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segunda-feira, 18 de maio de 2015

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO - "MEDO DA LIBERDADE" - PAULO FREIRE




(...)PRIMEIRA PALAVRAS 

AOS ESFARRAPADOS DO MUNDO E AOS QUE NELES SE DESCOBREM E, ASSIM DESCOBRINDO - SE, COM ELES SOFREM, MAS, SOBRETUDO , COM ELES LUTAM. 

As páginas que se seguem e que propomos como uma introdução à Pedagogia do Oprimido são o resultado de nossas observações nestes cinco anos de exílio. Observações que se vêm juntando às que fizemos no Brasil, nos vários setores em que ti vemos oportunidade de exercer atividades educativas; 

Um dos aspectos que surpreendemos, quer nos cursos de capacitação que damos e em que analisamos o papel da conscientização, quer na aplicação mesma de uma educação realmente libertadora, é o “medo da liberdade”, a que faremos referência no primeiro capítulo deste ensaio. 

Não são raras as vezes em que participantes destes cursos, numa atitude em que manifestam o seu "medo da liberdade”, se referem ao que chamam de “perigo da conscientização”. “A consciência crítica (... dizem...) é anárquica.” Ao que outros acrescentam: “Não poderá a consciência critica conduzir à desordem”? Há, contudo, os que também dizem: “Por que negar? Eu temia a liberdade. Já não a temo”! 

Certa vez, em um desses cursos, de que fazia parte um homem que fora, durante longo tempo, operário, se estabeleceu uma dessas discussões em que se afirmava a "periculosidade da consciência critica”. No meio da discussão, disse este homem: “Talvez seja eu, entre os senhores, o único de origem operária . Não posso dizer que haja entendido todas as palavras que foram ditas aqui, mas uma coisa posso afirmar: cheguei a esse curso, ingênuo e, ao descobrir - me ingênuo, comecei a tornar - me crítico. Esta descoberta, contudo, nem me faz fánatico nem me dá, a sensação de desmoronamento”. Discutia - se, na oportunidade, se a conscientização uma situação existencial, concreta, de injustiça, não poderia conduzir os homens dela conscientizados, a um “fanatismo destrutivo” ou a uma “sensação de desmoronamento total do mundo em que estavam esses homens”. 

A dúvida, assim expressa, implícita uma afirmação nem sempre explicitada, no que teme a liberdade: “Melhor será, que a situação concreta de injustiça não se constitua num “percebido” claro para a consciência dos que a sofrem”. 

Na verdade, porém, não é a conscientização que pode levar o povo à “fanatismos destrutivos”. Pelo contrário, a conscientização, que lhe possibilita inserir - se no processo histórico, como sujeito, evita os fanatismos e o inscreve na busca de sua afirmação. 

“Se a tomada de consciência abre o caminho à expressão das insatisfações sociais, se deve a que estas são componentes reais de uma situação de opressão” 1 . 

O medo da liberdade, de que necessariamente não tem consciência o seu portador, o faz ver o que não existe. No fundo, o que teme a liberdade se refugia na segurança vital, como diria Hegel 2 , preferindo - a à liberdade arriscada.(...)

leia o livro em:
 http://forumeja.org.br/files/PedagogiadoOprimido.pdf

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