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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Caso Battisti: Coluna de Jornal Paulista Recebe Honra de Site Nazista



 Caso Battisti: Coluna de Jornal Paulista Recebe Honra de Site Nazista

Site neonazista ultraradical cita, textualmente, com especial destaque, uma coluna de um democrático jornal paulistano que fala sobre Battisti
Carlos Alberto Lungarzo                                
Na sua coluna de 9/1/2013 (Vide), uma jornalista da Folha de S. Paulo escreve um comentário sobre Cesare Battisti do qual quero comentar o primeiro parágrafo e também a última linha, onde a colunista diz que Battisti viveu como refugiado em Cananeia (SP). Agradeço, também, que a colunista cite meu livro “Os Cenários Ocultos do Caso Battisti”, repetindo uma frase de Eduardo Suplicy.

O Palácio de Battisti

O primeiro parágrafo disse que Suplicy foi “fiador moral” do aluguel de Battisti, e informa que
“O italiano alugou um apartamento de 90 m² nos Jardins”
Realmente, tendo em conta que o jornal desta colunista investiu cinco anos propugnando o linchamento de Battisti, é um pouco esquisito que mencione como dado importante a metragem do apartamento, um dado reservado geralmente a comentários sobre celebridades de shows, e só quando o tamanho é espetacular.
Estes jornalistas deveriam ter mais imaginação. Afinal, entre uma inverdade torpe e uma mais imaginativa, esta tem mais impacto.
Com efeito, a colunista poderia verificar facilmente que o apartamento alugado por Battisti tem 51 m2.
Mas, então, será que nossos grandes colunistas são chegados à fofoca banal? Nada mais longe de meu ânimo que sugerir essa superficialidade.
Dizer que Battisti alugou um apartamento nos Jardins de “gigantescos” 90 metros não é uma fofoca banal. É um detonador para estimular o espírito da ralé linchadora, que usa o setor de Comentários (supostamente “moderados” por um jornalista) para formular impropérios contra Battisti, Suplicy, Lula, Tarso e todos os seus desafetos. E isso não se fez esperar. Sob nomes cuja autenticidade a Folha não revela, pois faz parte da ética do jornal, vários linchadores verbais se esbaldaram em insultos, provocações e xingamentos.
Explorando o ressentimento deste tipo de leitor, a colunista provoca comentários sobre a “riqueza” do escritor, que estaria morando num palácio, e alimenta os comentários de ódio sobre como ele obtém o dinheiro e outras baixarias.
Nenhum colunista, nem esta, jamais mencionou que Cesare Battisti é escritor há mais de 30 anos e vive de sua atividade profissional. Publicou mais de 20 livros na Itália e na França e 3 no Brasil: Minha fuga sem fim; Ser Bambu e Ao Pé do Muro.
(O curioso é que o Jornal diz vetar os comentários denigrativos.)

Refugiado ou Imigrante?

Na última linha desse trecho, a colunista diz que Battisti foi refugiado em Cananéia.
Battisti recebeu refúgio de Tarso Genro em janeiro de 2009, mas esse refúgio foi rejeitado pelo STF, em 9/9/2009, que oficializou sua rejeição no acórdão de abril de 2010.
É verdade que, tanto em Brasil como em qualquer outro país civilizado (nem precisa ser democrático, apenas civilizado), nenhum tribunal pode anular um refúgio dado pelo executivo. A anulação foi ilegal de todo ponto de vista. Mas, sendo que o STF possui o poder absoluto no Brasil (mesmo que seja como procurador das elites), a realidade é que, oficialmente, em ABRIL DE 2010, Battisti já não era refugiado.
Como, então, ele poderia ser refugiado em 2011, quando estava em Cananeia?
Uma resposta seria que nossos especialistas em generalidades não tiveram tempo para estudar o conceito de “refugiado”, e não sabem diferenciar entre imigrante e refugiado, ou, então, que estavam distraídos quando o STF anulou o refúgio.
Mas, há uma conjetura mais verossímil.
Nos países onde não há respeito pelos direitos humanos, que são 70% da humanidade, e especialmente naqueles em que esses direitos são quase zero, como muitos da América Latina, a palavra REFUGIADO porta uma carga emocional pejorativa, produto do preconceito.
O termo lembra que o qualificado com esse termo é um foragido, um perseguido, um violador da lei. Então, a ralé linchadora o repudia, porque todo linchador é servil e pensa: “se ele é perseguido, por algo será”.
Battisti é um IMIGRANTE com residência permanente, e possui os mesmos direitos que têm os atuais 600 mil imigrantes que há no Brasil, e os mesmos direitos que tiveram os milhões de estrangeiros que vieram em décadas passadas, incluindo centenas de milhares de italianos.
Avisei do “erro” sobre o termo REFUGIADO com um e-mail para a colunista, mas respondeu uma pessoa chamada Lígia, que disse que o erro seria corrigido. Não sei o que aconteceu depois.

Curriculum Condizente

Ninguém pode acusar a colunista de volubilidade ou falta de coerência.
Já em abril de 2012, ela mesma publicou uma matéria muito longa e visível para um assunto com tão pouca relevância: nela dizia que Battisti tinha cancelado o lançamento de seu livro Ao Pé do Muro, e que ele mesmo havia comunicado o cancelamento por telefone, segundo informação da Livraria da Vila. Importante: essa livraria nunca tinha sido cogitada para o lançamento.
O lançamento foi planejado desde muito antes e feito na USP uma semana após a data “cancelada” e, apesar da contrainformação, assistiram umas 400 pessoas. A Livraria da Vila, obviamente, ratificou a “informação”. O discreto editor do livro, Evandro Martins, trocou com a colunista e sua equipe vários e-mails extremamente indignados, dos quais possuo cópia.
Vejam meu comentário na época em

Os Semelhantes se Procuram

Alguns dizem que devemos ignorar provocações verbais, pois leva-las a sério apenas dá relevância à miséria moral e intelectual dos linchadores. Concordo com isso e, em situações normais, teria ignorando essa coluna.
Mas fiz este artigo para mostrar aos leitores algo muito grave do qual talvez não estejam cientes.
Como era de se esperar, numerosos sites linchadores reproduziram esta coluna. E muitos deles até criticam a colunista por não usar, como faziam antes, o termo “terrorista” referido a Battisti.
Mas, há um site linchador muito especial, que dá grande destaque a essa coluna, reproduzindo-a sem qualquer comentário: isso significa que seus editores consideram suficiente reproduzir essa notícia para detonar o ódio de leitores de sites fascistas.
O site é o seguinte:
Vejam a reprodução do comentário e observem este fato: a reprodução é exata, sem uma vírgula nem a mais nem a menos.
O site, chamado D DIREITA, não coloca o nome da colunista; talvez não queira constranger a autora...
É arrepiante observar a liberdade com que o site D DIREITA agride judeus, estrangeiros, negros, gays, e glorifica os crimes nazistas. Mas, esta experiência, sem dúvida repugnante, deve ser aproveitada para entender melhor por que um site desses reproduz essa coluna.

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