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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Bela Crônica de Aldir Blanc e, também, dois momentos de nossa história - Por Otávio Martins Amaral



Bela Crônica de Aldir Blanc e, também, dois momentos de nossa história.
Por Otávio Martins Amaral.




João Bosco é um ótimo melodista; ótimo cantor, porém, suas músicas são um belo suporte para as lindas letras do poeta, escritor, contista, cronista, baterista, sambista e psiquiatra ALDIR BLANC. Várias músicas levam a assinatura dos dois, ótimos, compositores. Poucos sabem que as letras são do Aldir Blanc. A música é uma arte. A poesia, também. Já virou costume se dizer apenas o nome de um dos compositores. Por exemplo: “A flor e o espinho” ... Tire o seu sorriso do caminho...  do Nelson Cavaquinho. Sem essa letra maravilhosa, do Guilherme de Brito, seria, apenas, mais uma música. Lapinha, do Baden, seria mais uma música, não fosse a letra do Paulo Cesar Pinheiro. Até os intérpretes levam a fama (pela música e pela letra). Exemplo:

Águas de Março, da Elis Regina. Não, do inesquecível Tom Jobim. Muito boa a  interpretação, porém, a letra e a música, são do Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o nosso Tom. Assim como “Garota de Ipanema”, não é só do Tom, tem, também, a poesia do poetinha Vinícius de Moraes. Até os locutores se tornaram ignorantes em matéria de MPB.  




“O MESTRE-SALA DOS MARES”.(João Cândido).




MÚSICA – O MESTRE-SALA DOS MARES, JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC, HOMENAGEM A JOÃO CÂNDIDO... 

Dignidade de um Mestre-Sala
  
João Cândido morreu na noite do dia 6 de dezembro de 1969, de câncer, no Hospital Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Chovia torrencialmente no dia de sua morte, como escreveu Edmar Morel em seu livro. Tempo ruim para as embarcações. O marinheiro faleceu sem ouvir uma das mais belas homenagens que lhe foi feita, a música O Mestre-Sala dos Mares, composta por Aldir Blanc e João Bosco nos anos 1970 e imortalizada nas vozes de Elis Regina e do próprio João Bosco.  Na letra original, João Cândido era o Almirante Negro, o Dragão do Mar, que guiava poderosos navios de guerra com a dignidade de um mestre-sala. Mas o Brasil vivia a intolerância da ditadura militar, sob o comando do presidente Ernesto Geisel, e a música de Aldir Blanc e João Bosco parou na mesa dos censores. Blanc relatou, em uma entrevista, que foram várias as idas ao departamento de Censura para liberar o samba. Naquele tempo, era praticamente inadmissível que uma canção homenageasse um marinheiro negro que havia se revoltado contra o governo, quebrado a hierarquia e participado de uma revolta em que morreram oficiais da Marinha.  Num dos últimos encontros com os censores para tentar aprovar a letra, sem saber qual era o problema, Adir Blanc questionou o motivo de o samba continuar sendo censurado, já que havia trocado palavras como almirante, marinheiro etc. Também tinham mudado o título de Almirante Negro para Navegante Negro, para não ofender a oficialidade da Marinha. A resposta apresentou Blanc ao preconceito racial que ainda imperava no governo brasileiro. Ele diz ter ouvido, estarrecido, que o problema era a palavra negro, dita várias vezes, inclusive no título original, Almirante Negro. Com a “dica” do censor, os compositores deram uma sacudida no texto e chegaram ao título O Mestre-Sala dos Mares. Veja a seguir a letra original e a letra censurada. 
     
 MÚSICA – O MESTRE-SALA DOS MARES

Há muito tempo nas águas da Guanabara 
O dragão do mar reapareceu 
Na figura de um bravo feiticeiro 
A quem a história não esqueceu 
Conhecido como navegante negro 
Tinha a dignidade de um mestresala 
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas 
Foi saudado no porto 
Pelas mocinhas francesas 
Jovens polacas e por batalhões de mulatas 
Rubras cascatas 
Jorravam nas costas dos santos 
Entre cantos e chibatas 
Inundando o coração 
Do pessoal do porão 
Que a exemplo do feiticeiro gritava, então!
Glória aos piratas, às mulatas, às baleias! 
Glória à farofa, à cachaça, às baleias! 
Glória a todas as lutas inglórias 
Que através da nossa história 
Não esquecemos jamais 
Salve o navegante negro 
Que tem por monumento 
As pedras pisadas do cais 
(Mas, salve...)
 
https://www.youtube.com/watch?v=lBOg8w9V-FA – Elis Regina.
Ver mais na Internet.
Otávio Martins Amaral. Bela Crônica de Aldir Blanc e, também, dois momentos de nossa história. João Cândido morreu em 1969, esta letra é de 1975, Quando, os dois, João e Aldir a fizeram.



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Um comentário:

  1. É isso aí, Nadia. É a nossa história, antiga e moderna. Otávio.

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