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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Expressão Artística e Mundo Subjetivo | Papeando Com a Psicologia

https://grupopapeando.wordpress.com/2008/11/13/expressao-artistica-e-mundo-subjetivo/


‘Orbitals’ (Variation B) – Arte Computacional por J.Tarbell


Por Erika Antunes e Joel Giglio.


A relação entre elaboração artística e expressão do mundo subjetivo
passou a ser estabelecida como um importante foco de interesse de
estudiosos representantes do meio científico e de integrantes do meio
artístico a partir do final do século XIX,tendo maior repercussão a
partir do início do século XX. Nesse período,portanto, alguns estudos
considerados pioneiros demarcam o início das pesquisas na área.


Ferraz (1998), em seu livro ‘Arte e Loucura‘,
descreve o momento histórico que se caracteriza pelo entrelaçamento
entre áreas distintas, vislumbrando a interseção entre arte, psicologia,
psiquiatria e psicanálise. Ela menciona vários importantes
pesquisadores que inicialmente abordaram a interface: arte e saúde
mental,dentre os quais podemos citar: Tardieu, em 1872; Simon, em 1876
e1888;Lombroso, em 1889; Mohr, em 1906; Rejà, em 1907 e Prinzhorn, em
1922.


Com relação a esses pesquisadores, destacaremos aqui dois deles: Mohr e
Prinzhorn. Mohr recebeu maior notoriedade científica após a publicação
de um trabalho sobre a produção gráfica de doentes mentais. Ele
influenciou vários outros estudos que contribuíram com a elaboração de
alguns testes projetivos amplamente difundidos no campo da psicologia e
da psicanálise. Prinzhorn, por sua vez, publicou em1922 o livro cujo
título em português é ‘A expressão da loucura’. Essa publicação teve na
época importante repercussão, valorizando as elaborações artísticas dos
doentes mentais como produções de arte verdadeiramente
reconhecidas,ressaltando a preservação das possibilidades criadoras
desses indivíduos em detrimento da desintegração psíquica,
característica dos transtornos mentais(Ferraz, 1998).


É interessante observarmos que, nesse momento histórico, o movimento
psicanalítico também começou a eclodir, havendo confluência de
interesses, já que a psicanálise,especialmente Freud, também buscava
nessa época a compreensão da dinâmica psíquica a partir de estudos sobre
as obras de alguns artistas consagrados,tanto nas artes plásticas
(Freud, 1910/1970 e 1914/1974) como na literatura.


Na década de 20,entretanto, a arte começou a ser vista sob um enfoque mais
amplo,contemplando não somente a possibilidade de diagnóstico, mas
também sendo destacado seu aspecto terapêutico. Jung passou a introduzir
a arte como parte do processo psicoterapêutico de seus pacientes, como
veremos no próximo tópico.


Posteriormente, então, a esses primeiros estudos, a partir dos anos 40, a arteterapia foi realmente sistematizada, tendo como precursora Margareth Naumburg, nos Estados Unidos,que foi bastante influenciada pela abordagem freudiana; a autora trabalhou com a produção da arte espontânea durante a psicoterapia, considerando que as imagens espontaneamente projetadas nas produções gráficas e plásticas permitem a expressão do inconsciente.

O processo de arteterapia se baseia no reconhecimento de que os pensamentos e os sentimentos mais fundamentais do homem, derivados do inconsciente, encontram sua expressão em imagens e não em palavras. As técnicas da arteterapia se baseiam no conhecimento de que cada indivíduo, treinado ou não em arte, tem uma capacidade latente de projetar seus conflitos internos em forma visual. Quando os pacientes visualizam tais experiências internas, ocorre freqüentemente que eles se tornam mais articulados verbalmente (Naumburg, 1991, p.388).

Outros autores desenvolveram importantes trabalhos que contribuíram com a sistematização da arte no processo terapêutico. Podemos citar aqui Edith Kramer, desenvolvendo trabalhos na década de 50, Françoise Dolto, trabalhando com crianças na década de 70, Janie Rhyne, introduzindo a concepção da Gestalt-Terapia no trabalho com arte nos anos 70 e Natalie Rogers, aplicando a concepção da Teoria Centrada na Pessoa, desenvolvida por seu pai Carl Rogers, também na década de 70(Andrade, 2000).
A arteterapia, entretanto,vem sendo considerada uma modalidade terapêutica com características próprias, abarcando em si algumas distinções técnicas e conceituais,diferenciando-se através de duas linhas de atuação: arte como terapia (artas therapy) e arte psicoterapia (art psychotherapy). Na primeira delas, o foco principal da terapia está no processo artístico, considerando suas propriedades curativas. Na segunda vertente, os recursos artísticos são utilizados amplamente durante o processo psicoterapêutico, acrescentando a via imagética e pictórica na comunicação entre paciente e psicoterapeuta (nesse caso, com a utilização de técnicas de artes plásticas). Nessa segunda linha de atuação, o fazer arte ocorre dentro de um enquadre psicoterapêutico específico, seguindo princípios, técnica, embasamento teórico e objetivos que visam fundamentalmente o desenvolvimento emocional do indivíduo, repercutindo na ampliação de potencialidades criativas (Andrade, 2000).
No Brasil, o enfoque psicodinâmico fundamentou os trabalhos pioneiros na introdução da arte como proposta terapêutica realizada junto a pacientes psiquiátricos institucionalizados. Esses trabalhos foram desenvolvidos por Osório César em São Paulo e por Nise da Silveira no Rio de Janeiro, repercutindo profundamente na proposta atual do arteterapeuta.
Osório César, baseando-se no referencial freudiano, é considerado o precursor da perspectiva terapêutica da arte no Brasil. Sua prática foi realizada com pacientes internos do Hospital Psiquiátrico do Juqueri e seu primeiro artigo sobre esse tema, datado de 1925,intitula-se: ‘A Arte Primitiva nos Alienados‘ (Ferraz, 1998).
(...)

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