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quinta-feira, 14 de março de 2013

ESCLARECIMENTO SOBRE MEU ARTIGO DE ONTEM SOBRE O PAPA





Esclarecimento sobre meu Artigo “Os Segredos do Santo Padre”


Carlos Alberto Lungarzo
14 de março de 2013
Após a difusão por minhas redes sociais de meu artigo sobre o Santo Padre, recebi numerosos comentários, todos eles muito educados.
Quero, em particular, tranquilizar algumas pessoas que merecem minha máxima admiração e com cuja amizade me honro extremamente, que temem que eu possa ter sido injusto com meu ilustre compatriota.
Alguns simpatizantes da Teologia da Libertação me disseram que eles sabiam que o papa Francisco era uma pessoa humilde, solidária com os pobres, frequentador de favelas e, em geral, uma figura popular que nada tem a ver com o clericalismo aristocrático.
Desejo fazer apenas algumas observações, deixando a promessa de que, na medida do possível, juntarei material, tanto de Internet como impresso, onde minhas afirmações possam ser confrontadas. Nem sempre uma coisa que é divulgada pela grande mídia é verdadeira. A mídia brasileira tem dito que não existem provas das acusações. Entretanto, está se fazendo um jogo com a palavra “provas”. É curioso que uma elite tão americanizada como a do Brasil não acate o exemplo da justiça americana, onde se supõe que algo é verdadeira se está além de qualquer dúvida razoável. Se quisermos provas dos crimes de qualquer ditadura que tenham passado pela medicina legal e se encontrem apoiadas em fotografias, filmagens e gravações, deveremos reconhecer que poucos crimes poderiam ser imputados a alguém, incluindo muitos dos crimes nazistas.
Quero deixar claro que não sou membro de nenhum partido político, seita religiosa, sindicato, corporação ou coisa que o valha, sendo exclusivamente um ativista de direitos humanos e não tendo, portanto, qualquer interesse pessoal a favor ou contra qualquer político, magistrado, religioso ou pessoa pública.
1)   Não falei em meu artigo da caridade do Papa com os pobres, porque isso foi dito pela mídia até a exaustão, inclusive nos veículos mais “neutros”, mas, já que o tema foi levantado até por meus amigos, reconheço sim que, desde que ouvi falar dele (em 2001) soube que o Papa Francisco é uma pessoa simples, que não tem carro, prepara sua própria comida, se veste pobremente, ajuda os favelados, já prestou homenagem a aidéticos, prega a compaixão com doentes e miseráveis e acusa de hipócritas aos sacerdotes que desprezam os marginados pela sociedade. Nunca neguei isso. Por sinal, Bergoglio é conhecido fora da Argentina só desde ontem, e ninguém teria interesse em difamar um desconhecido.
2)   Minha referência ao Papa se refere a um assunto muito específico, que não envolve a relação do Papa com os pobres, com os ricos, ou com os que ganham 10 salários mínimos. O fato é a acusação de cumplicidade no sequestro de dois padres jesuítas da teologia da libertação, Orlando Yorio e Francisco Jalic, em 1976, quando ele era provincial (chefe) dos Jesuítas na Argentina. O Primeiro destes o acusou publicamente.
3)   Em alguns artigos que apresento em meu texto, aparecem relatos detalhados que fazem possível acreditar (ou, pelo menos, acreditar parcialmente) que as testemunhas e declarantes no caso destas desaparições não teriam motivos para mentir. Aliás, as testemunhas seriam suficientes para que uma justiça normal as considerasse como prova.
4)   O novo Papa é acusado também de recursar-se a revelar onde estava uma criança sequestrada, cuja mãe foi morta por tortura pelos militares argentinos, e que foi entregue a uma família rica para ser criada. A mulher assassinada é uma das cinco pessoas desaparecidas da família De La Cuadra, originária da classe média alta da província de Corrientes, limítrofe com o Brasil, que tem um histórico de defesa dos Direitos humanos, especialmente graças a sua matriarca Licha de La Cuadra (1915-2008) que foi condecorada pelo governo democrático.
5)   O Papa foi citado três vezes, nos primeiros anos deste século, para declarar sobre essas desaparições, e se protegeu nas duas primeiras com a imunidade eclesial, equivalente a foro privilegiado dos parlamentares, porque Argentina, para quem não sabe, é o último país onde a Igreja é considerada parte do estado. Na última oitiva, ele compareceu, mas se limitou a dizer que a repressão militar foi violenta, mas foi uma resposta à violência da esquerda. (Não lembro as palavra exatas, mas o conceito era este.)
6)     Que a Justiça Argentina não tenha declarado culpável o Papa, não deveria surpreender. Na Argentina têm sido julgados apenas 200 membros da ditadura. É óbvio, porém, que os que cometeram crimes contra a Humanidade são vários milhares. Um estado de terror não se mantém durante 8 anos com apenas 200 carrascos.
7)     Em meu artigo, não acusei ao Papa de ter sido silencioso e não ter-se oposto à ditadura. Num prestigioso noticiário da TV paga, um analista especializado disse que era verdade que o papa não se tinha oposto à ditadura e, com um gesto que eu penso que foi sinal de embaraço, disse que isso era um fato que não se podia negar. Entretanto, essa passividade do papa com a ditadura não é, na minha opinião, o pior. Não podemos pedir que todo o mundo seja corajoso, porque Deus não dá a todos as mesmas virtudes. O “reconhecimento” de que o papa não esteve num confronto ferrenho com a ditadura me parece uma maneira de simular certa imparcialidade e EVITAR COMENTAR AS COLABORAÇÕES COM A DITADURA.
Se não me engano, tanto em português como em espanhol são coisas diferentes: (1) Não ter o poder ou a vontade para se rebelar contra a injustiça; (2) Ser colaborador voluntário e ativo dos que cometem injustiças.
Quero deixar claro também que estas denúncias estão fora de todo maniqueísmo. Não estou escandalizado porque um alto prelado apoie o fascismo. Sim acho muito esquisito quando conheço um que não o faz.
Só para informação: durante a ditadura militar a Argentina tinha algo como 150 bispos (talvez cinco a mais ou cinco a menos, não lembro direto). Bom, desses, apenas três se manifestaram contra a tortura e o genocídio: Monsenhor Angelelli, Monsenhor De Nevares e Monsenhor Kovac.

Fica ao critério do leitor escolher qual é a melhor combinação:
1)   Ajudar os pobres e consentir com massacres e torturas de inimigos políticos, ou
2)   Não ajudar aos pobres, mas se manter fora da cumplicidade com os que fazem massacres e torturas.

Só a título de curiosidade, desejo lembrar que o Terceiro Reich Alemão favoreceu consideravelmente os pobres, fundou creches, instituiu salário maternidade, criou as férias remuneradas, deu prêmios importantes (como casas e barras de ouro) para as famílias com muitos filhos, substituiu algumas favelas por bairros populares, e outros atos de cristã caridade que, na época, nem os EUA tinham.

Um comentário:

  1. Bom, entre as duas combinações, escolho a segunda. "Não ajudar os pobres, mas se manter fora da cumplicidade com os que fazem massacres e torturas".
    Nem sempre a ajuda aos pobres ampara-se na consciência dos direitos humanos, quando se ampara contribui para libertá-los da pobreza econômica e de espírito. Geralmente está apenas apaziguando um sentimento de culpa escondido no íntimo do ser, de modo que o ajudador não envidará nenhum esforço para libertá-los da pobreza, pois quanto mais pobres houver, melhor se sentirá. Portanto, em muitos casos, "ajudar os pobres" é simplesmente um analgésico para os ajudadores.

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