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domingo, 19 de outubro de 2014

Aprendemos com os erros do próximo? - Por Carlos A. Lungarzo



VEJA UM EXEMPLO DE PLANO ECONÔMICO SIMILAR AO QUE PROMETE AÉCIO PARA O BRASIL. FAZ 20 ANOS E AS VÍTIMAS AINDA CONTINUAM SOFRENDO.


Aprender com os Erros Alheios

Coloco um artigo sobre a crise criada na Argentina em 1991, por um plano muito semelhante àquele que se propõe aplicar Aécio no Brasil, incluindo BC independente, fim de inflação e outras coisas.
Leia e se achar interessante, divulgue a todos seus conhecidos.
Talvez você não goste de muitas coisas do Brasil atual; eu também acho que há muito que corrigir. Porém, você acha que isso justifica explodir toda a economia nacional? Leia e reflita.
Obrigado
Carlos A. Lungarzo


Aprendemos com os erros do próximo?
  

Carlos A. Lungarzo




Se vemos um erro que já não pode ser reparado,
pensemos, pelo menos, que esse erro pode servir de lição para não cometer erros similares. É horrível pensar que milhões de pessoas cometeram erros políticos, e isso custou muito sangue inocente. Mas, pelo menos, tentemos evitar o sofrimento do futuro.


Levei meu dinheiro ao banco para guardar- não para ser roubado.

Um Caso Parecido ao do Brasil
 
Quero tomar a liberdade de falar de um caso que
conheço muito bem, Argentina, que há 20 anos passava
por exatamente os mesmos problema de Brasil na época:
desemprego, alta inflação, juros enormes, miséria
crescente. Até que, em 1989 foi eleito uma espécie de
Messias, o homem que prometia tudo.
Era um fazendeiro e financista do Noroeste que se
chamava CARLOS SAUL MENEM (nascido em 1930 –)
Em maio 14 de 1989, ele foi eleito com o 47,8% dos
votos. Sua campanha esteve apoiada em propostas
neoliberais, matizadas com um toque de populismo. Ele
disse coisas como:
“O país está muito mal. Alfonsín (o anterior
presidente) o entregou pior do que o recebeu. Mas, o
vamos fazer crescer. Precisamos um pouco 

de tempo de sacrifício, de algumas 
medidas duras, mas logo, tudo vai melhorar”.
“Nosso país vai crescer e teremos um salariaço
(uma espécie de golpe de salário alto). Salário alto,
forte, real, que valha, não corroído pela inflação.”

 

O termo “salariaço” ficou famoso na Argentina. Ao
mesmo tempo, Menem propôs um plano parecido ao
Real. Este substituiu a moeda vigente, o Austral, pelo
PESO. Também ficou famosa uma frase do governo:
 

“Nós admiramos os americanos. Eles sabem fazer
as coisas. Argentina tem um os EUA uma relação
carnal”.



Mas Menem foi também cordial com FHC. Ambos se
encontraram várias vezes na Argentina e no Brasil, e
Menem sempre disse que “O presidente perfeito para o Brasil é o doutor Cardozo. Argentina o apoia, pois ele trará o progresso a ambos os países”.
Argentina tinha, pouco depois da posse de Menem,
não apenas inflação, mas também recessão, e queda na
produção. Então Menem decidiu aplicar um plano
aconselhado por Washington para toda América Latina.
Esse plano consistia em reduzir o estado ao mínimo,
eliminando quaisquer programas sociais (que quase não
tinha), reduzindo os postos de trabalhos, facilitando os
investimentos estrangeiros,tirando as barreiras
alfandegárias.
O desemprego chegou a ser de 32% (TRINTA E DOIS
POR CENTO) em nível nacional.
Veja como era o plano



A Conversibilidade da Moeda

 
Menem nomeou, como ministro de Economia, Domingo
Cavallo, grande ideólogo da ditadura militar que havia
saído do poder 8 anos antes, após de perder a guerra.
Em 1991, Cavallo fez uma série de reformas na economia,
aumentando ao máximo o poder da iniciativa privada e
reduzindo o estado quase a zero.
Foi, por sinal, o período de maior corrupção na
Argentina, um país famoso pela corrupção histórica
desde os tempos da colônia.
Isto provou o que muito já sabem: sempre há mais
corrupção na vida privada que na pública.





        1) Convertibilidade. O Banco Central (que foi tornado independente por Menem) fixou uma taxa de câmbio de 1 Peso = 1 Dólar. Ou seja, o peso ficou conversível com o dólares na proporção 1 a 1. 
2) Privatização de tudo o que fosse útil: petróleo correios, jazidas, telecomunicações, energia, água, transportes etc. Ele fez até o fim o que FHC tentou, mas não conseguiu. Menem pode privatizar tudo, porque já os militares havia privatizado a metade.




O objetivo era diminuir a inflação. Conseguiram? Sim.
A hiperinflação de 1989 foi caindo e em 1993 estava em
menos de 10% por ano.
O PIB aumentou e os investimentos se multiplicaram, em
cinco anos (1990-1994), quase duas vezes e meia.
Ou seja, as variáveis macro, expressivas do bem estar dos altos investidores e empresários, melhoraram muito. Ora, o que aconteceu com o restante da população?
a) O desemprego total atingiu 20%, porém, o
subemprego passou de 50%.

b) Os investimentos em saúde e educação caíram,
numa taxa que o governo nunca revelou. Uma evidência
forte é que apareceram novas camadas de analfabetos,
um problema que em Argentina estava eliminado
totalmente desde 1952.
c) A valorização do peso, que valia o mesmo que o
dólar tornou o custo de vida extremamente caro.
Graças a especulação financeira, empreendimentos
de tipo social, como a construção de prédios,
começaram a decair, e os aluguéis atingiram valores
muito maiores que o salário médio. Foi nessa época
que houve massivas emigrações ao Brasil, Uruguai,
Chile, e, para os que tinham possibilidades, Espanha
e Itália. Também se quadruplicou o número de
favelas e se quintuplicou o número de cortiços
.
d) O Plano Menem produziu uma poderosa casta de
novos ricos, e uma ampla faixa de miseráveis. Em
1996, os jornais estrangeiros (incluídos alguns
brasileiros) comunicavam que a Argentina havia
passado a ser o quinto país do mundo com maiores
índices de suicídio.
No começo, as pessoas estavam entusiasmadas com a
Convertibilidade. “Que bom! Um peso nosso vale tanto
como um dólar”. Mas, quando o dólar voltou a se
valorizar entre as moedas fortes, a convertibilidade foi
um empecilho para a exportação, levando fábricas,
fazendas e outras empresas à falência.
A classe média imaginou um futuro esplendoroso
poupando, já que isso equivalia a guardar dólares.
Mas, quando o dólar aumentou muito seu valor, o
GOVERNO RECUSOU DEVOLVER OS DEPÓSITOS FEITOS.
 


Exemplo


Você tinha depositados 10.000 DÓLARES, que o banco guardou e transformou em 10.000 pesos. Mas, quando você queria retirá-los, esses 10.000 dólares eram cotados como pesos. Ora, quando você depositou, era 1 dólar = 1 peso. Quando você quis retirar o valores era, mais ou
menos 1 peso = 0,07 dólar. Ou seja, por cada dólar que
você havia depositado lhe devolveram 7 centavos.
Se você tinha sorte, pois o dinheiro não alcançava para todos, poderia receber 250 pesos por semana, algo assim
como 19 dólares, mas você não recebia em dólar, recebia em peso.

O país entrou na maior falência que já houve na América Latina em toda sua história.
A crise em outros países (México – crise Tequila, Ásia Oriental, Rússia 1998) fizeram que as taxas de juros aumentassem.
Então, o quadro estava completo.
1) Nova inflação
2) Nova alta nos juros
3) Uma média de desemprego ou subemprego de 40 a

50%
4) Infraestrutura destruída.
5) Bilhões de pesos cativos, que o governo não podia
devolver em dólares.
Menem acabou seu mandato e foi embora em 2000, após um intento de matar políticos da oposição. O novo
presidente, De la Rua, era um conservador tradicional,
opositor de Menem, homem de confiança da Igreja. Ele nem sequer tinha capacidade operativa como Menem.
Ao aumentar o déficit fiscal, o câmbio fixo produziu um verdadeiro estrago. No final de 2001, cerca de dois milhões de membros da classe média saíram às ruas de Buenos Aires para protestar. Desesperados por ter
perdido todos, alguns tentaram abrir as portas dos
bancos pela força.
Esse sequestro do dinheiro pelo governo foi chamado CORRALITO (curralzinho).
Apesar da enorme multidão, a polícia atirou a matar e, em alguns minutos, houve 26 mortos.
O presidente De la Rua fugiu de helicóptero, pois a multidão queria linchá-lo. Renunciou ao cargo e viajou ao

exterior. Ainda em Espanha, encontrou grupos de argentinos que quiseram bater nele, e recebeu numerosas pedradas.
As pessoas com mais de 30 anos talvez lembrem disto lembrar:
Após a renúncia de De La Rua, NINGUÉM QUERIA SER PRESIDENTE  DA ARGENTINA.
Esquisito, hein? Cinco líderes políticos aceitaram a presidência e renunciaram antes de
uma semana. Só Duhalde durou mais de um mês.
Finalmente, ganhou as eleições Nestor Kirchner.
Durante seu governo, o tecido social argentino foi reparado, porém tendo, para isso, que exigir a reestruturação da dívida. O esforço de Nestor e Cristina
Kirchner foi fantástico, ajudados pelos políticos mais
jovens que haviam estado na luta contra a ditadura.
Apesar disso, o problema não se resolveu, POIS O DESASTRE CAUSADO PELO PLANO DE MENEM destruiu
todas as bases da economia.
Hoje em a crise herdada permanece.
OS CREDORES DE UMA PEQUENA PORCENTAGEM DA DÍVIDA NÃO ACEITARAM A REESTRUTURAÇÃO.

Ou seja, 24 anos depois da subida de Menem ao poder, Argentina ainda não conseguiu resolver todo o
caos econômico gerado por ele e ainda precisa curar suas feridas.
Pense nisso quando for votar. Você acha que 6 ou 7% de inflação é uma taxa enorme? Não é.
Mas pense também que o Estado de São
Paulo (só na região do ABCD e Capital) com FHC teve 19% de desemprego.
Outra coisa: por que FHC não fez um desastre do mesmo tamanho que o de Menem?? Resposta simples:
FHC esteve só oito anos. Já Menem continuou o trabalho da ditadura (7 anos) e ele mesmo esteve 10 anos.
Agora, no Brasil, o próximo presidente terá mais 4 anos. Se ele decidir continuar a onda de FHC, o total de governo recessionista será de 12 anos.
Quanta tragédia se pode fazer em mais 4 anos?
Se tiver dúvidas, consulte, compare, pergunte, veja como está a situação Argentina. Se você votar errado,
não haverá quem possa parar o estrago. Não vai adiantar fazer greves, porque elas já foram reprimidas no Brasil em 1995 com muita brutalidade.


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