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sábado, 23 de junho de 2012

O RESCALDO DO GOLPE MADE IN PARAGUAY

Por Celso Lungaretti
O pretexto do golpe parlamentar no Paraguai foi mais patético ainda que o utilizado em Honduras. Só faz sentido na ótica de reacionários empedernidos: os miseráveis tentarem ocupar terras para as cultivarem e não morrerem de fome é subversão das piores e justifica até a derrubada de um presidente que não reza pela cartilha do sagrado direito à propriedade.

A execução, por um lado, revelou um profissionalismo que faz supor uma mão oculta manipulando títeres; o desinteresse com que os EUA receberam este gritante atentado à democracia dá uma boa pista de quem possa ser o roteirista do espetáculo.

Pelo outro, teve o inconveniente de não enganar ninguém no resto do mundo. Até as pedras perceberam que Fernando Lugo não teve o mais remoto direito de defesa. Impeachment em pouco mais de 30 horas é algo que só passa pela cabeça de quem estiver se baseando numa cópia fajuta do Direito Constitucional, adquirida de contrabandistas. Foi um típico  impeachment made in Paraguay...

A reação dos países dominantes da América do Sul, por enquanto, está sendo tímida demais. Dilma Rousseff e Cristina Kirchner têm de botar na cabeça que ervas daninhas se alastram quando não as extirpamos em tempo: se esta virada de mesa resultar, outras virão. 

Chávez, Morales e Mujica são alvos óbvios, troféus que os  roteiristas  há muito querem empalhar e exibir na parede. E, no final da fila, virão, obviamente... Dilma e Cristina.

Então, até por autopreservação, cabe-lhes produzirem desta vez uma reação bem mais efetiva do que no caso hondurenho.

Um embargo econômico do tipo que os EUA impõem há meio século a Cuba faria os golpistas logo pedirem água.

O restante do arsenal estadunidense de desestabilização de governantes indesejáveis é x-rated, pornográfico demais. O embargo, contudo... já que a ONU e a OEA admitem condescender com ele indefinidamente, por que não? Pau que bate em Chico pode bater também em Francisco...

Para a esquerda, fica, pela enésima vez, a comprovação de que, no frigir dos ovos, as Forças Armadas não garantem a ordem constitucional, mas ajudam alegremente a promover a desordem que convém aos poderosos. As quarteladas brasileira e chilena não haviam sido suficientes para dissipar tais ilusões?!

E também a de que conquistar governos por via eleitoral não significa tomar o poder. Então, apostar em lideranças tíbias porque empolgam o povão tem o inconveniente de que, na hora H, nunca se pode contar com elas. Zelaya e Lugo não foram propriamente depostos, mas sim enxotados com petelecos.

Outros se descaracterizam tanto, rendendo-se tão incondicionalmente ao grande capital, que nem precisam ser enxotados; tornam-se caricaturas de si próprios.

A esquerda que coloca todas as suas fichas na via eleitoral deveria, pelo menos, tentar levar à presidência da república seus melhores quadros, os mais consistentes em termos ideológicos, não essas figurinhas tão populares para vencer eleições quanto ineptas para governarem como verdadeiros homens de esquerda.

No momento crítico, um Salvador Allende foi capaz de abrir mão da vida para legar aos pósteros sua última lição de grande revolucionário. Simplesmente não dá para imaginarmos um Zelaya ou um Lugo fazendo o mesmo.

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