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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

OLHA O RAPA!





  OLHA O RAPA!
                 (Crônicas da cidade)
                                                                                     Otávio Martins
   Parecia locomover-se mais do que correndo, voava com a sua grande bolsa. Provavelmente, dentro dela toda a mercadoria que sobrara do seu dia de vendas, ali pelo Calçadão. Logo a seguir, deu pra ver a baita caminhoneta da Polícia Militar. Não sabia que a Policia Militar se encarregasse de perseguir vendedores ou comerciantes de rua. Camelôs, por assim dizer.
   Tanto a polícia quanto a administração municipal, sabem, perfeitamente – vistas grossas, como se diz no popular – que não seria o imposto daqueles camelôs que tirariam o pé do barro em que a cidade, há muito tempo, o havia enfiado. Há alguns anos atrás, e isso pesa até hoje, muita gente da cidade, os espertos, se quisermos, jogaram todas as suas fichas numa ciranda financeira, proposta por outro, mais esperto ainda. A poupança rendia nem um por cento, e o aplicador da tal ciranda, oferecia quinze a vinte por cento de rendimento ao mês. Teve gente que vendeu até casa. Os maiores, alguns, ainda deu tempo de resgatarem os seus “investimentos”. A maioria, uns pobres coitados. Mas, como diz o povo, o dinheiro cega. O raciocínio era simples, vinte por cento ao mês, em cinco meses, aqueles que venderam suas casas, conseguidas a duras penas, teriam pouco mais do que duas casas. E, se continuassem “investindo” no tal agiota não oficializado (os oficializados são bancos, até multinacionais), juros sobre juros, nem percebiam que o seu dinheiro atingiria volumes tais, que somente, como exemplo, teria, para explicar, que aplicar o cálculo contido numa progressão geométrica. Uma loucura, mesmo. Houve caso até de suicídio.
   Não precisariam ir longe, bastaria entrar – em qualquer uma delas – numa loja ali do centro e, lá dentro, descobririam cobras e lagartos. Então, pra que ficar correndo atrás desses camelôs que, comparados às lojas, são gatos pingados? É só pegar uma loja por dia, com fiscal e tudo, e constatar que o buraco é muito mais embaixo.
   O garotão, num gesto levado pelo seu instinto de conservação, provavelmente, largou o bolsão atrás de uma coluna de um daqueles prédios no estilo Caixa de Fósforos Fiat Lux, modelo cozinha. Esses prédios (edifícios) estão, agora, postados sobre o terreno que outrora pertenceu e funcionava o Mercado Público. O nome já explica. Uma tramóia, onde o tal de poder público, juntando-se ao privado, solapou o tal de mercado. Tudo dentro da “lei”. Deles.
   Passou o rapa, lá por aquela ruela, a qual, antes, fizera parte do Calçadão, e que hoje serve de “atalho” entre as duas vias principais da pequena cidade. Esse atalho, custou, inclusive, para a regalia de seus usuários, uma grande árvore que teve que ser cortada. A tal árvore estava atrapalhando o caminho pelo qual a ruela havia sido projetada. E isso, quer a gente queira, ou não, é um avanço na mentalidade. Pra quem já arrancou o Mercado Público, o que é um rasgo e a eliminação de uma árvore?
  O cara voltou, calmamente, pegou seu bolsão e foi-se embora. Pelo que deu pra se perceber, aquilo era rotina. Mesmo assim, deixo a sugestão de vistoriarem uma daquelas lojas, qualquer uma, ali do centro. Sua caçada seria muito mais proveitosa. 



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