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terça-feira, 17 de novembro de 2015

A ATRIZ LARA DUARTE ESCREVE CARTA ABERTA PARA DIMITRI GANZELEVITCH

  

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Lara Duarte atualizou a foto do perfil dela.
CARTA ABERTA À DIMITRI GANZELEVITCH

Caro Dimitri,

Nunca me imaginei escrevendo uma carta para uma pessoa que não conheço, mas o senhor me fotografou de biquine e publicou a bendita da foto... Logo, acho que já somos praticamente íntimos.
Meu nome é Lara, eu tenho 22 anos, sou atriz e tento (tento com força) ser dramaturga. Sou regida pelo signo de Câncer (Sim! Faço parte do vasto grupo de artistas que discutem astrologia em mesa de bar), eu tenho um gato chamado Teodoro e morro de saudades da minha família que em sua maioria não mora em Salvador.
O biquine que eu estava usando na foto registrada pelo senhor é o mesmo dessa fotografia que acompanha a carta e pasme: ELES NÃO SÃO UM CONJUNTO! – A parte de baixo minha mãe me deu há muitos anos atrás, porque eu tenho loucura por bolinha. A parte cima eu comprei recentemente no pelourinho, porque achei a estampa de frutas uma graça e o verão tá chegando, o senhor sabe como é: vem chegando o verão, que calor no coração! Topless na areia (canta comigo) virando sereia. (Dimitri, imagina se eu tivesse de topless?? A família tradicional brasileira tremeria na base)
Já que estamos devidamente apresentados, eu vou ser sincera! Sou sempre muito sincera com meus amigos (ascendente em sagitário)


Eu sinto muito, por você. De verdade!
Deve ser muito frustrante viver em total falta de sincronia com o século 21. Não digo, total, né? Já que esse projeto do “Aqui podia morar gente” é uma iniciativa super bacana... Mas o senhor vê como são as coisas, eu aqui na inocência da minha juventude achando que as pessoas que são envolvidas com movimentos artísticos-politicos são minimamente esclarecidas... Ainda tenho muito o que aprender!
Mas uma coisa eu já aprendi: o que não falta nesse mundo é macho querendo mandar em tudo, inclusive no meu corpo.
Entendo que a cabeça coberta por cabelos brancos pode ser uma ótima justificativa pra empoeirar os valores que se tem e sentar regalado e convicto de que se detém todas as verdades. Gostaria de apresentar ao senhor a minha versão da verdade: na tal da foto captada pelas suas lentes, eu estava no meio de um ensaio de uma peça integrante da programação do FIAC Bahia e “o donzelo” (como foi dito na foto: a prostituta e o donzelo) chegou pra me ver! Ele apareceu assim de SURPRESA na Barroquinha, foi no local onde eu trabalho, só pra me ver... Eu saí super feliz, claro, abanando o rabinho pra falar com ele, porque convenhamos, tem certas conversas que se a gente bota na geladeira, elas estragam. O donzelo me desejou boa sorte e eu pude apresentar a Bunda de Simone, cheinha de um sentimento bom. Olha que ironia eu apresento a Bunda de Simone pelada. Tipo assim, nua. Sabe sem roupa? ... CREIA. É uma peça do grupo que eu faço parte, o Teatro Base – Grupo de Pesquisa Sobre o Metodo da Atriz, e fala justamente (o senhor não vai acreditar), a peça fala justamente sobre o direito da mulher ao próprio corpo. A vida é mesmo uma novela, né? Se essa situação fosse numa ficção não ia prestar, porque ninguém acreditaria na coincidência.
Mas o senhor foi muito esperto, maquiavélico até... Publicou um monte de foto elogiando o Panorama Internacional Coisa de Cinema, dizendo que era um festival incrível e mais um monte de rasgação de seda e depois como um bom cidadão postou-me com a seguinte legenda: “Enquanto isso na área externa do teatro da Barroquinha” ... e eu lá enfeitando a foto do senhor com meu belo corpitcho num biquine descasado e o donzelo (que eu particularmente acho um gato) vestido dos pés a cabeça. Depois disso veio uma avalanche de comentários sórdidos dos seus amigos, todos bem conservadores e machistas. O machismo é um cachorro cheio de dentes, bem grande e fedido que late e late e late e late e late e late e contrariando o ditado popular me morde todo santo dia! O senhor não sabe a raiva que me deu. O nojo que me deu. A tristeza e uma sensação de impotência diante dessa sociedade que elege Eduardo Cunha.
Eu poderia processar o senhor, falei com todos os advogados que conheço. Mas pra isso precisaria também processar todos os que comentaram na foto, seriam inúmeras audiências, envolvendo pessoas nada agradáveis, pra no final das contas o senhor me pagar algum dinheiro. E eu faria o que com esse dinheiro? Que valor ele teria pra mim? Acharia ótimo se esse tal dinheiro pudesse pagar por toda a exibição que o senhor fez de mim, pudesse pagar por todos os assédios que eu sofro diariamente na rua, todas as vezes que eu deixei de fazer algo por ser mulher, todas as vezes que eu tive medo por ser mulher, todas as vezes que me calei e chorei no banheiro, todas as vezes que eu abortei, todas as vezes que eu apanhei do meu marido em casa, todas as vezes que eu tive uma jornada tripla de trabalho, todas as vezes que me trataram feito um objeto, todas as vezes que eu odiei o meu corpo, todas as vezes que odiei outras mulheres, todas vezes que eu não pude me expressar, todas as vezes que puniram a minha sexualidade, todas as vezes que usufruíram da minha sexualidade, todas as vezes que eu morri e morri fudida e subjugada numa condição de mulher que hoje eu rejeito.
...
só que o seu dinheiro não paga, a sua verdade não me interessa e espero sinceramente que o senhor seja capaz de tratar as mulheres com mais respeito.
por favor, aceite a carta e não um processo judicial, como uma medida carinhosa e pedagógica... Não faça mais isso com mulher nenhuma, meu caro.

Um beijo,
Lara.


ps: Foto de Gustavo Carvalho
 

pps: O face só me deixa marcar 50 pessoas, mas sei que tem bem mais gente do que isso do meu lado!

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