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quinta-feira, 18 de junho de 2015

DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ - Crônica de Jackson Machado de Assis e do Pandeiro




DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ

Crônica de Jackson Machado de Assis e do Pandeiro

A gente vai junto, prum lado ou pro outro. Cair, jamais. É o que se pretende. Mesmo quando sentimos muito frio. Este, até na alma.

Lá no salão onde costumávamos frequentar, tanto no inverno quanto no verão, assim que o uísque começasse a subir, partíamos para os boleros, ninguém desconfiava. Íamos, os dois, para um lado e, em seguida, para o outro. Sempre no ritmo de bolero. De preferência “Dois pra lá e dois pra cá”, do João Bosco e do Aldir Blanc, imortalizado pela maior intérprete deste País, Elis Regina. Se a gente se desgrudava, nossa, seria, na certa, um desastre, um pra lá e outro pra cá. Cairíamos no meio do salão. Não ajudariam, nem se importariam. Apenas iriam rir.

Uma vez, não lembro onde, escrevi: É na estrutura do ziguezague que o bêbado se garante. Tampouco lembro se copiei de alguém.

Voltando àqueles dois, um, até crooner já foi, dizem; mineiro. O outro, carioca, tipo carnavalesco circunspecto, pasmem, além de escrever essas letras para músicas y otras cositas más, ainda ex-baterista e psiquiatra. Durma-se com o som desses dois.

Pra falar a verdade, eu dependia dele e, ele, de mim. Éramos unha e carne na arte de dançar, ou, de equilibrarmo-nos. Se eu estivesse aflita, ou ele aflito, vá que o coração, de qualquer um de nós, disparasse feito aquele instrumentozinho que o rapaz lá da orquestra costuma tocar, uma bolinha em cada mão, nos boleros, a gente nem ligava. Às vezes, talvez pelos uísques, poderia, até, parecer que a gente se entusiasmava mais do que os outros, no imenso salão. Nossos perfumes se misturavam a tal ponto que, nem ele e nem eu, tentávamos explicar ou querer saber de quem seria ao certo.

Costumava enfeitar-me para aquelas ocasiões. Não tinha jóias caras. Mas, as bijuterias, eram lindas!

Para ser sincera, mesmo, acho que essas lojas de calçados deveriam, quando vendem esses sapatos, principalmente esses mais baratos, dar, de brinde, um par de band-aids. É quase certo que aquele calo que bem o conhecemos, o sapato novo fará lembrá-lo, ou fazer-nos lembrar de algum aperto por que passamos.

Foram tantos uísques com guaraná que acabei me acostumando com a parceria. Chego a escutar, em meio aos meus delírios: “São dois pra lá, dois pra cá”.

 

Bagé, 16 de junho de 2015.

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