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terça-feira, 28 de outubro de 2014

GOLPISTAS; VAMOS PERMITIR ?



 charge de Latuff

POST-ELEÇÕES02

Os Saudosos Golpistas de Novo
Vamos Permitir?
Carlos A. Lungarzo
A direita não se conforma com o resultado das eleições. Tendo a seu favor, de maneira escancarada, a grande mídia, e, de maneira mais sutil, boa parte de judiciário, junto com a classe média tradicional, racista e messiânica, mesmo assim, foi derrotada. Nem as "pesquisas" escandalosas de Sensus e das misteriosas Paraná e Veritá, nem a sistemática recusa do direito de resposta do TCE (salvo alguma vez por aí), nem as "denúncias" amparadas pelo juiz Sérgio Moro, da Operação Lavajato, nem as absurdas queixas contra os Correios, foram suficientes. Eles querem um golpe mais forte, e aquele pequeno grupo de engravatados nanocefálicos que saem a "manifestar" na Av. Paulista, é apenas um sintoma. O governo de Dilma mostrou que estar com o povo é algo mais que ajuda econômica. É permitir que esse povo defenda sua dignidade. É fundamental reconstruir a militância do PT, dispersada durante anos. Também a esquerda, apesar de pequena, deve deixar seu sectarismo e apoiar o governo, criticamente, duramente, como seja, mas apoiando-o contra o fascismo. Rejeitemos o QUANTO PIOR, MELHOR, o TUDO OU NADA. O risco não é voltar ao Brasil de FHC ou de Costa e Silva. O risco é nos tornarmos o Chile de Pinochet ou a Argentina de Videla. Não se devem subestimar os inimigos.

Em maio de 1973, o povo do Chile duvidava que fosse possível um golpe no país. O presidente Allende e seu grupo mais íntimo estavam muito alertas sobre isso, mas tinham medo que a militância popular se arriscasse demais e ela própria fosse exterminada pela direita. O que aconteceu? Em 11 de setembro desse ano, a direita atacou, mas o povo não tinha possibilidade de defender-se. Milhares de pessoas morreram e o país foi afundado no fascismo.
A ideia de unidade total de uma sociedade é, ou ingênua, ou demagógica. No caso da direita, esse chamado à unidade é, simplesmente, totalitário. Quer dizer: "Vocês, coitados, unam-se a nós; a gente tem a corda e vocês vestem a coleira".
 Todas as sociedades, até as mais pequenas e abastadas, têm algum grau de divisão. No Brasil, em Honduras e lugares semelhantes, essa divisão é enorme. Ignorá-la pode ser explicado pelo temor. Nossos inimigos (eles, como corretamente dizia o presidente Lula) tem o dinheiro, as armas, e o poder de envenenar as mentes. Nós temos a razão, a coragem e a inteligência. Mesmo assim, é uma luta desigual, mas não pode ser ignorada. Talvez o perigo de golpe possa se esvaziar aos poucos, mas não temos certeza.
No Brasil, as FFAA não parecem interessadas num golpe. É melhor nos ater ao que vemos e não ao que imaginamos. Mas o que vemos é claro. O golpe da mídia é implacável, a pressão dos fascistas aqui e no exterior é forte. O ex ministro de FHC já esfregava as mãos pensando num brinde delicioso: Petrobrax+Caixa+BB+ alguns bônus. Disse algo como (não lembro literalmente): "dos bancos públicos não sei o que vai sobrar".  "Se dou algo aos velhinhos vou precisar tirar das criancinhas".
Os neofascistas estavam próximos de um orgasmo antes do dia 26. O futuro era maravilhoso, o lucro aumentando: R$40 bi do “Bolsa Família”, outro tanto do “Minha Casa Minha Vida”. Nossa! Quanta grana! Que tentação! Os médicos já não teriam o fantasma do “Mais Médicos”. Claro que eles não iam atender aos que foram tratados pelos cubanos, mas haveria menos pobres vivos. Um mundo mais limpo. O sonho dos boers (os fascistas Sul Africanos), até que chegou aquele maluco de Mandela...
O outro setor da direita (pior ou melhor ?) também prepara sua festa. Tiragem de duzentos milhões de bíblias, até para crianças e analfabetos. Dízimos de todos os habitantes do país: afinal, não pagamos ao INSS? Por que investir em aposentadoria, quando podemos investir no céu? Fim do Alzheimer, o Parkinson, o câncer, curados pelos milagres...
Enfim, o assunto pode pensar-se como comédia, para nos sentirmos mais leves. Acho o humor muito saudável.
Mas não se pode atuar como numa comédia. Pensemos como, nestes 12 anos, a direita foi escalando suas figuras:
1) O educado José Serra, de linguagem soletrada e vibrante, foi derrotado duas vezes a presidente.
2) O contrito voluntário do Opus Dei, foi derrotado uma vez.
Agora, a direita tinha a solução:
Um playboy hooligan de uma velha dinastia de coronéis, homem corajoso que não tem medo de bater em mulheres, histórias mirabolantes de aeroportos, aviões e helicópteros. Auxiliado (voluntariamente ou não) por alguém que já fora membro do governo. Como dizia o nazista Kalterbrunner: para combater a esquerda você precisa ter estado perto dela.
Todo mundo achava que daria certo. Não deu, mas andou perto.
Ninguém sabe o futuro, mas eles não vão esperar quatro anos. Os governos de Lula e Dilma, por razões diversas (não por má vontade), talvez não souberam como lidar adequadamente com o "inimigo em tempo de paz".
Essa vocação pacifista é louvável, e isso diferenciou a nós, da esquerda, em relação aos da direita, desde 1799 (fim da Revolução Francesa) quando o termo foi cunhado. Mas não sabemos até quando eles seguirão em paz.
A fábula do doleiro Yousseff se esvaziou. A mídia ficou um pouco sem graça, depois de apostar todas suas fichas para a derrota de Dilma.
É necessário, a todo custo, evitar a violência. O combate à corrupção é fundamental e a proposta de Dilma neste sentido é impecável. Mas, mesmo se o PT estivesse fora de toda suspeita de corrupção, será que isso conformaria à direita?
Nós, latinos, já temos certa experiência: Argentina, Chile, Uruguai, Honduras, Guatemala, Panamá, Bolívia, Granada, etc.
O que a direita brasileira quer é muito claro. Qualquer bom leitor de VEJA, sabe isso: negros com alma branca, pobres subservientes, apenas os imprescindíveis para trabalhar, bairros nobres sem metros, salários de trabalho semi-escravo. Afinal, por que pensamos que a nossa burguesia é mais civilizada que a Indiana ou a Chinesa?
O que se precisa fazer não é nada impossível. Vimos, durante esta campanha, grande mobilização de petistas e apoiadores progressistas, gente entusiasmada fazendo o possível e até o impossível para ajudar a campanha. Os dirigentes do PT devem ter mais contato com suas bases. Devem retomar a militância como verdadeira base de sustentação. A educação não deve cingir-se a aprender a usar os produtos da Microsoft ou ter conhecimentos de tecnologia para a empregabilidade na indústria, no comércio e nos serviços. Isso é fundamental. Mas se deve dar aos jovens conhecimento da história e ensinar-lhes a pensar, a ter senso crítico e compreensão da sociedade em que vivem.
Se uma pessoa de boa fé duvida entre uma desemprego de 4.9% e um possível desemprego de 20 a 25%, bom, algo anda muito errado. A educação que damos aos nossos jovens é pior do que pensamos.
Deve ser feito o grande esforço de levantar e desengavetar as dúzias (ou centenas) de atos ilícitos e de corrupção praticados, principalmente aqueles que permanecem escondidos pelos investigadores, juízes e mídia da oposição.
Deve-se dar aos Direitos Humanos a prioridade que exige a Constituição. Não podemos seguir tendo medo de dizer que o Brasil é campeão de linchamento, tortura, discriminação, etc. Talvez possamos ser linchados por denunciar isto. Mas se todo o mundo cala, a barbárie nunca acabará. Sabemos que tanto Lula como Dilma, a esquerda do PT e a esquerda independente, estão de acordo com isto. Mas é necessário não mostrar medo. Serve a conciliação com a direita? Não Sabemos. Não podemos acreditar sempre em que tudo se repitam, mas vejamos: a conciliação fracassou na Espanha do 36, fracassou na Europa de 39, e em toda América Latina. Pode-se negociar até certo ponto, mas não pode negociar-se tudo. Nesse sentido, foi estimulante a forma decidida em que Dilma se confrontou com as calúnias de Veja. Mas ação jurídica deve levar-se até o fim.
Talvez a Reforma Política demore muito. Mas o Marco Regulatório da Mídia pode ser mais rápido, embora também seja muito difícil. Os milhões de jovens que estão vivendo uma sociedade mais justa devem ter certeza de que essa justiça não será arrebatada.

A Presidenta prometeu isso. O PT, sua base de apoio e a esquerda consciente de seu papel, devem lutar para que isso possa se cumprir.

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