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quarta-feira, 9 de março de 2011

SOBRE DEUSES E DEUSAS


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Deus é machista. Primeiro criou o homem e o colocou como senhor da natureza. Depois, percebendo que o homem necessitava de uma “ajudadora”, criou a mulher.

     Terrivelmente machista. Criou a mulher apenas para ajudar o homem e, ainda por cima, tinha uma idéia completamente errada sobre o ser humano e sua relação com a natureza. Imaginem só!, ele colocou o homem (e, depois, a mulher) sobre a Terra para que dominasse a natureza.

     Será que ele não sabia que a natureza, o homem e a mulher são a mesma coisa? Não sabia Deus que tudo se relaciona e que o ser humano e a natureza são uma coisa só? Logo Deus, que tem a obrigação de saber tudo... Claro que sabia! Ocorre que Deus é machista, coitado... É o que está escrito no Gênesis.

     Mas há outra versão do mesmo livro que diz que Deus criou o homem e a mulher ao mesmo tempo, mas a mulher sempre para ajudar o homem, e pior ainda: depois daquela história da serpente, da árvore do bem e do mal, do fruto que a mulher deu para o homem comer, ele amaldiçoa a mulher. Somente a mulher.

     O homem ficou de coitadinho, enganado pela serpente e pela mulher. A mulher é que teria que parir com dores. Para o homem, já que tinha aberto os olhos e conhecido o bem e o mal, restaria ganhar o seu sustento com o seu próprio suor.

     Supõe-se que antes da serpente aparecer naquela história do Gênesis, homem e mulher (não necessariamente nesta ordem, por favor) eram sustentados por Deus, desde que continuassem cegos e alienados sobre tudo o que acontecia ao seu redor. Não podiam nem raciocinar.

     E foram expulsos do paraíso. Deus estava muito brabo e correu com eles. Que se arranjassem como pudessem! A lá foi a mulher a parir com dores e o homem a ganhar o pão com o suor do seu rosto. Mais ou menos por aquela época, os anjos de Deus viram as mulheres da Terra, se apaixonaram e simplesmente as estupraram. E o resultado foram os gigantes.

     Agora, que mulheres eram essas se Deus tinha criado somente um casal? Não fica muito claro no Gênesis, mas supõe-se que fossem as filhas de Eva, ou netas, porque o Gênesis, como é um livro machista ditado por um Deus machista para um suposto Moisés machista, somente fala nos filhos homens de Adão e Eva - Caim e Abel.

     Mas, voltando: pior do que serem xingados e corridos do Paraíso terrestre por Deus, aquele ato de desobediência resultou no que os muito religiosos, mas tão cegos como aquele deus machista, entenderam mais tarde que seria um grande pecado – o pecado original, no qual toda a humanidade estaria imersa.

     Foi daí que surgiram aquelas religiões que dizem que o ser humano, para se livrar do pecado original precisa converter-se, temer e obedecer cegamente a Deus. Senão, babaus!

     Já não basta ganhar o pão com o suor do rosto, pagar impostos altíssimos para ter o direito de morar e de sobreviver; agüentar a opressão das oligarquias que estão mancomunadas com aquele deus, assistir as novelas da Globo, o BBB, as bobagens do Sílvio Santos, os carnavais estéreis do Rio, ouvir as mentiras diárias da mídia controlada... Mas, ainda por cima ter de obedecer aos sacerdotes daquele deus raivoso que não gosta muito de mulher, porque senão... É o inferno!

     Ainda bem que nos últimos anos mulheres muito inteligentes e argutas descobriram que Deus não é Deus, é Deusa. E sendo Deusa seria melhor que Deus, devido ao fato de que as mulheres são melhores do que os homens e os homens, se não forem coisa pior, no mínimo serão uns brutos machistas.

     Isso é um alívio... Os celtas e a sua religião, que quase tinha sido exterminada pelos machistas romanos que tinham um deus macho – Júpiter – sobre todos os demais pequenos deuses, conseguiram, graças aos poderes da Deusa, fazer ressurgir essa religião das brumas de Avalon, com as suas druidesas, fogueiras, festas iniciáticas e tudo o que tem direito.

     Que bom! Já era tempo de alguém se contrapor àquele deus judaico-cristão, que os gnósticos sempre afirmaram que era um deus falso, um demiurgo, emanação do Uno, ou da Una, que veio para a Terra apenas para criar todos esses preconceitos machistas que nem a Lei Maria da Penha consegue dar conta.

     Na verdade, os homens sempre desconfiaram disso, quando começaram a divinizar as mulheres, dizer que elas são umas deusas, que são o que a natureza fez de melhor. (E é verdade! Cá entre nós, homens, ao pé do ouvido, sem que elas nos escutem: mulher é o que existe de melhor). Claro que tem aqueles homens que não concordam com esta opinião e tem aquelas mulheres que concordam alegremente, mas o mundo não é de todos?

     Em tese. Todos vivem no mundo, mas quanto ao mundo ser de todos... É necessário muito dinheiro para participar daquele clube dos donos do mundo, que pouco está se importando se o Deus é Deusa ou se a Deusa é Deus. O que querem é relaxar e gozar. E dominar. E entrar em êxtase com o seu domínio e poder. Um grupo composto por homens e mulheres, todos e todas muito poderosos e muito poderosas, e o seu poder é tanto que se consideram deuses e deusas.

     Já viram o rosto esfuziante da Hillary Clinton? Ou do Sarkozy? Ou da Ângela Merkel? Ou do Berlusconi? E de tantos outros e outras que decidem a nossa vida? Pois é. Para esses não há pecado original e o mundo não é o limite. Enquanto milhões vivem na miséria e outros milhões tem todas as dificuldades, aqueles tem todas as facilidades.

     Ótimo que exista um Dia Internacional da Mulher. Pelo menos, durante um dia no ano os homens de todo o mundo tem a oportunidade de pensar se estão sendo justos com as mulheres das suas vidas. Porque sem mulheres não existiria vida, amor, felicidade e aquele pouco de esperança que tentamos vislumbrar.

     Mas o ideal seria um Dia Internacional da Humanidade. Para que todos – homens e mulheres - pensem no que está sendo feito com a humanidade, com todos aqueles milhões que passam fome e frio; sofrem com as doenças, com o desamor e morrem de desesperança. E todos procurem, seriamente – sem fantasias ou carnavais – uma imediata solução para tanta injustiça e desigualdade, que não discriminam os gêneros para provocar miséria e desilusão.

Fausto Brignol.

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