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terça-feira, 3 de janeiro de 2017
pés limpos de terra - naquele quintal
naquele quintal:
um mundo inteiro
mangueira que nunca dava frutos
pé de romã que só servia pra brincadeiras das crianças
pedaços de máquinas
cheiro de graxa
estrelinhas de fogo do esmeril
som de máquinas
criança de pé no chão
mil brincadeiras
fugas de surras de mãe
mãe lavando roupas
banho dentro do tanque
brincadeiras de menina
menino no tico tico
tio ouvindo ópera
cheiro bom de comida
irmã que sai as escondidas
pra se encontrar com namorado
discussão de tios e pai
jogo do Palmeiras e Corinthians
tardes longas de domingo
barulho da torcida no campo em frente
vizinho da sacada em frente que admirava o quintal
moleques que só observavam o quintal
prédio ao lado que jogava lixo no telhado da casa do quintal
meu tio pintando cabeçotes de máquinas
fogueiras de São João
bandeirinhas coloridas, doces, pipocas
Kombi do pai cheia de crianças
plantas que brotam nos rachos do cimentado
a alma do quintal: as máquinas que meu pai fabricava
e a luta persistente de minha mãe
nas noites, olhos felinos no fundo do quintal
fantasmas do quintal: alguns dos que ficaram no passado
e eram chamados de caveiras de burros enterradas
quem eram estes burros enterrados até hoje, nem sei
um dia nos mudamos de lá, eu tinha só 8 anos
não foi bom, perdi o chão
deixei de ter pés limpos de terra.
nadia gal stabile - 03 01 2017
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