Há grupos de esquerda no Brasil – não o PT ou o PSOL, que podem ter pessoas de esquerda, mas são partidos que se aliam com a direita: o PSOL por concordar com o sistema e o PT por ser a própria cara do sistema no Brasil –, grupos pequenos que até se constituíram em partidos políticos, que acreditam que qualquer manifestação popular estará, obrigatoriamente, relacionada com lutas contra tiranias.
Se assim fosse, a “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”, organizada pela TFP (Tradição, Família e Propriedade), que seria hoje o que entendemos por bancada ruralista no Congresso mais UDR (União Democrática Ruralista) e mais a ala reacionária da Igreja Católica (que é a maioria) – organizada em apoio ao golpe de 1964, que depôs João Goulart... Se fosse hoje, seria apoiada por esses grupos. Porque era contra o governo e porque reuniu muitos populares, além dos interessados diretos. E falava em liberdade.
Todos os golpes de Estado e revoluções sempre usaram a palavra ‘liberdade’ para justificar-se. Às vezes, unida com outras palavras, como Fraternidade e Igualdade, como na França, quando da Revolução Francesa.
Marat, Robespierre e Danton mataram milhares de franceses na guilhotina, apenas por suspeita de traição à República. Bastava uma palavra equívoca em alguma conversa descontraída para ser preso e guilhotinado no dia seguinte. A desculpa era a ‘liberdade’ ameaçada. Inclusive o astrônomo Bailly e o químico Lavoisier foram guilhotinados. Depois, Marat mandou matar Danton na guilhotina e foi assassinado por sua amante. Robespierre foi guilhotinado quando o povo francês não o agüentou mais.
No entanto, a Revolução Francesa é tida como um intocável exemplo de luta pela ‘liberdade’ pelos livros da história oficial. Talvez devido à época das guerras napoleônicas, quando havia um Imperador que defendia a República...
Neste exato instante a OTAN (aquele exército internacional dominado pelos Estados Unidos, também conhecido como Organização do Tratado do Atlântico Norte) poderá estar bombardeando Trípoli e invadindo a Líbia. Todos os estrangeiros já saíram e este era o sinal para a invasão imperialista. Em nome da ‘liberdade’.
Se isto estiver acontecendo ou no instante em que começar a acontecer e até a fuga ou assassinato de Kadhafi, qual será a posição desses grupos de esquerda que agora apóiam o que entendem por revolução nos países da África do Norte? Implodirão ou encontrarão motivos relacionados com a ‘liberdade’?
A guerra no norte da África é provocada pela mídia e sustentada pelos Estados Unidos e aliados. Através da Internet são convocadas as pessoas e preparados os ataques e manifestações. As armas vem de fora e, em alguns casos, o exército local é comprado, como aconteceu na Tunísia e no Egito. O clamor popular tenta dar legitimidade às ações.
A mídia televisiva do sistema – BBC, CNN e outras empresas do gênero – aumenta esse clamor. No Brasil, a Globo é a CNN e as demais empresas seguem o embalo para não perderem a audiência.
A causa oficial dos levantes é a ‘liberdade’. A verdadeira razão é o petróleo.
A Líbia possui as maiores reservas de petróleo do continente africano – 44,3 bilhões de barris - e é o terceiro maior produtor de petróleo da África. Grande parte dessas reservas estão nacionalizadas.
Quando a pressão do Ocidente foi muito grande, tão grande que em 1986 os Estados Unidos lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi, matando 60 pessoas, entre elas uma neta de Kadhafi, este resolveu negociar e cedeu parte da exploração do petróleo líbio a empresas ocidentais, como a British Petroleum. Mas não abriu completamente o regime, que continuou a ser nacionalista e islâmico.
Não por acaso, após a saída do poder do presidente Mubarak do Egito, um eterno fantoche dos Estados Unidos, sucedido pelas suas próprias Forças Armadas, começaram as manifestações na Líbia, justamente em Bengazi, que faz fronteira com o Egito.
É em Bengazi que ficam os mais ricos campos petrolíferos da Líbia, bem como a maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, além de refinarias e um porto para exportação de gás liquefeito para a Europa.
Alguns grupos políticos que foram expulsos da Líbia, quando esta se tornou nacionalista com Kadhafi, organizaram-se em uma Frente Nacional para a Salvação da Líbia, treinada e financiada pela CIA. Confirme esta informação entrando na busca do Google e escrevendo National Front for the Salvation of Libya junto com CIA e encontrará centenas de referências.
A outra razão para os Estados Unidos e seus aliados dominarem completamente aqueles países do norte da África é militar. A partir dali, poderiam invadir facilmente qualquer país do Oriente Médio, encontrando pouca ou nenhuma resistência.
Ainda outros motivos: acelerar o fim do islamismo como religião ligada aos países daquela região (norte da África e Oriente Médio), facilitando a vida dos aliados israelenses, ao mesmo tempo em que preparam uma terceira frente de batalha – além do território do Azerbaijão e do Mar Cáspio - para uma muito provável futura guerra contra o Irã.
Mas na mídia oficial a história contada é outra. Seria uma luta contra a tirania. Luta pela ‘liberdade’. Mas a mesma mídia jamais apoiará um levante dos palestinos contra os opressores israelenses.
É esse tipo de mídia que, com entusiasmo e veemência, procurará dar razão à invasão da OTAN na Líbia. E talvez alguns pequenos partidos brasileiros – sem contar os partidos grandes e já vendidos – que se consideram de esquerda, concordem com a mídia oficial.
Uma invasão planejada para logo após a premiação do Oscar, quando mais câmeras estarão disponíveis.
Fausto Brignol.
Fausto Brignol.
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