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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Teoria da Conspiração




Quando o site Wikileakes lança na web informações tidas como
sigilosas, cria-se um certo alvoroço, como se segredos
bombásticos estivessem próximos de serem revelados

Mas até o presente momento, o que de tão importante foi
revelado, a não ser fofoquinhas entre diplomatas, e outras
coisas que, informalmente, já estávamos cansados da saber ?

E mais, sabedores que somos, que a grande imprensa mundial,
aliada dos donos do poder, sempre lança uma cortina de fumaça
quando vem à público, fatos ou pessoas que possam, de fato,
prejudicar o interesse dos poderosos, por que esta mesma imprensa
cede tanto espaço a um site que, supostamente, é um perigo para
o sistema ?

Não estou aqui afirmando que o Wikileakes é uma farsa montada
pelos poderosos como uma forma de, futuramente, terem um
pretexto para apertarem o cerco à internet, alegando que
determinadas informações divulgadas por certos sites, poderiam
colocar em risco a segurança nacional

Mas é no mínimo estranha a popularidade conquistada por Julian
Assange, fundador do site( popularidade dada em parte, pela grande mídia),
quando muitos outros que se levantam contra este mesmo sistema são
sumariamente condenados a obscuridade ... Vale pensar ...

Marcelo Roque

OS TOTALITÁRIOS CONTRA-ATACAM

Teremos entrado num túnel do tempo? A
retórica é a mesmíssima dos tempos de Médici
Primeiramente, os presidentes dos Clubes das três Armas lançaram um pomposo Manifesto Interclubes, exigindo que a presidente Dilma Rousseff, comandante em chefe das Forças Armadas (à qual o trio deve obediência), desautorizasse duas de suas ministras. Vide aqui.

Depois, convencidos pelos ministros militares a respeitarem a hierarquia, os insubmissos recuaram: colocaram uma retratação no ar e, pouco depois, deletaram tudo, dando por encerrado o assunto. Vide aqui.

Agora, no site do torturador-símbolo do Brasil Carlos Alberto Brilhante Ustra (o único com  registro em carteira, já que foi declarado torturador pela 23ª Vara Cível de São Paulo...), os totalitários contra-atacam com um  alerta à Nação: "Eles que venham. Por aqui não passarão!". Vide aqui.

É a História se repetindo como farsa: soa muito mal, na boca dos herdeiros políticos do  generalíssimo  Francisco Franco, a célebre expressão com que Dolores Ibarrurí, a Pasionária, exortava o povo espanhol a resistir aos fascistas na década de 1930.

"Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria", começa o papelucho de 2012, para logo enveredar por delírios megalomaníacos:
"São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente".
Traduzindo: eles são (*) os representantes daquele Exército que conspiradores contumazes, acumpliciados com uma potência estrangeira, conseguiram arrastar em 1964 para uma aventura golpista, cuja consequência foi a imposição de uma ditadura bestial e de um bestial terrorismo de estado aos brasileiros.

UNIFORMES HERÓICOS x FARDAS EMPORCALHADAS

Brilhante Ustra parece aguardar
os aplausos por sua nova obra...
A afirmação de que o Exército do presente se fundamenta no golpismo e no totalitarismo deveria ser repudiada firmemente pelos militares atuais --os que vieram depois das trevas e não têm esqueletos no armário. Eles têm é de orgulhar-se de vestirem o uniforme de Carlos Figueiredo e Roberto dos Santos, os heróis da Estação Antártica Comandante Ferraz; não o de Brilhante Ustra, aquele que “emporcalhou com o sangue de suas vítimas a farda que devera honrar”, segundo a frase imortal do ex-ministro da Justiça José Carlos Dias.

Na prática, trata-se de um manifesto subscrito por 13 generais, 6 tenentes coroneís, 73 coronéis, 2 capitães de mar e guerra, 1 capitão de fragata, 1 major e 1 tenente.

É muita pretensão uma centena de oficiais em pijama se declararem depositários dos valores em que se alicerça o Exército. E bizarro a lista incluir três representantes... da Marinha!

Mas, como a lógica anda meio distante dos antros das viúvas da ditadura, eles também se proclamam porta-vozes do Clube Militar:
"Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo... O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante".
Como a relação de signatários não inclui o presidente do Clube Militar, Renato Cesar Tibau da Costa, devemos supor que ele haja sido destituído? Ou os 97 estão falando em nome do Clube sem nenhuma delegação formal para o fazer? E desde quando três marujos são porta-vozes do clube do Exército?

O principal, claro, é a quebra da hierarquia, à qual, mesmo na reserva, eles continuam submetidos, segundo seu regimento disciplinar. Cometem, portanto, a mais crassa indisciplina ao confrontarem seus superiores supremos: o ministro da Defesa e a presidente da República. São estes os "fundamentos em que se alicerça o Exército do presente"?!

O objetivo último das escaramuças,
todos sabemos qual é...
Além de contestarem os dirigentes e as políticas do Executivo, eles também insurgem-se contra as decisões do Congresso Nacional, ao qualificarem a instituição da Comissão da Verdade de "ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo".

Se 1985 significou alguma coisa, foi que não existe mais tutela fardada sobre os Poderes da República. É totalmente inaceitável a pretensão desses nostálgicos do arbítrio, de quererem impedir com ultimatos velados o resgate da verdade histórica --objetivo real da Comissão, destituída de autoridade para remeter os assassinos, torturadores, estupradores e ocultadores de cadáveres aos tribunais, como vem ocorrendo em países com tolerância menor ao despotismo e à barbárie.

Cabe agora ao Ministério da Defesa tomar as atitudes cabíveis para fazer a hierarquia das Forças Armadas voltar a ser respeitada.

Trata-se, evidentemente, de uma provocação. Mas, reagindo estritamente à transgressão disciplinar, Celso Amorim ganhará a parada.

Oficiais militares são extremamente avessos às quebras de hierarquia, pois temem vir a ser eles próprios desacatados pelos subalternos. Não apoiarão a bravata inconsequente desses gatos pingados, ainda mais por eles estarem agindo em causa própria e não em defesa da corporação: inquietam-se, sobretudo, com o que possa vir à tona a seu próprio respeito.

No fundo, estão em pânico face ao enorme risco de passarem à História com imagem tão hedionda quanto a de Brilhante Ustra, o signatário de nº 15 do manifesto tosco e, não por acaso, o primeiro dentre os 73 coronéis. Só a patente inferior impediu que ele encabeçasse a lista de apoio a um documento que inspirou, provavelmente redigiu e trombeteou no seu site.

* deveriam ter escrito "somos", mas desconhecem a gramática tanto quanto ignoram a Constituição Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos do Homem... 

OUTROS TEXTOS SOBRE O MESMO EPISÓDIO (clique p/ abrir):
FIQUEI MUITO FELIZ AO VER OS FARDADOS SUBMETIDOS À AUTORIDADE PRESIDENCIAL
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VIÚVAS DA DITADURA PLANTAM NOTÍCIA CONTRA MINISTRAS DE DILMA


OS CINCO CUBANOS NÃO SÃO HERÓIS MAS, SEM DÚVIDA, INJUSTIÇADOS

Por Celso Lungaretti
Linchamentos judiciais devem ser sempre combatidos,
mas heroicizar agentes secretos é um exagero nocivo
O companheiro Jacob Blinder, principal divulgador das políticas bolivarianas em nosso país, pede-me que "aborde o tema dos Cinco Heróis cubanos, presos injustamente nos Estados Unidos", pois, segundo ele, eu possuiria "grande penetração junto à opinião pública".

A última afirmação é exagerada, claro. "Grande penetração", por enquanto, só tem quem dispõe das tribunas da grande imprensa, que estão cada vez mais fechadas para mim --tanto como profissional quanto como personagem histórico até hoje envolvido com os assuntos impactantes do noticiário.

A existência do território livre da internet impede o  macartismo que não ousa dizer seu nome  de nos reduzir à invisibilidade --é o caso também do próprio Jacob, do Laerte Braga, do Rui Martins, do Carlos Lungarzo e de tantos outros articulistas de esquerda com trabalhos marcantes. Mas, confinados no espaço virtual, nossa defesa das boas causas repercute bem menos --e é isto que almeja o sistema.

Quanto aos agentes da inteligência cubana presos nos Estados Unidos desde 1998, foram mesmo injustiçados, daí ser desejável que a presidente Dilma Rousseff interceda por eles junto a Barack Obama.

No recente Fórum Social Mundial, o senador Eduardo Suplicy se comprometeu a tratar do assunto com Dilma e a fazer um pronunciamento no Senado; com a penetração que eu tiver, grande ou pequena, coloco-me inteiramente ao lado do Suplicy quanto a que eles devem ser libertados o quanto antes, para retornarem a seu país sem restrições de nenhuma espécie.

Os EUA, que tanto faturam com o filão dos filmecos de tribunais, passam a vida estuprando a Justiça, como fizeram no Caso Sacco e Vanzetti: mesmo sabendo que os anarquistas italianos eram inocentes de um assalto com duas vítimas letais cometido por criminosos comuns, levaram até o fim a farsa judicial e até deram sumiço nas provas contra os verdadeiros culpados. [O governador do Massachussetts, 50 anos depois de sua execução, proclamou oficialmente a inocência de Sacco e Vanzetti.]

ACUSAÇÕES INVENTADAS PARA AGRAVAR O CASO

O que realmente havia contra os cinco era estarem espionando os exilados cubanos e tentando infiltrar-se nos seus círculos, para prevenir os atos de terrorismo que os gusanos  estabelecidos em Miami desfechavam contra Cuba. A resposta costumeira a tal delito é a mera expulsão.

Mas as autoridades estadunidenses, com sua habitual tendenciosidade, agravaram o caso inventando outras acusações, que foram ruindo como castelos de cartas ao longo do tempo.

O primeiro a ser solto, René Gonzales, encontra-se há quatro meses em regime de liberdade supervisionada; depois de haver passado 13 anos no cárcere, ainda ficará impedido de voltar ao seu país até outubro de 2014.

Espero que, desta vez, os EUA não façam sua  mea culpa  só cinco décadas depois que eles tiverem morrido. A palhaçada já foi longe demais; tem de acabar.

Só não concordo com o rótulo de  heróis  aplicado a policiais que vão dissimuladamente a outros países para atuarem como agentes infiltrados. Mesmo inexistindo sangue em suas mãos, fazem lembrar demais a Operação Condor, o assassinato de Orlando Letelier e outras abominações dos  anos de chumbo.

Para mim, seja qual for o regime que a utilize e o fim objetivado, a espionagem é uma atividade vil.

E, ao contrário dos utilitaristas (para os quais os fins justificam os meios), os revolucionários acreditamos, isto sim, na interação dialética entre fins e meios. Há expedientes que não podemos utilizar, mesmo que o inimigo os empregue contra nós, sob pena de aviltarmos nossos ideais.

Para não deixar a impressão de que considero tralha cinematográfica a totalidade da produção de Hollywood, lembro um filme no qual o dilema foi bem  colocado: Perseguidor implacável (1971), o primeiro da série  Harry, o sujo.

O inspetor interpretado por Clint Eastwood baleia um sequestrador e, para obrigá-lo a confessar o local no qual mantém encarcerada uma adolescente ameaçada de morrer por asfixia, pisa em seu ferimento.

O grande diretor Don Siegel vai distanciando a câmara daquela cena hedionda, até que ambos se tornem pontinhos na tela; foi sua maneira de expressar o repúdio das pessoas civilizadas à tortura. E, adiante, ficamos sabendo que de nada adiantara, pois a jovem já estava morta.

Há sempre uma justificativa ou uma atenuante qualquer para se ultrapassar a fronteira entre a civilização e a barbárie, o certo e o errado, o digno e o indigno.  

Então, a regra de ouro foi expressa pelo velho juiz protagonizado por Spencer Tracy, noutro filme que se constituiu em louvável exceção: Tribunal em Nuremberg (d. Stanley Kramer, 1961). Indagado sobre quando começou o desvirtuamento da Justiça alemã  sob o nazismo, ele responde: "Foi no dia em que o primeiro juiz condenou o primeiro réu que ele sabia ser inocente".

É imperativo voltarmos a ser os que não abrem o precedente dúbio, ao qual segue-se a banalização da dubiedade. Por maior que seja o preço a pagar, cabe a nós personificarmos a alternativa à geléia geral na qual conveniências amorais e imorais são colocadas à frente dos princípios. Ou não haverá para o cidadão comum nenhum símbolo visível de que outro mundo seja possível.

Concluindo: os agentes secretos cubanos foram injustiçados, então têm de ser libertados e devemos nos mobilizar em favor de sua libertação.

Mas, não representam exemplos que devamos louvar e nos quais possamos nos espelhar. Muito pelo contrário.

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COMO ENFRENTAR A DITADURA DO PIG?

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DILMA PAGA PRA VER E FAZ CLUBES MILITARES ENGOLIREM BLEFE

Pé Esquerdo




Se você desce da cama com o pé esquerdo
quando os demais com o direito
Se prefere doar
quando os demais vender
Se toma suco de açai
quando os demais Coca Cola
Se gosta das montanhas
quando os demais da praia
Se se veste de Sol
quando os demais de cinza
Se fala com as estrelas
quando os demais com os botões
Se lê Garcia Lorca
quando os demais manuais
Ou se morre de amor
quando os demais apenas vegetam,
não se aflija por sentir-se
diferente dos outros
eles é que são todos iguais

Marcelo Roque




Em Defesa do Juiz Baltasar Garzón


A professora MARGARIDA GENEVOIS, ex presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, figura de extraordinário relevo na defesa dos direitos humanos no continente, autora de numerosas ações de proteção a perseguidos, tanto durante a ditadura, como nos anos posteriores, várias vezes reconhecida por sua extrema defesa de dignidade humana, tem enviado a nota que publicamos no final deste post, pedindo colaboração para a luta do juiz espanhol BALTASAR GARZÓN.
Pedimos aos nossos leitores que leiam as informações existentes na Internet sobre BALTASAR GARZÓN, e caso estejam de acordo, assinem esta petição. (Vide)
Garzón está sendo condenado na Espanha por seu esforço para Julgar os criminosos ainda vivos ou relacionados com os crimes do franquismo (1936-1975). O Franquismo, pese a ser menos conhecido e espetacular que o nazismo, talvez seja o mais brutal e sádico de todos os movimentos repressivos da Idade Moderna.
Apesar da indignação mundial após a derrota do fascismo em 1945, os aliados se recusaram a invadir a Espanha, como fizeram com a Itália e a Alemanha, pois o fascismo espanhol serviria para perseguir o marxismo em toda Europa.
Garzón está sendo perseguido por pretender que um dos três maiores genocídios do século 20 seja punido, ou, pelo menos, qualificado como crime contra a humanidade. As instituições espanholas, dominadas pelos Opus Dei, com um fascismo ainda vivo, dirigidas por sádicos supersticiosos e inquisitoriais, QUEREM PUNIR NÃO OS CULPADOS, MAS A QUEM, COMO GARZÓN, DEFENDE OS QUE FORAM VÍTIMAS.
Garzón foi também:
·        O primeiro magistrado europeu que tratou os crimes de lesa humanidade como crimes de jurisdição planetária, não hesitando em processar qualquer criminoso contra os direitos humanos, de qualquer nacionalidade.
·        O único que tentou e quase conseguiu capturar o insano multigenocida Augusto Pinochet, que só escapou graças a infame cumplicidade da direita britânica.
·        Foi um dos poucos que teve sucesso numa tarefa que muitos juízes europeus tentaram sem sucesso: capturar criminosos de lesa humanidade da ditadura argentina. Garzón conseguiu condenar ao torturador e genocida Adolfo Scilingo (vide), oficial da Marinha Argentina, culpável de 30 assassinatos, 93 lições graves, 255 atos de terrorismo and 286 aplicações de tortura.
O esforço de Garzón contra o franquismo deve ser especialmente apreciado no Brasil, pois vários dois mais infames elementos de nossa política são membros do movimento criado pelo ditador Franco. O Franquismo, que se originou inicialmente no Falangismo (literalmente, a versão espanhol do fascismo) adoptou, nos anos 40, uma nova ideologia, a do OPUS DEI, uma das mais aberrantes, desumanas e patológicas doutrinas místico-políticas, que assolou a Humanidade, e que ainda hoje gera movimentos de terrorismo de estado e extermínio em muitos países, incluído o Brasil, onde há governadores e altos dignitários que pertencem a seus infames fileiras.
Agradecemos seu apoio
Carlos Alberto Lungarzo


A SEGUIR, A CARTA DE MARGARIDA GENEVOIS


Amigo(a),

Ai vai o abaixo-assinado contra a condenação do juiz Baltazar Garzón, grande defensor dos direitos humanos e da justiça. Além de assinar, peço-lhe o maior empenho na divulgação desse documento.
É muito importante que se consiga o maior número possível de assinaturas, para mostrar ao Supremo Tribunal da Espanha o nosso desejo de justiça!

Margarida Genevois

Para assinar, clique no site:
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/9410

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Rio





Assim, como o frágil fio d'água
que flui por entre as rochas,
vencendo pedras
e trilhas improváveis
e segue seu curso,
esverdeando vales e montes,
enchendo as florestas de cores,
movimentos e pássaros ...
deixe fluir a poesia ...

Marcelo Roque

DILMA PAGA PRA VER E FAZ CLUBES MILITARES ENGOLIREM BLEFE

Por Celso Lungaretti
O episódio da notícia plantada pelas  viúvas da ditadura  n'O Estado de S. Paulo para pressionar a presidente Dilma Rousseff (ver aqui) terminou com o  incrível exército de Brancaleone  batendo em retirada sob vara, conforme o próprio jornalão relata:
"Os presidentes dos Clubes Militares foram obrigados ontem a publicar uma nota desautorizando o texto do 'manifesto interclubes' [ver íntegra aqui] que criticava a presidente Dilma Rousseff por não censurar duas de suas ministras que defenderam a revogação da Lei da Anistia.

Dilma não gostou do teor da nota por não aceitar, segundo assessores do Planalto, qualquer tipo de desaprovação às atitudes da comandante suprema das Forças Armadas.

A presidente convocou o ministro Celso Amorim (Defesa) para pedir explicações. Ele se reuniu com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e Aeronáutica a 'desautorização' da publicação do documento, divulgado no site do Clube Militar no dia 16, como revelou o Estado na terça-feira.

No dia seguinte, houve a reunião de Amorim com os comandantes das três Forças e uma conversa com a presidente. Paralelamente a essa movimentação, os comandantes telefonaram aos presidentes dos três clubes a fim de que a nota crítica a Dilma fosse suprimida.
Ontem, o 'comunicado interclubes' foi retirado do site no início da tarde. Por volta das 16 horas, foi divulgado um outro texto, em que os presidentes desautorizavam o comunicado anterior. Esse desmentido, porém, não chegou a ficar meia hora no ar. O Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o desmentido..."
Uma avaliação interessante do episódio é a da colunista Eliane Cantanhêde, na Folha de S. Paulo:
"A nomeação de Menicucci [para a Secretaria de Políticas para as Mulheres] sinaliza claramente que a primeira presidente mulher da história brasileira, torturada pela ditadura militar, tem um encontro marcado, em algum momento à frente, entre restrições políticas e convicções, entre palavras e atos. É quando fará sua foto oficial para a história.

Não é fácil. O caminho é tortuoso, cheio de obstáculos e armadilhas. Uma delas foi a nota impertinente dos clubes militares, na qual oficiais de pijama se deram ao direito de criticar a presidente e comandante em chefe das Forças Armadas e exigir que ela desautorizasse duas ministras -Menicucci e Maria do Rosário (Direitos Humanos)- por defenderem a verdade sobre ditaduras.

Tal como a presença de Menicucci 'diz' o que Dilma não pode dizer, militares da reserva muitas vezes verbalizam o que os da ativa pensam, mas não podem falar. Tal como Menicucci mede as palavras para não expor a amiga presidente, os da reserva tiveram de recuar por conveniência dos da ativa. E a luta continua".
Eu só faria uma ressalva:  alguns  militares da reserva temerosos do que a Comissão da Verdade possa vir a apurar verbalizam o que alguns colegas na ativa com esqueletos no armário pensam, mas não podem falar. A grande maioria do oficialato quer mais é saber de sua carreira, pragmaticamente.

Então, a Dilma agiu muito bem ao pagar para ver, expondo o blefe de uma minoria extremista e fazendo seus autores o engolirem a seco. 

OUTROS TEXTOS RECENTE (clique p/ abrir):
GRAVE ALERTA: CONFLITO SÍRIO PODE CONFLAGRAR TODO O ORIENTE MÉDIO

ASSIM GRASNARAM OS CORVOS

VIÚVAS DA DITADURA PLANTAM NOTÍCIA CONTRA MINISTRAS DA DILMA
CAOS NA LÍBIA

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Globeleza







O que leva uma Escola de Samba a compôr uma samba enredo,
confeccionar milhares de fantasias, construir carros alegóricos
e então colocar na avenida todas as suas alas homenageando
o ... Iougurte ?!

O patrocínio, é claro

E assim, todos os anos, e cada vez mais, vemos uma temática
empobrecida

Isto porque o carnaval tornou-se um grande negócio, e como tal,
deve se enquadrar dentro dos interesses de seus patrocinadores

E mais, imagine o quão desconfortável ficariam os apresentadores
da rede Globo, tendo que comentar sambas enredos e alegorias
que retratassem o verdadeiro dia-a-dia das pessoas nas comunidades

Ou se alguma Escola resolvesse tematizar o secular problema
latifundiário do país, o que forçou a migração de milhões de pessoas
para os grandes centros, causando uma verdadeira explosão
demográfica nas favelas

Estas mesmas favelas, berço, da maioria das Escolas de Samba

Então, a transformação de uma festa popular em "bussines", além
de proporcionar à poucos, excelente retorno financeiro,deu, também,
às elites políticas e econômicas, a certeza que temas "sensíveis"
não seriam colocados na avenida
As desigualdades sociais e demais mazelas de nossa sociedade,
ficariam bem distantes das câmeras de tv

Eis o verdadeiro carnaval "Globeleza"


Marcelo Roque

CLIMAX - MARCELO ROQUE, Gloria Kreinz divulga






Clímax

Não se ama o outro pela beleza dos olhos,
mas pela profundidade do olhar
Nem pelas palavras ou versos trocados,
mas pelo silêncio compartilhado
E menos ainda se ama alguém
pelo prazer do sexo,
mas pelo clímax do instante

Marcelo Roque

VIÚVAS DA DITADURA PLANTAM NOTÍCIA CONTRA MINISTRAS DA DILMA

Por Celso Lungaretti
Deu n'O Estado de S. Paulo que os clubes militares das três Armas emitiram nota conjunta de ridículo atroz: exigem que a presidente Dilma Rousseff venha a público desautorizar suas ministras sempre que disserem alguma verdade sobre a ditadura de 1964/85.

O texto da jornalista Tânia Monteiro (vide aqui) deixa transparecer nitidamente sua simpatia pela catilinária das viúvas da ditadura:
"Em sinalização de como os militares da reserva estão digerindo a instalação da Comissão da Verdade, presidentes dos três clubes militares publicaram um manifesto censurando a presidente Dilma Rousseff e atacaram as ministras dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e da Secretaria das Mulheres, Eleonora Menicucci, por supostas críticas dirigidas à caserna".
Sinalização do quê, cara-pálida? Desde quando os frequentadores dessas associações recreativas, entre uma e outra partida de bocha, falam em nome da maioria dos oficiais da reserva? Que eu saiba, nunca lhes foi dada delegação nenhuma neste sentido.

É de supor-se que os diretores estejam mesmo apavorados com os esqueletos que possam sair dos armários oficiais. Afinal, o Clube Militar do Rio de Janeiro vive homenageando o torturador-símbolo do Brasil, Carlos Alberto Brilhante Ustra, além de comemorar religiosamente o aniversário da quartelada de 1964.

Quantos militares de pijama têm comparecido aos desagravos a Ustra? Cerca de 300. O que representam, no conjunto dos oficiais da reserva do RJ? Um por cento? Provavelmente, menos ainda.

Então, constata-se a existência de uma pequena minoria que ainda segue a cartilha de Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet e que tais. E, simplesmente, não há como sabermos o que pensa a maioria. Isto é o que um jornalista isento concluiria.

O pior é que a tal Tânia Monteiro vai mais longe ainda:
"A carta, embora assinada por oficiais da reserva, traduz a insatisfação de militares da ativa, que são proibidos de se manifestarem".
Que insatisfação? De onde ela tirou tal conclusão? Viu numa bola de cristal? Acreditou no que lhe foi contado por quem a escolheu para trombetear o assunto?

Foi pouquíssimo ortodoxa, por sinal, a reprodução de trechos entre aspas e a ausência do texto integral, que um profissional de imprensa cioso necessariamente colocaria no final da notícia, depois de introduzi-lo nos parágrafos iniciais.

Pode-se pensar num subterfúgio para driblar algum risco legal qualquer. Mas, com isto, o leitor foi convidado a assinar um cheque em branco. Ainda bem que, em tempos de internet, tudo acaba vazando (vide aqui o manifesto que nenhum jornalão publicou...).

Por esta e outras, saltou aos olhos tratar-de uma notícia  plantada  para ser reproduzida em todos os sites e correntes virtuais da extrema-direita. E, claro, o foi --em um por um.

O que motivou a reação destrambelhada dos nostálgicos do arbítrio?
  • uma declaração da Maria do Rosário, de que os trabalhos da Comissão da Verdade poderiam levar à responsabilização dos agentes do terrorismo de estado. Ora, se (para imensa vergonha do Brasil e dos brasileiros...) nada indica que os acontecimentos vão marchar nesta direção, por que haveria a presidente da República de desmentir o que, à primeira vista, parece ser apenas uma hipótese improvável?
  • as críticas que a ex-resistente Eleonora Menicucci de Oliveira faz àqueles que torturaram a ela e a seus antigos companheiros de militância, além de assassinarem bestialmente o saudoso Luiz Eduardo Merlino. Os ditos cujos deveriam é se dar por felizes de estarem sendo apenas criticados, não trancafiados numa prisão como os criminosos hediondos que foram. Além de terem obtido a (terrivelmente injusta e totalmente descabida) impunidade, ainda querem amordaçar ministras?!
  • o fato de constar em qualquer documento do PT que o partido está empenhado "no resgate de nossa memória da luta pela democracia durante o período da ditadura militar", ao que os gorilas objetam, pateticamente, que na época da criação da sigla a abertura política já havia ocorrido. E daí? É público e notório que o PT foi constituído por veteranos da resistência à ditadura, sindicalistas do ABC e expoentes da esquerda católica. Então, tem, sim, o direito de apresentar-se como depositário da memória da luta contra o despotismo.
Se Dilma der qualquer satisfação aos autores de um exercício tão amadoresco de lobbismo extremista, simplesmente se desqualificará como comandante em chefe das Forças Armadas.

Cabe-lhe sair em defesa de suas ministras ou, face à nenhuma importância deste factóide, simplesmente o ignorar.

QUARTA DE CINZAS - MARCELO ROQUE,Glória Kreinz divulga

http://abradicusp.blogspot.com/



Quarta de Cinzas



"Logo será fevereiro"
É o que mais se ouve nos bares,
gabinetes e esquinas
E tão logo apontar o primeiro trio
as ruas se encherão d'uma gente
que em nada lembrará
aquela gente do Pinheirinho,
da Candelária
ou de Eldorado dos Carajás
Pois logo será fevereiro ...
E se enfeitarão as avenidas
de uma destoante alegria;
a miséria se tornará arte
nas coloridas alegorias
e a melancolia ficará disfarçada
em meio ao colorido dos abadás
Pois logo será fevereiro ...
Mas tão logo a folia passar,
quando finalmente quarta-feira chegar,
não mais haverão confetes, lágrimas,
sangue ou serpentinas
que não tenham se reduzido à cinzas

Marcelo Roque

Plataforma - Elis & João Bosco

...e a gente não precisa que organizem nosso Carnaval...os passistas à vontade...por um bloco que aumente o movimente que sacuda e arrebente o cordão de isolamento... João Bosco

Hoje têm palhaçada ? ... Têm sim senhor !



Novamente o circo esta sendo montado,
de um lado, Obama, do outro, um Republicano
- talvez Romney

Mas bem poderiam ser ;

Mickey x Pato Donald;
Ronald Mc Donald x Tio Sam;
ou Capitão América x Super Mouse ...

Tanto faz ...
Pois apenas mudam as peças do tabuleiro
e não as regras do jogo

Esteja na Casa Branca Obama, Bush
ou Pinóquio, servirão apenas de marionetes
nas mãos da elite dominante,
encabeçada, é claro, pelos famigerados
banqueiros internacionais

Mas como a chamada "democracia" exige governantes
"eleitos" pelo povo, toda esta encenação eleitoreira
se faz necessária

Marcelo Roque

NA FLORESTA (I)





Depois de muito caminharem, o professor Silvestre e seu auxiliar, Óscarparaobrasil, chegaram a um lugar onde viram uma casa, com uma bela varanda e cercada por hortas e árvores frutíferas. Estavam cansados e famintos. Já fazia mais de quatro horas que perambulavam na floresta amazônica, de clareira em clareira - provocadas pelo desmatamento e queimadas criminosas - e em cada uma dessas clareiras paravam alguns minutos para chorar. As lágrimas que restavam eram poucas e já estavam temerosos de gastarem todas quando chegaram àquele lugar que parecia encantado.

     Bateram à porta e ninguém atendeu. Bateram novamente e nada. Por fim, desistiram e sentaram-se nos degraus da varanda que era guardada somente por uma jibóia que não ligou para eles e continuou melancolicamente enrodilhada. Parecia triste e sozinha.
     Óscarparaobrasil afagou a jibóia e perguntou ao professor Silvestre se não seria o caso de colherem algumas daquelas frutas, mas o professor Silvestre o impediu com a sua célebre frase: “A sorte não abandona os destemidos” e puseram-se a esperar ao lado da jibóia, embora não soubessem quem estavam esperando.
     O sol já estava se pondo, junto com as esperanças dos dois, quando ouviram ruído de passos e, logo em seguida, alguma coisa parecida com um ser humano, mas indistinguível na forma, apareceu e perguntou: “Quem são vocês?”.
     “Um momento, Shu. Eu é que pergunto: Quem são vocês?”, falou uma moça que vinha logo atrás da estranha forma que parecia humana e transparente. Era loura, alta, olhos azuis translúcidos, vestindo botas e roupas de couro e carregando em uma das mãos uma espingarda de dois canos.
     Depois de recompor-se da surpresa, o professor Silvestre disse: “Perdoe-me, bela senhora, por estar invadindo os seus domínios. Eu sou o professor Silvestre e este é o meu auxiliar Óscarparaobrasil. Fazemos parte da expedição da ONG “Chorar Pela Amazônia” e nos perdemos dos outros quando estávamos cumprindo o nosso dever de chorar pela Amazônia em um dos muitos lugares devastados por queimadas. A fumaça era tanta que nos ajudou a chorar, e quando, finalmente, saímos do lugar com os olhos úmidos e purificados na alma não vimos mais ninguém. Caminhamos durante horas e chegamos a este lugar que parece um paraíso no meio do inferno – se me permite a imagem vulgar – e fomos recebidos apenas por esta jibóia que estava dormindo e agora parece muito interessada no meu auxiliar”.
     “Hermelinda, comporte-se e vá caçar ratos!”, disse a moça, fazendo com que Hermelinda – a única jibóia que ainda conserva acento no “ó”, por ser contra as novas regras ortográficas – deixasse o colo de Óscarparaobrasil. Espreguiçou-se e foi em direção à floresta. Enquanto isso, a porta da casa tinha sido aberta pelo ser que parecia humano e não tinha forma definida, e todos entraram.
     “Nada mais eu estranho nesta floresta, senhora”, disse o professor Silvestre. Nem mesmo...” – e apontou para a estranha figura que se confundia com móveis e paredes. “O nome dele é Shuniazzar”, disse a mulher, “um estranho animal mitológico que fala. E o meu nome, hoje, é Ingrid. Às vezes, é Gerda, ou Maria, ou Gertrude. Depende do dia. O povo da floresta me chama de Alemã na Floresta, o que é óbvio, porque eu sou alemã e moro na floresta. Eu não me importo que me chamem assim. Vim para cá quando era muito pequena. Havia uma grande guerra na Europa e a Alemanha estava sendo invadida pelos inimigos. Foi quando os meus pais decidiram me colocar em uma barquinha que atravessou o Mediterrâneo e o Atlântico e me trouxe para este país. Shuniazzar me encontrou quando eu estava transpondo a pororoca; me protegeu e me ensinou todas as coisas que um estranho animal mitológico que fala pode ensinar. Quando eu cresci, me ajudou a construir esta casa. E o senhor, é professor de que? Mas deixe para contar durante a janta. Shu, estamos com fome”.
     Imediatamente, o professor Silvestre e Óscarparaobrasil, sem que tivessem se mexido, perceberam que estavam em uma sala, iluminada por grandes velas colocadas em castiçais antigos, onde havia uma mesa, cadeiras, belos quadros nas paredes, e um piano ao fundo, ao lado de uma janela. Sobre a mesa, pratos e travessas contendo comida que parecia apetitosa. Ingrid, percebendo a surpresa deles, disse que aquele era mais um dos truques de Shuniazzar, que fossem se servindo e não fizessem cerimônia, porque via que estavam com muita fome. Em seguida, serviu o vinho, que apareceu subitamente sobre a mesa e, depois de alguns minutos, quando já se ouvia o piano tocar músicas que embelezavam a alma e abriam o apetite, repetiu a pergunta que fizera ao professor Silvestre: o que ele ensinava?
     Com o estômago agradecido e a voz embargada – talvez por ter chorado muito durante o dia – o professor começou a dizer “Pois dona Ingrid...”, quando foi interrompido pela dona da casa: “Ingrid não, agora é Gertrude, já passou da meia-noite”. “Pois dona Gertrude” – recomeçou o professor – “saiba que este país que me engana, ai de mim Copacabana, sobre a cabeça os aviões e sob meus pés os caminhões, como diz o poeta, não só engana a mim como a quase todos que nele moramos, porque madame diz que a vida não melhora, que a vida piora por causa do samba – como diz outro poeta -, mas não é por causa do samba, mas do desgoverno que nos aflige como um caminhão derrapando na estrada de Santos, como diria outro poeta, e nós, indignados brasileiros fundamos a ONG “Chorar Pela Amazônia”, que reúne intelectuais de todo o país, e eu – que sou professor de Anatomia da Natureza e Fisiologia Sistêmica dos Bens Renováveis – convidei os membros da nossa ONG para virmos até a Amazônia. Nem todos vieram, alguns preferiram ficar chorando em casa, mas o pequeno grupo que aqui está já faz três dias que chora desesperadamente cada vez que vemos uma parte da floresta desmatada ou incendiada. Hoje, eu e Óscarparaobrasil nos perdemos dos demais e caminhamos até encontrar a sua bela morada.”
     “Que interessante!” - disse Gertrude “E existem outras ONGS que se interessam pela Amazônia?”
     “Inumeráveis!” - respondeu o professor. “Algumas se destacam mais, como a ONG “Deitados Em Berço Esplêndido”, que faz um grande trabalho pela Internet, ou a ONG “Garota da Amazônia”, que recolhe assinaturas em Ipanema para protestar contra a desvirgindade da floresta; a ONG “Poetar É Preciso”, formada por poetas de todo o Brasil, que escrevem poemas contra a devastação da Amazônia e brevemente lançarão o seu primeiro livro, a ONG “O Último Suspiro”, cujos membros fazem reuniões para suspirar sentidamente pela Amazônia e pela Mata Atlântica, a ONG “Me Engana Que Eu Gosto”, que faz vigílias em frente ao Congresso Nacional para vaiar deputados e senadores... E tantas outras...
     “Que bonito!” – disse Gertrude. “E eu achando que só existia a ONG “Macunaímas Traídos”, formada pelo povo da floresta que vê cair as suas árvores e volta e meia grita: “Estamos sendo traídos!”, e depois voltam a dormir em suas redes, ou a ONG “Grandes E Poderosos Índios Valentes”, formada por índios aculturados que, quando sabem de algum novo desastre florestal fazem aquela dança onde sapateiam e gritam “hu-hu-hu-hu” e depois voltam para assistir televisão ou jogar vídeo-game, ou a ONG “Guerrilheiros Da Floresta”, formada por jovens intelectuais que distribuem panfletos para os madeireiros, enquanto eles cortam as árvores, e depois voltam para as suas casas para escrever novos panfletos. E tantas outras... Mas vejo que estava enganada.”
     “O nosso esforço conjunto um dia dará seus frutos, a sorte não abandona os destemidos” – disse o professor. “É verdade, professor”, respondeu Gertrude, mas já é hora de dormir. Amanhã eu vou caçar e vocês dois estão convidados”. “Agradeço, mas eu não mato animais”, disse o professor. “Nem eu”, respondeu Gertrude. É uma caçada diferente, o senhor vai ver”.
     Em seguida, a sala se transformou em um quarto espaçoso, onde se viam duas camas e um guarda-roupa. O professor Silvestre e Óscarparaobrasil já não se surpreendiam de nada. As suas mochilas estavam no chão, uma ao lado de cada cama. Trocaram de roupa e se deitaram. Quando Hermelinda, no meio da noite, entrou, sinuosa e lânguida, pela janela e foi enroscar-se sobre os pés de Óscarparaobrasil, por quem já tinha alguma afeição, ele perguntou: “Comeu o seu ratinho, Hermelinda?”

     A noite passou como costumam passar as noites: dormitando em sua escuridão, até o momento em que foi definitivamente acordada pelo Sol, que pedia para brilhar, e recolheu-se, resmungona, para o outro lado do globo. Óscarparaobrasil acordou com as amorosas lambidas de Hermelinda e disse para ela que estava na hora de caçar ratos. Hermelinda quase respondeu que nem só de ratos vive uma jibóia, mas conteve-se, educadamente, e saiu pela janela, preguiçosamente.
     O professor Silvestre estava acordado desde o momento em que os róseos dedos da aurora tinham entrado pela janela e tocado na sua testa. Óscarparaobrasil voltou-se para ele e disse “Bom dia, professor” – ao que o professor retrucou, impiedosamente: “Se você não usasse esse cabelo moicano e não passasse tantas horas assistindo futebol talvez percebesse que este dia só é bom na aparência. Quantas árvores estão sendo derrubadas neste exato momento!, e só resta a nós, as forças desarmadas – porque as armadas devem estar dormindo nos quartéis ou invadindo favelas -, só nos resta chorar. Choremos, pois”.
     Choraram pela Amazônia e pelas maldades dos humanos que destroem o mundo e, em seguida, sentiram urgente necessidade de ir ao banheiro. Naquele momento surgiram dois banheiros, que os atraíram como os olhos da Iara e onde entraram empurrados por uma força interior irresistível. Depois, banhados e com as roupas trocadas, quando pensavam em sair do quarto viram-se na mesma sala onde tinham jantado na noite anterior. Sobre a mesa, bules fumegantes de café e leite, queijos, geléias, pães os mais diversos, patê, manteiga e tudo o que deve conter um legítimo café colonial. “Desculpem pela ausência de margarina”, disse Gertrude, que já tomava o seu café. “Eu não uso gordura trans. Passaram bem a noite?”
     O professor Silvestre disse que tinha dormido como uma criança e Óscarparaobrasil quase se queixou de Hermelinda, mas preferiu perguntar como era que Shuniazzar adivinhava até pensamentos.
     “Shuniazzar é muito prático”, disse Gertrude, “ele não adivinha, se antecipa; deixa tudo programado com antecedência através de formas de pensamento que são acionadas e se transformam em realidade quando nelas pensamos. Só não pode interferir na vontade das pessoas; caso contrário, a floresta não estaria sendo devastada. Ele é apenas um ser mitológico que fala”.
     “Muito curioso”, disse o professor, “mas de qual mitologia?”
     “Ele nunca me disse nem eu perguntei”, respondeu Gertrude. “Mas penso que de todas ou um pouco de cada uma. Shu não gosta de discriminação. Mas por que Óscarparaobrasil tem esse nome tão expressivo?”
     “É que meus pais”, respondeu Óscarparaobrasil, “sempre assistiram todos os filmes norte-americanos e desejam muito que um dia o Brasil seja premiado com um Oscar, o que seria um enorme salto qualitativo para a nossa cultura, segundo eles, e, quando eu nasci me deram o nome de Óscarparaobrasil, assim mesmo, com acento, mas eu sempre quis trocar de nome. Gostaria tanto de ser João, ou José, ou até Mário, apesar daquela piada... Só não troco para respeitar a vontade deles, e uso o meu cabelo estilo moicano porque rima com norte-americano. Mas o professor me ensinou que todos os moicanos foram mortos pelos brancos daquele país e agora eu uso o cabelo assim em forma de protesto silencioso”.
     “Ah, sei... E você respeita muito os seus pais?”
     “Muito.”
     “E o seu Governo?”
     “Muito.”
     “Então, o que você faz aqui na floresta, Óscarparaobrasil?”
     “Eu também respeito muito o professor.”
     “Você tem alguma perturbação?”
     “Não. Eu sou perfeitamente correto. Vou cursar advocacia, casar com uma moça certinha, que não pense muito, como eu, ter dois filhos, entrar para a Maçonaria e para o Rotary e viver feliz. Eu só me perturbo quando durmo com uma jibóia nos pés ou quando encontro um estranho ser mitológico que fala. Mas logo aceito qualquer situação como normal, seguindo o conselho do meu pai que sempre me disse, como regra de vida, que devo respeitar a todos e aceitar tudo.”
     “Bem, senhores – disse Gertrude – está na hora da caçada.” Levantou-se e pegou a sua arma de dois canos, colocou um cinturão com cartuchos preso na cintura e disse: “Vamos?” Saíram os quatro e, depois de alguns passos, já estavam em plena floresta. Caminharam cerca de uma hora em silêncio até que Gertrude mandou parar. “Estão ouvindo?” – perguntou. O professor esforçou-se por ouvir qualquer coisa diferente dos ruídos esquivos da floresta, sem nenhum resultado, e foi Óscarparaobrasil quem disse: “Parece uma banda de rock!” À medida que caminhavam o ruído se tornava mais claro: “rrrrrrrrróqpóqrrrrróqpóqrrrrrrrrrrr”.
     “O que será isso?”, perguntou o professor Silvestre, “Algum outro animal mitológico, que não fala e só ruge?” “É o ruído do desmatamento, professor”, respondeu Gertrude, e em seguida disse para Shuniazzar, que estava em algum lugar ali por perto: “Shu, precisamos ficar invisíveis”. Imediatamente uma estranha neblina verde os envolveu. Aproximaram-se ainda mais e viram vários homens portando motosserras e cortando gigantescas árvores. Dois ou três caminhões estavam estacionados mais adiante para carregar a madeira. Outros homens cortavam as árvores que já tinham sido derrubadas.
     Gertrude pegou a sua arma e a carregou com dois cartuchos. Imediatamente, o professor Silvestre, horrorizado, disse: “Por favor, senhora, não os mate!” Ao que Gertrude respondeu dizendo ao professor que ele e seu auxiliar poderiam aproveitar para chorar um pouco, enquanto ela fazia algo mais prático. “E não se assuste tanto, professor, eu não vou matar ninguém”. Colocou a arma no ombro, apontou, no momento em que o professor começava a chorar, junto com Óscarparaobrasil, e deu o primeiro tiro. Ouviu-se um grito e um dos homens que estava mais perto começou a correr para todos os lados e a gritar esganiçadamente.
     Gertrude continuou a atirar. A cada tiro, gritos e correria. Até que os homens entraram nos caminhões como puderam e deram a partida. Gertrude dava grandes gargalhadas. O professor aproximou-se e perguntou: “O que a senhora fez?”
     “Chumbinho nas nádegas, professor. Só que hoje eu misturei com sal e pimenta moída. Pode apostar que esses não voltam mais. Devem estar pensando que é algum espírito protetor da floresta. Viu? Não matei ninguém. Eles sequer ouviram o barulho dos tiros, Shu não deixou.”
     Enquanto voltavam, o professor Silvestre fez um longo discurso sobre a não-violência, que os protestos deveriam sempre ser pacíficos, lembrou Gandhi e outros pacifistas, disse que cabia ao Governo tomar qualquer atitude mais enérgica, chegou a lembrar a nova Lei da Palmada...
     Finalmente, Gertrude respondeu: “E o Governo faz o que, professor? Estatísticas, enquanto a floresta está sendo derrubada? É preciso ser muito mulher para viver na floresta. Eu não sou a única. Enquanto os homens bebem, se queixam, fazem abaixo-assinados, choram, gemem, batem o pé e gritam hu-hu-hu-hu, as mulheres agem. Chumbinho nas nádegas, ou nos glúteos, se o senhor preferir, pode resolver muitos problemas, além de proteger a natureza. Isto sim é que é legítima defesa do outro, professor!”.
     Óscarparaobrasil ouvia a conversa e fazia o possível para não pensar.
Fausto Brignol