artigo publicado em forma de lista”, destaca Taplin.


O valor acumulado a partir de seus métodos é enorme. Larry Page (4), Sergey Brin (5), Mark Zuckerberg (6) e Jeff Bezos (7) estão entre as dez pessoas mais ricas da América, de acordo com a lista Forbes 400. Cada um tem uma fortuna pessoal superior a US$ 37 bilhões. Bezos recentemente se tornou a segunda pessoa mais rica do mundo, com patrimônio líquido de US$ 75,6 bilhões.
Jonathan Taplin é um insider/outsider nos negócios da música, do cinema e da tecnologia. Sua carreira se estende, de seus dias de faculdade, de assistente e gerente de turnês do grupo The Band e de Bob Dylan, a colaborador e produtor de música, filmes e TV por 30 anos, trabalhando com Martin Scorsese, entre outros. Ele iniciou seu próprio negócio de tecnologia apenas para se contrapor a muitas das realidades descritas em seu livro. Ele é professor de longa data e atualmente é diretor emérito do Annenberg Innovation Lab na Universidade do Sul da Califórnia.
O livro de Taplin é um tour de force — um trabalho convincente, baseado em histórias e focado no punhado de homens que deram forma e, essencialmente, tomaram conta da indústria de tecnologia. Ao longo do caminho, Taplin conta sua história pessoal com charme e critério. Se você quiser entender o que aconteceu com os EUA e aonde a tecnologia vai nos levar na era Trump, reserve algum tempo para ler este livro. Ele vai tirar seu fôlego.
Taplin e eu conversamos por telefone no início de abril.
Don Hazen: Você concorda comigo que sua história sobre o domínio dos valores antidemocráticos, monopolistas e libertários radicais entre os titãs da tecnologia não é bem conhecida? E se sim, por quê?
Jonathan Taplin: Concordo totalmente que não é bem conhecida. A razão é porque os barões da tecnologia, que são os novos barões ladrões, fizeram um trabalho de relações públicas nos Estados Unidos que tem sido muito bem sucedido. O estranho é que o único cara que não era um libertário, Steve Jobs, provavelmente fez mais do que todos para aumentar a glória da tecnologia. Ele é o único sujeito cuja empresa respeita os direitos autorais.
Em uma palestra que geralmente eu dou, aponto que um músico com 1 milhão de downloads de uma música no iTunes receberia US$ 900.000.
E se ele conseguisse 1 milhão de downloads no YouTube (de propriedade do Google) ele ganharia US $ 900.
DH: Uau, isso é realmente deprimente. Outro aspecto poderia ser que a maioria de nós usa o Google e o Facebook o tempo todo. Queremos que essas empresas sejam benignas em nossas vidas, certo? Não queremos lidar com o fato de que são, ao mesmo tempo, destrutivas e convenientes.
JT: Bem, parece que não tem custo para nós, mas claramente isso não é verdade. Tem muitos custos. Obviamente, as notícias falsas não existiriam sem o Google e Facebook. Um garoto na Macedônia com uma página no Facebook e uma conta do Google AdSense poderia ganhar US $ 10.000 por semana apenas publicando conteúdo irreal. Isso nunca poderia acontecer se você não tivesse essas plataformas abertas. Além disso, todos nós pagamos mais porque os anunciantes têm que pagar um prêmio para comprar anúncios no Facebook e no Google, porque eles são o que chamamos de micro-orientados. Um anunciante diz: “Eu quero atingir mulheres na área metropolitana de Nashville, que bebem bourbon e dirigem caminhões”, e o Facebook pode fazer isso.
DH: Podemos fazer isso até na AlterNet — chamamos de orientação geográfica. Somos uma organização sem fins lucrativos progressista que depende do Google para conseguir cerca de metade de nossa receita.
JT: Bom, não há como fugir.
DH: Essa é a definição de um monopólio, certo?
JT: Sim.
DH: Você diz que o valor real destas empresas e seus lucros estão nos gigabytes de dados pessoais colhidos dos perfis enquanto buscamos o vídeo mais recente da música, um artigo etc. Você poderia nos falar mais sobre isso? Somos fundamentalmente todos vítimas? Quais são os desdobramentos disso?
JT: Eles estão essencialmente monetizando sua vida, seus desejos, seus sonhos, qualquer coisa, e você não está realmente obtendo nenhuma vantagem com essa monetização, eles estão.
Certamente as pessoas que fazem o conteúdo, seja a AlterNet ou a maioria dos outros criadores de conteúdo, não estão obtendo muita vantagem, considerando o tamanho de sua audiência…
Vocês estão no final da cadeia alimentar, em termos de para onde os dólares de publicidade fluem.
A maioria pensa “Bem, eu só estou trocando todos detalhes da minha vida por conveniência”. Isso não quer dizer que você não poderia ter conveniência se houvesse mais participantes no mercado. Não há nada que implique haver somente uma rede social e somente um mecanismo de pesquisa.
DH: Peter Thiel é o principal vilão de seu livro. Ele é um libertário radical do Vale do Silício muito poderoso, que começou o Paypal, está no conselho do Facebook e é mentor e financiador do que é, às vezes, chamado de máfia do PayPal — muitos que passaram a iniciar outros grandes sucessos como o LinkedIn. Ele diz coisas bastante assustadoras, como: “Eu já não acredito que liberdade e democracia sejam compatíveis.” Qual é o caminho futuro para Peter Thiel? Sua influência está crescendo?
JT: Sua influência, desde que eu escrevi o livro, cresceu imensamente, porque ele é o melhor amigo de Jared Kushner (8), ele está dentro da Casa Branca e Donald Trump está de mãos dadas com ele. Ele tem poder extraordinário na Casa Branca em termos de determinar a política de tecnologia. Na verdade, há até mesmo alguns rumores de que a segunda nomeação de Trump para a Suprema Corte será Peter Thiel.
DH: Meu Deus, eu não tinha ouvido isso. Kushner sempre foi um democrata moderado. Como ele se tornou tão simpático com alguém como Thiel, que é tão de direita?
JT: Veja como funciona.
Essas pessoas no Vale do Silício foram capazes de manipular hipnoticamente tanto os democratas, quanto os republicanos.
Obama estava mais enfeitiçado pelo Google do que qualquer um que eu conheço.
Eric Schmidt (presidente executivo da Alphabet) visitou a Casa Branca cinco vezes mais do que qualquer outro CEO, e isso é apenas o que está registrado oficialmente na portaria da Casa Branca.
DH: Você mencionou o fato de que Sean Parker (co-fundador do Napster), Larry Page e, eu acho, Thiel todos foram para a reunião secreta dos republicanos também, então eles têm todas as bases cobertas no Google?
JT: Eles não têm filiação política. Eles podem fingir que são progressistas, mas estão perfeitamente felizes em ser conservadores. De fato, uma das histórias que eu conto no livro é que, quando os conservadores, a Fox News e Rush Limbaugh estavam batendo no Facebook, reclamando que o sistema de determinação dos tópicos de maior tendência estava enviesado contra a mídia conservadora, porque as crianças que estavam no controle, os curadores, eram demasiado progressistas, Zuckerberg disse, “Está bem, vou me livrar das crianças.” Ele demitiu todos eles e deixou o algoritmo sozinho determinar o que entra em tópicos de tendências. Que era exatamente o que Steve Bannon (9) e Cambridge Analytica queriam, porque então eles poderiam operar o algoritmo com o exércitos de robôs que implantaram, e empurrar qualquer coisa que quisessem para cima na lista dos tópicos de tendência.
DH: Mais adiante no livro, você dá a Zuckerberg traços mais otimistas em termos de esperar ou pensar que ele realmente se preocupa com os quatro bilhões de pessoas que não estão na internet. Ele não está no mesmo nível que Page, Thiel e Parker?
JT: Eu não sei. Eu provavelmente diria que a esposa de Bill Gates, Melinda, tem mais a ver com a mudança na vida dele do que qualquer outra coisa. Minha impressão é que a esposa de Zuckerberg [Priscilla Chan] é uma humanista profundamente comprometida. Ela era professora, e eu acho que, como com qualquer um desses caras, provavelmente há um pouco de batalha pela sua alma. O próprio fato de que ela o convenceu a dar 99% de suas ações do Facebook para uma instituição de caridade, mesmo que seja uma espécie de organização de caridade estranha que ele controla, já é alguma coisa.
Isso certamente não é o que Larry Page ou Peter Thiel estão fazendo.
Eles estão dando dinheiro para as organizações para que eles possam viver até 150 anos de idade.
DH: Vamos guardar essa parte para o final, porque ir para Marte e viver para sempre é uma pergunta final sobre o que faz esses caras funcionarem. Antes de chegarmos lá, vamos voltar para Ayn Rand. Quando estávamos na faculdade, considerávamos essas teorias como maluquices, e sempre pensávamos que eram livros que as crianças liam na escola ou talvez como estudantes no início da faculdade, e então todos nós crescemos. Peter Thiel, que aparentemente é um dos caras mais inteligentes do mundo, parece adorar a narrativa de Ayn Rand. O que isso significa?
JT: Você sabe, isso me deixa muito confuso. Paul Ryan e Donald Trump citam Ayn Rand como grandes influências em suas vidas. Meu palpite é que ela apela a um certo tipo de homem que acredita ser melhor do que a maioria das pessoas e que não é reconhecido. Se você olha para aqueles heróis de Ayn Rand, eles sempre pensam que o cidadão comum é um burro total, e que a democracia não é uma boa ideia, e que realmente as coisas têm de ser administradas por homens de ferro sem nenhum senso de responsabilidade com as outras pessoas, apenas consigo mesmos. Eles são do tipo de pessoas [que perguntavam], a linha que ela usou é, “Quem vai me parar?” É esse tipo de empurrão, que “eu vou apenas seguir em frente”, e é a vontade de poder. Como todo esse material que estudamos sobre Nietzsche em Princeton provavelmente.
DH: Thiel também disse ser favorável a Trump, porque ele iria disciplinar os democratas impensantes, o público democrático que constrange o capitalismo. Isso é bem assustador também. Achamos que Trump entende isso?
JT: Bem, olha, eu acho que eles acreditam que o capitalismo funciona melhor quando não há regras, e eles tendem a pensar que as pessoas que querem tentar e fazer regras para o capitalismo não entendem, e assim eles vão simplesmente estragar tudo.
O que Trump está fazendo agora é tentar se livrar de toda regulação, quer seja ambiental ou privacidade na Internet ou qualquer coisa que você possa imaginar.
Ele só quer se livrar de todas essas regras, porque ele quer que Verizon ou Google ou Exxon ou as indústrias Koch sejam capazes de fazer apenas o que quiserem sem se preocupar com a regulamentação.
Naturalmente, eu penso que isso é o que conduz a coisas como a crise financeira em 2008, quando os bancos não tiveram regulação e apenas enlouqueceram.
DH: Falando de desregulamentação, você escreveu um artigo para o New York Times sobre um relatório do Banco Mundial segundo o qual a inovação na internet pode ampliar a desigualdade e até mesmo acelerar o afastamento da classe média. Como isso acontece?
JT: Bem, em primeiro lugar, a tecnologia oferece retornos monetários extraordinários a um grupo muito pequeno de pessoas. A maior empresa de tecnologia está empregando 20.000 ou 30.000 pessoas, em comparação, digamos, com uma empresa de automóveis ou General Electric que emprega centenas de milhares. Essa é a primeira coisa. Em segundo lugar, ela oferece retornos ao escalão mais alto dos executivos dessas empresas em tal nível que Zuckerberg vale US$ 58,6 bilhões (quinta pessoa mais rica do mundo), Bezos vale US$ 80 bilhões. Em outras palavras, se você está no topo, sua riqueza é tão grande que inevitavelmente leva à desigualdade, porque o que a tecnologia faz, também obviamente, é eliminar um monte de empregos da classe trabalhadora.
Quanto mais Elon Musk se desenvolve, para fazer seus carros na Tesla Motors, menos pessoas ele tem que contratar. Ele deixa os robôs trabalharem.
DH: Aparentemente, de acordo com Capital and Main [uma revista online que investiga o poder e a política], os trabalhadores de Tesla também não são muito felizes.
JT: Aposto que não são.
DH: Foi lindo ler em seu livro sobre The Band, Bob Dylan, Music From Big Pink e Woodstock, a história de seus primeiros anos no rock ’n’ roll, quando você começou a entender como esse sistema de música digital funcionava. É uma história triste, pois acaba com Levon Helm, membro da The Band, morrendo de câncer de garganta e sem poder ganhar a vida por não poder ir para a estrada. Os artistas não tinham realmente ninguém os protegendo como os compositores tinham a ASCAP [The American Society of Composers, Authors and Publishers] e a BMI [Broadcast Music, Inc.]. Claro, atrás disto está Sean Parker, o rei da destruição digital. Você pode justapor por um momento Sean Parker e Levon Helm e o que aconteceu?
JT: Certo.
Sean Parker era meio que um garoto malcriado, que se metia em encrencas por fazer hacking, e enquanto estava em liberdade condicional, conheceu outro cara que se chamava Shawn Fanning, e eles inventaram o Napster.
Seu pensamento foi: “Bem, olhe para todas essas músicas [que] são digitais agora que o CD foi lançado. O que precisamos fazer é construir esse serviço que permite a qualquer pessoa compartilhar, de graça, sua música com qualquer pessoa. O que precisamos fazer é somente indexá-las. E isso é o que eles fizeram. Naturalmente, não sendo músicos, a princípio não tinham ideia de que isso iria destruir o negócio da música. E quando eles rapidamente descobriram que estavam destruindo o negócio da música, não deram a menor importância. Sua preocupação era construir esse negócio, o que fizeram para cerca de 70 milhões de usuários em dois anos.
Uma vez que as pessoas tomaram gosto por obter música de graça, parecia que toda a música deveria ser grátis.
Aconteceu o mesmo com o jornal. Uma vez que as pessoas têm algumas notícias gratuitamente, então por que eles devem pagar por notícias? Por que eu deveria comprar um jornal?
As receitas de jornais e as receitas de música caíram 70% entre 2001 e 2015.
Isso é simplesmente extraordinário, o negócio foi reduzido em dois terços.
Eu acho que o que aconteceu foi, obviamente, que Levon não poderia mais ganhar a vida fora da música, embora você visse, no YouTube, que o número de execuções de “The Night They Drove Old Dixie Down” estava em milhões; Mas ele não estava recebendo nenhum dinheiro com isso. Essa é a triste história, e não é apenas o Levon. Há milhares de músicos. T-Bone Burnett e eu conversamos de vez em quando, e nos deparamos com centenas de músicos que não conseguem mais ganhar a vida.
DH: O que isso significa, o que você descreve como o negócio de marketing de vigilância? Você diz que tanto o Facebook quanto o Google estão neste negócio agora.
JT: Seu negócio principal é o que eu comecei a chamar de capitalismo de vigilância. Basicamente, trata-se de um novo tipo de capitalismo no qual o maior valor que eu tenho é a quantidade de dados que sou capaz de varrer de todos os domínios possíveis sobre você, Don Hazen. Eu vou obtê-los a partir do seu celular, das suas compras on-line, da sua localização, a partir de sua casa se você tiver um Amazon Alexa com o microfone ligado. Eu vou aspirar a partir daí. Eu vou basicamente procurar por mais lugares onde eu possa pegar seus dados. A chave para isso é conseguir que você vá a algum dos meus serviços, se é YouTube ou pesquisa ou no Facebook, e ficar lá o maior tempo possível, e quanto mais você ficar lá, mais dados seus eu estou pegando. Agora, eu levo esses dados e vou vendê-los de volta para os anunciantes de modo que eles sejam capazes de atingir um alvo com extrema exatidão, apenas as pessoas em quem eu quero chegar. E não são apenas as empresas que fazem isso. Os políticos, como vimos nas eleições passadas, podem fazer isso com a mesma facilidade. Se você quiser suprimir a votação entre os jovens negros em Detroit, é muito fácil enviar-lhes apenas uma notícia que diz: “Hillary Clinton diz que todos os homens negros jovens são predadores.” Você pode ter certeza de que essa estratégia terá algum sucesso.
DH: Como os irmãos Koch, donos de US$ 84 bilhões, entraram em seu livro sobre monopólios tecnológicos?
JT: Porque eles forneceram, através do ALEC (11) e das outras organizações que financiam, o poder subjacente em Washington, D.C., para garantir que as empresas não sejam regulamentadas. Se você pensar sobre alguns dos problemas que Trump está tendo agora, esses caras acharam o projeto de lei de saúde republicano muito cheio de regras, e por isso eles ofereceram basicamente uma recompensa para qualquer um do Freedom Caucus (12) que votasse contra.
Eles disseram: “Nós vamos colocar até US $ 2 milhões em dinheiro de propaganda na sua campanha se Trump vier atrás de você.”
Basicamente, essas pessoas têm tanto dinheiro, eles são apenas … basicamente, Peter Thiels e Larry Pages têm apenas surfado atrás de sua propaganda, que diz que o mercado está sempre certo e o governo sempre errado. Quando o governo tenta fazer alguma coisa para regular o Google, eles vêm para cima do governo como uma tonelada de tijolos. Por que você acha que esta lei de privacidade na Internet foi aprovada tão rapidamente? Porque os irmãos Koch a aprovaram.
DH: Esta questão tem a ver com o que você mencionou anteriormente sobre fantasias desmedidas. Musk está gastando centenas de milhões de dólares para ir a Marte, e Page e Thiel estão investindo tantos milhões para estender suas vidas. O que isso nos diz sobre esses caras?
JT: Parece-me tão bizarro que não resolvemos a malária, a febre tifoide ou o cólera, e esses caras gastam milhões de dólares para que possam viver 200 anos. Agora, na minha opinião, toda a ideia é louca, porque eu imaginaria que quando você tiver 130 anos, você teria gasto quatro ou cinco milhões para estender sua vida — porque vai ser caro, e só os ricos poderão pagar — você teria tanto medo de sair de sua casa, porque você pode ser atingido por um carro e todo o seu investimento de US$ 5 milhões iria pelo ralo. Parece que você se tornaria um prisioneiro de sua própria longevidade. Eu não sei, mas a coisa toda é tão maluca para mim.
Elon Musk, nesta conferência que eu fui para a Vanity Fair, disse literalmente:
“Deveríamos lançar uma bomba nuclear em Marte e derreter o gelo, então poderíamos cultivar legumes para alimentar as colônias”.
DH: Isso é selvagem. Realmente maluco. Tudo bem, alguma outra coisa que eu deveria te perguntar?
JT: Eu acho que você cobriu tudo, cara. Estou feliz que você gostou do livro.
DH: Há tanta informação chocante e sóbria em seu livro que deveria ser leitura obrigatória para todos que querem entender como chegamos neste momento da história e as conexões entre monopólio tecnológico, desigualdade e até mesmo a eleição de Trump.
JT: Sean Wilentz, um amigo professor em Princeton que dirige o departamento de história lá, disse: “Tap, você virou um agitador.” Eu disse: “Bem, isso é bem legal.” Porque, de certa forma, há cem anos tivemos que enfrentar este mesmo problema com a Standard Oil e o JP Morgan e as ferrovias. Já estivemos nesse lugar antes. A eleição de 1912 entre Wilson e Teddy Roosevelt foi executada em cima de uma pergunta: o que fazemos com os monopólios? Essa era a questão principal.
DH: Sim, mas é mais difícil agora, porque não há divisão na classe dominante. Obama estava tão apertado com o Google quanto os republicanos, ou mais. Era mais fácil usar como bode expiatório as ferrovias ou Rockefeller e Standard Oil do que fazer o mesmo com os caras que usam camisetas com capuz e tênis, e dizendo: “Não fazemos nenhum mal”.
JT: Eu sei. Eu sei. Vou dizer, Don, que acho que o diálogo está começando a mudar. Eu estava em uma conferência de Chicago na semana passada sobre monopólio, e foi na Chicago School of Business, que é a escola mais conservadora, onde Milton Friedman dominava. No final da conferência, até mesmo os antiquados Friedmanites diziam: “Esse capitalismo de vigilância é diferente, e talvez tenhamos que repensar o que pensamos sobre regulação e monopólio.” Acho que algo está mudando.
DH: O desafio é que muitos de nós simplesmente não querem ouvir a realidade sobre essas empresas, porque isso torna nossas vidas mais desconfortáveis, mais desafiadoras. Porque não deveríamos estar fazendo metade das coisas que estamos fazendo, é apenas mais fácil. Nós moramos no Facebook, damos nossa informação ao Google, não tiramos nosso dinheiro da Merrill Lynch, Chase ou Citibank. E muitas vezes não apoiamos os negócios locais — basta que a Amazon entregue esses pacotes, ajudando a tornar Bezos um zilionário, porque é mais fácil de fazer. De qualquer forma, parabéns pelo livro. Espero que seja um grande sucesso.
Entrevista feita por Don Hazen, editor executivo da AlterNet, publicada em http://www.alternet.org/books/move-fast-break-things-jonathan-taplin-tech-interview. Tradução de César Locatelli e Ricardo Gozzi, para os Jornalistas Livres
Notas
1 Move Fast and Break Things: How Facebook, Google, and Amazon Cornered Culture and Undermined Democracy [Mexa-se Rápido e Quebre Coisas: Como o Facebook, o Google e a Amazon encurralaram a cultura e prejudicaram a democracia], por Jonathan Taplin. Publicado por Little, Brown and Company, Hachette Book Group, 2017. Para lermais sobre o livro: http://www.hachettebookgroup.com/titles/jonathan-taplin/move-fast-and-break-things/9780316275743/
2 Peter Thiel, fundador do PayPal, foi o primeiro investidor de peso no Facebook e é membro de seu conselho de administração. É apoiador e consultor de Trump.
3 Ayn Rand foi uma escritora, A Revolta de Atlas, idolatrada pela extrema direita americana. Leia mais sobre ela no artigo A Deusa dos Conservadores Americanos, no Diário do Centro do Mundo:
4 Larry Page, co-fundador do Google em 1998, é o CEO da Alphabet, empresa-mãe do Google. A revista Forbes avaliou sua fortuna em US$ 41,8 bilhões, em 24/04/2017.
5 Sergey Brin, co-fundador do Google em 1998, é o presidente da Alphabet, empresa-mãe do Google. A revista Forbes avaliou sua fortuna em US$ 40,9 bilhões, em 24/04/2017.
6 Mark Zuckerberg é co-fundador, CEO e presidente do conselho do Facebook. A revista Forbes avaliou sua fortuna em US$ 60,7 bilhões, em 24/04/2017.
7 Jeff Bezzos é o fundado e CEO da Amazon. A revista Forbes avaliou sua fortuna em US$ 78 bilhões, em 24/04/2017.
8 Jared Kushner é genro de Trump, casado com Ivanka Trump, e conselheiro sênior em seu governo.
9 Steve Bannon é o principal estrategista político de Trump e foi o principal executivo de sua campanha.
10 Sean Parker é co-fundador do Napster.
11 ALEC — American Legislative Exchange Council — “é a maior organização não-partidária e voluntária dos Estados Unidos dedicada aos princípios do governo limitado, dos mercados livres e do federalismo”.
12 House Freedom Caucus é um grupo, de pelo menos 36 membros republicanos da Câmara norte-americana, extremamente conservador e rebelde com a liderança do partido. O grupo inclui muitos veteranos do Tea Party.
Mídia democrática, plural, em rede, pela diversidade e defesa implacável dos direitos humanos.

Originally published at jornalistaslivres.org on April 26, 2017.



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