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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

FILME "SÃO BERNARDO" E OUTROS BASEADOS EM CLÁSSICOS DA LITERATURA BRASILEIRA

Assista 15 filmes baseados em clássicos da literatura brasileira
http://guiadoestudante.abril.com.br/fotos/assista-15-filmes-baseados-classicos-literatura-brasileira-705687.shtml#0

"São Bernardo" baseado em livro de Graciliano Ramos - filme de Leon Hirszman, 1971


Filme São Bernardo (Viçosa-AL, 1971)(filme completo)

https://www.youtube.com/watch?v=_2Uu43gZZ44











http://www.contracampo.com.br/74/saobernardo.htm


São Bernardo
de Leon Hirszman, 1971, Brasil
Rigor e contenção são talvez as palavras mais adequadas para se caracterizar São Bernardo, filme dirigido por Leon Hirszman em 1971. Elas também se aplicam com justeza à obra de Graciliano Ramos, em especial ao romance homônimo que deu origem ao filme. Tal identificação estética entre livro e filme faz de São Bernardo um dos exemplos mais felizes de uma adaptação literária no cinema brasileiro. No entanto, não é preciso apoiarmo-nos no texto escrito para percebermos que o filme de Leon Hirzsman, em seu rigor e em sua contenção, acrescenta uma nota distoante ao conjunto dos títulos produzidos na época - e isto é o que faz de São Bernardo, para além de uma feliz adaptação, uma verdadeira obra-prima.

Filme de uma unidade estilística exemplar, São Bernardo estrutura-se como um drama ao mesmo tempo psicológico e político: não há fronteiras, mas adensamento de um no outro e de um pelo outro. O drama de Paulo Honório, que de guia de cego torna-se latifundiário, criando para si um feudo hostil a qualquer tipo de transformação da ordem social, não se constitui como simples resultado mecânico de engrenagens econômicas, nem como mera ebulição de fantasmas particulares. O drama de Paulo Honório nasce justamente do imbricamento de duas perspectivas de análise e de construção dramática, isto é, da observação de dois processos simultâneos (formação da riqueza; deformação da personalidade). Esta operação, presente no romance de Graciliano Ramos, encontra no cinema - e no rigor formal de um realizador como Leon Hirszman - um campo privilegiado de exposição.

Paulo Honório, vivido por Othon Bastos, está quase sempre em cena. É ele quem domina e concentra a narrativa, não só com sua presença física mas também com sua voz over, recurso clássico que remete à narração em primeira pessoa mas que, em São Bernardo, reforça um certo distanciamento na relação do filme com o espectador, servindo ao mesmo tempo como um campo de proteção à censura ideológica da época, em chave semelhante à Os Inconfidentes (Joaquim Pedro de Andrade, 1972), que narra a Inconfidência Mineira a partir dos Autos da Devassa e dos versos de Cecília Meirelles. A voz over, em São Bernardo, não é uma abertura para “conhecermos” intimamente o protagonista; ao contrário, ela serve para identificarmos a distância com a qual este protagonista será visto por nós espectadores, evidenciando, por parte de Leon Hirszman, a disposição em não ceder a uma comunicação imediata entre o filme e o público. De qualquer forma, a voz e o corpo de Paulo Honório ocupam e centralizam a quase totalidade do filme.

A partir da segunda metade de São Bernardo, surge outra personagem que irá desestabilizar esta centralidade de Paulo Honório. Trata-se da professora Madalena (Isabel Ribeiro), com quem o latifundiário irá se casar. Madalena desperta e aos poucos vai intensificando o conflito interno de Paulo Honório, até o ponto em que o conflito se torna dilaceração interior. A voz over continuará constante, a presença física de Paulo Honório seguirá sendo dominante. Mas o sentimento da dor e da perda, deflagrados pela presença perturbadora de Madalena, alterará por completo a relação de Paulo Honório com seu meio e consigo mesmo.

No filme, esta profunda transformação do protagonista surgirá de forma sutil, através de uma nova relação entre a câmera e a montagem, marcadas pela re-significação dos espaços dentro e fora do quadro. Assim, até a chegada de Madalena, São Bernardo pode ser encarado como um filme “narrado por Paulo Honório”: a câmera como instância narrativa se faz menos presente, ainda que todo o filme se construa através do conflito entre os pontos-de-vista do protagonista e o da câmera. A partir do momento em que Madalena passa a dominar o olhar de Paulo Honório (e, ao voltar-se para ela, ele também volta-se para si), percebemos com mais nitidez o olhar da própria câmera, isto é, de Leon Hirszman como narrador.

Na verdade, Madalena não provoca uma ruptura na constituição do drama. Não há um antes e um depois do casamento, mas um acirramento do processo de auto-destruição do personagem. Como afirmei antes, São Bernardo é um filme de uma unidade espantosa, e isto fica muito claro na própria decupagem trabalhada ao longo da narrativa: a utilização de longos planos estáticos; o uso de planos gerais e de conjunto em cenas dialogadas ou que fazem a ação progredir; as grandes elipses; a economia na utilização do plano-contraplano; todas estas escolhas conferem ao filme de Hirszman uma organicidade coerente com a opção de retratar o drama existencial de Paulo Honório.

Ao mesmo tempo, a partir do surgimento de Madalena, esta organicidade vai dando lugar a uma variedade maior na escolha dos planos e na direção dos olhares. Longe de provocar desequilíbrio ou desorientação, esta mudança na decupagem reforça a transformação do próprio personagem, atravessado pela experiência desagregadora do amor que começa a sentir pela esposa. Um amor que é, antes, sentimento ameaçador de uma possível perda. A prova maior da coerência desta decupagem é a quase total ausência de closes em São Bernardo. Há como que uma cerca de arame farpado entre o mundo interior de Paulo Honório e nossa curiosidade de espectadores acostumados aos dramas psicologizantes. Nesse sentido, o close sobre o perfil de Paulo Honório, que fuma um cachimbo, pode ser comparado ao plano geral de um campo em que não se vê ninguém. Após a entrada de Madalena na narrativa, isto se altera. Embora as ações continuem a ser trabalhadas em grandes saltos temporais e em planos distanciados (o primeiro encontro entre Paulo Honório e Madalena, na estação de trem, se dá sem que tenhamos dela sequer um plano próximo), há um novo intuito na utilização dos closes, como na cena em que Paulo Honório pede Madalena em casamento, ou quando, silencioso, os olhos vítreos, ele tenta encontrar provas do “comunismo” de Madalena, durante um jantar para convidados.

Embora São Bernardo seja de uma quase asfixiante secura, há no filme de Leon a busca por um tom de esperança, que nasce da própria percepção dialética do processo social. E Madalena é, nesse sentido, uma personagem quase simbólica. Não por acaso, em um dos raros planos suaves de São Bernardo, vemos Isabel Ribeiro caminhar por um trecho de campo florido. Esta imagem não deixa de se ligar, metaforicamente, ao belo plano dos trabalhadores rurais que vêm surgindo, como se brotassem da terra, entoando os cantos de trabalho, no momento mesmo em que Paulo Honório, envolto por uma triste luz amarelada, sucumbe e se apaga em sua própria derrota.
Luís Alberto Rocha Melo

http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/sao-bernardo-resumo-obra-graciliano-ramos-702009.shtml

"São Bernardo" - Resumo da obra de Graciliano Ramos

17/09/2012 01h 07
- Leia a análise de São Bernardo

Criado por uma negra doceira, Paulo Honório foi um menino órfão que guiava um cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Depois começou a trabalhar na duro na roça até os dezoito anos. Nessa época ele esfaqueia João Fagundes, um homem que se envolve com a mulher com quem Paulo Honório teve sua primeira relação sexual. Então é preso e durante esse período aprende a ler com o sapateiro Joaquim. A partir de então ele passa somente a pensar em juntar dinheiro.

Saindo da prisão, Paulo Honório pega emprestado com o agiota Pereira uma quantia em dinheiro e começa a negociar gado e todo tipo de coisas pelo sertão. Assim, ele enfrente toda sorte de injustiças, fome e sede, passando por tudo isso com muita frieza e utilizando de meios antiéticos, como ameaças de morte e roubo. Após conseguir juntar algumas economias, retorna a sua terra natal, Viçosa, com o desejo de adquirir a fazenda São Bernardo, onde tinha trabalhado.

Para tanto, Paulo Honório inicia uma amizade falsa com Luís Padilha, herdeiro de São Bernardo. Luís era um moço apaixonado por jogo, mulheres e bebida, e aos poucos Paulo consegue conquistar a confiança dele. Inexperiente, Luís Padilha começa a financiar projetos que não trarão sucesso incentivado por Paulo Honório, que fazia tudo isso com a intenção de fazer Luís Padilha ficar falido financeiramente. Tendo sucesso em seu plano, Paulo consegue comprar a fazenda São Bernardo por um preço irrisório.

Com a ajuda de seu amigo Casimiro Lopes, Paulo Honório manda matar Mendonça, fazendeiro vizinho, e consegue expandir os limites das terras da São Bernardo. Através de empréstimos bancários, investe em máquinas e na plantação de algodão e mamona. Para escoar seus produtos, Paulo Honório constrói estradas e passa a se dedicar cada vez mais ao trabalho. E, para conseguir obter tudo isso, ele comete as maiores injustiças e utiliza de todos os meios que puder, garantindo impunidade através de uma grande rede de relacionamentos. Seus ajudantes são: Gondim, o jornalista local; o padre Silvestre; e o advogado Nogueira, que manipula os políticos locais.

Com a fazenda em ótima situação, Paulo Honório contrata o Seu. Ribeiro para cuidar das contabilidades, contrata Luís Padilha como professor e constrói uma escola para alfabetizar os empregados e agradar ao governador do Alagoas. Além disso, manda buscar a negra doceira que o havia criado, a velha Margarida, arranjando moradia para ela na São Bernardo.

Um dia Paulo Honório percebe que precisa de um herdeiro para suas ricas terras e por conta disso resolve se casar. Pensa nas filhas e irmãs de seus amigos, mas nenhuma lhe agrada. Então, um dia conhece a professora primária Madalena na casa do juiz Magalhães. Da mesma forma determinada como conseguiu obter e administrar sua propriedade, Paulo Honório convence Madalena a se casar com ele.

Após o casamento a moça e sua tia Glória mudam-se para a fazenda e o rico fazendeiro vai percebendo que a rotina na São Bernardo começa a se alterar. Madalena se interessa pela vida dos empregados e dá opiniões sobre as condições precárias do professor Padilha, exigindo a compra de materiais escolares. Além disso, ela passa a dividir as tarefas de escrituração com Ribeiro.

Paulo Honório, que imaginava Madalena como uma mulher frágil e normalista, incomoda-se profundamente com o comportamento da moça e então começam as brigas do casal, que evidenciam a personalidade violenta do fazendeiro. Não conseguindo dominar a mulher como controlava todos, Paulo Honório se torna cada vez mais agressivo com todos e revela um ciúmes excessivo. Mesmo o nascimento do filho não ameniza o ciúmes que sente de Madalena e suas desconfianças de traição.

Certa noite, o juiz Magalhães visita o casal e conversa animadamente com Madalena. Isso deixa Paulo Honório com mais ciúmes ainda e ele fica se atormentando durante a madrugada imaginando o prazer que um intelectual poderia despertar na esposa. Comparando-se ao juiz, sente-se bruto e inculto e chega à conclusão de que a traição era inevitável e Madalena grosseiramente.

No dia seguinte Paulo Honório vê a esposa muito abatida escrevendo uma carta direcionada a Azevedo Gondim e novamente se descontrola exigindo explicações. Ela então rasga a carta e o chama de assassino. Depois, ele se arrepende do que fez, mas não esquecendo o insulto recebido, convenceu-se de que Padilha havia contado algo para Madalena e resolve expulsá-lo. Porém, o professor diz que é fiel e obediente a Paulo Honório e que ela deve ter ouvido as histórias por meio da população local.

E assim Paulo Honório vai ficando cada vez mais paranoico em relação a suposta infidelidade da mulher e se torturava ao som de passos imaginários durante a noite e outros delírios. Enquanto isso, Madalena sofria e sua solidão só aumentava, sentindo-se humilhada e sem dignidade. Por fim, perde o interesse pelo próprio filho.

Um dia Paulo Honório, ao contemplar orgulhoso sua propriedade do alto da torre da igreja, vê Madalena escrevendo. Ele desce, confere o trabalho dos empregados e acha uma folha no chão. Lendo e relendo o trecho escrito, Paulo Honório tem certeza que é uma carta endereçada para um homem e é tomado por intenso ódio.

Então ele sai atormentado à procura da esposa e a encontra na igreja com uma aparência muito calma. Ele exige explicações, mas ela lhe diz muito desanimada que o restante das folhas estava no escritório. Por fim, ela lhe pede perdão por todos os aborrecimentos e diz que o ciúmes estragou a vida dos dois. Paulo Honório passa a noite sozinho no banco da sacristia.

Chegando em casa no dia seguinte, ele ouve gritos e descobre que Madalena havia se suicidado. Ela havia deixado sobre a bancada uma carta de despedida para o marido, sendo que faltava uma página, justamente aquela que ele havia encontrado no chão no dia anterior.

Após a morte de Madalena, D. Glória e Seu. Ribeiro deixam a fazenda. Luís Padilha junta-se os revolucionários para lutar na Revolução de 30 e também deixa São Bernardo. O juiz Magalhães é afastado do cargo e os limites da fazenda passam a ser contestados judicialmente. Com tudo isso, Paulo Honório se encontra abandonado.

Por fim, em meio a solidão e somente com a companhia de Casimiro Lopes e seu cachorro, Paulo Honório escreve sua narrativa. Amargurado pelo passado, toma consciência da desumanização por que passou enfrentando a dureza do sertão. Incapaz de mudar, Paulo Honório busca algum sentido para a sua vida refletindo sobre o passado e escrevendo sua história sentado à mesa da sala, fumando cachimbo e bebendo café.

Lista de personagens
Paulo Honório: personagem central e narrador do livro. Homem rude e violento, dá sua vida ao trabalho. Para conseguir o que quer, não mede esforços e nem meios, vindo a praticar diversos atos antiéticos.
Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância.
Salustiano Padilha: ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís.
Luís Padilha: após a morte do pai herdou a fazenda, mas se entregou à bebida, jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório, vê-se endividado e é obrigado a vender a fazenda.
Madalena: professora primária que fora criada pela tia. Casa-se com Paulo Honório. Instruída e educada, tem opinião própria e forte, o que desagrada a seu marido.
Dona Glória: tia de Madalena.
Seu Ribeiro: senhor que trabalha na fazenda. Fica próximo de Madalena.
Joaquim Sapateiro: ensina Paulo Honório a ler na prisão.
Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório. Havia sido encarregado de escrever as histórias do narrador, mas por utilizar uma linguagem mais erudita, desentende-se com Paulo Honório.
Casimiro Lopes: amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens dele sem pestanejar.
Mendonça: dono da fazenda Bom-Sucesso, é assassinado para que Paulo Honório possa aumentar as áreas de sua fazenda.
Dr. Magalhães: juiz amigo de Paulo Honório.

Sobre Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Terminando o segundo-grau em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista durante alguns anos. Em 1915 volta para o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de Barros, que falece em 1920 e o deixa com quatro filhos.

Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi convencido por Augusto Schmidt a publicar seu primeiro livro, "Caetés" (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e 1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos livros enquanto trabalhava como editor, professor e diretor da Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio Vagas enquanto se preparava para lançar "Angústia", que conseguiu publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos seguintes uma viagem à URSS e países europeus junto de sua segunda esposa, o que lhe rende seu livro "Viagem" (1954).

Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos denunciou fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em 1952 e vem a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953 aos 60 anos.

Suas principais obras são: "Caetés" (1933), "São Bernardo" (1934), "Angústia" (1936), "Vidas Secas" (1938), "Infância" (1945), "Insônia" (1947), "Memórias do Cárcere" (1953) e "Viagem" (1954).





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