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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Amarildo, pedreiro - por Carlos Nejar

 

 *poema enviado pelo amigo Erre

Amarildo, pedreiro

  por Carlos Nejar

Amarildo, pedreiro,
inerme, dentre pedras,
ninguém o construiu,
onde o silêncio
medra, silêncio que
preserva
o que nos olhos viu
quando a semente abriu:
Amarildo sumiu.
Não deixou sequer rastro.
Como navio sem mastro,
ou mastro sem navio.
Teve o corpo roubado,
teve a alma roubada.
E nem a terra sabe,
onde foi posto o corpo
subtraído por vermes.
Ou pelo espaço solto.
Nem o céu, nem o inferno
têm de Amarildo a sombra.
E não sei se existiu.
Casado com as ervas,
sua mulher diz sim,
existiu como a chuva,
o sol ou as saúvas.
E a lua na escura
habitação. Integrava
sua família, a fome.
Amarildo some.
Sem nenhuma prova,
Ou nenhuma cova
achada, ou que lado
a sua luz fugiu,
ou talvez fosse a noite.
Se torturado ou não,
a polícia se cala,
Como a morte expande
seu sotaque e juízo.
Era um homem, ou foi.
Ou nem chegou a isso.
Era somente abismo.

Carlos Nejar é escritor














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