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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Por Que V Excelências Morrem de Medo?
Carlos A. Lungarzo
Anistia Internacional
O Senado Brasileiro está composto de vários tipos de parlamentar. Alguns, entre os quais quero citar o lendário Eduardo Suplicy, os defensores populares José Nery e Inácio Arruda, e vários outros com os quais não possuo muito contato, mas que admiro muito, que certamente orgulhariam a câmara alta de qualquer Parlamento do mundo. Outras pessoas se mantêm no nível necessário para defender suas idéias e propósitos, e mais alguns outros (não saberia atualmente estimar quantos são) representam a clássica função histórica do Senado nos países imperiais ou descendentes de impérios: o órgão de expressão das mais altas e poderosas elites, que precisam possuir os controles da vida parlamentar para manter o aparelhamento do estado.
Em alguns países de tradição mais complexa, como G. Bretanha, o senado reúne figuras muito diversas, mesmo nas bancadas mais conservadoras. Entretanto, nas Américas, por diversas razões relacionadas com o caráter colonial de nossas elites, aqueles altos representantes das classes dominantes se caracterizam por certo transtornos de personalidade que vão além da simples necessidade de defender seus privilégios. Com efeito, nada impede que um parlamentar da ultra-direita se empenhe em todos os lobbies necessários para o sucesso dos interesses corporativos que representa, sem que isso implique uma notória tendência à violência verbal, o racismo, a discriminação, a xenofobia, a intolerância e, por momentos, a quadros de séria patologia. Acaso as reuniões da Máfia não aparecem no cinema como sendo muito educadas e atenciosas?
Entretanto, como fazem notar alguns sociólogos europeus, em alguns países desenvolvidos (esclareço que a Itália está excluída desta consideração) é possível ser ultra-conservador e ter boas maneiras. Já nos países onde as elites se desenvolveram com base na brutalidade, seus representantes não podem evitar vomitar todo seu ódio por qualquer motivo.
Eu entendo as descargas de violência contra Eduardo Suplicy no Senado. Não foi só por ler, em forma exemplar e corajosa, a carta de Cesare Battisti, mas também por ser uma personalidade superior, que ofusca aquelas figuras medíocres que se arrastam num mar de baba e sangue. (Baba própria, sangue dos outros). Suplicy é senador há 20 anos, é um dos poucos que é conhecido em todos os meios diplomáticos do exterior, é um economista cujo trabalho realmente fundacional só não se aprecia como merece em seu próprio país, um ex-desportista, uma figura livre e sem condicionamentos nem temores. É um grande amigo da vida que não se envergonha em compartilhar os prazeres e diversões do povo ao qual serve, a despeito dos gritos histéricos e hipócritas de carolas e puritanos que se rasgam as vestes quando observam (não sem inveja) o original senador se relacionando com pessoas do mundo “light”, aquele mundo onde as pessoas preferem o prazer ao comportamento engomado e cínico.
É natural que alguns colegas sintam desconforto por ter que compartilhar com uma pessoa brilhante humana e intelectualmente, a escassa inteligência e cacife moral que a natureza, sempre muito discriminadora, lhes concedeu por acaso e de má vontade.
Para variar, mais uma vez Suplicy foi insultado pelo patético personagem que se tornou célebre por ter afirmado que a escravidão foi culpa dos escravos, embora haja muitas outras razões para encontrar sua figura lamentável. Já outro colega, este da direita mais arguta, que, em vez de procurar o confronto obsceno, prefere destilar a intriga, e o bajula, expressando como admira o interesse de Suplicy pelos direitos humanos; Todavia, lamenta (coitado!) que use esse interesse para defender um perigoso terrorista, chefe da fração que assolou Itália, Madri, Londres, Nova Iorque, Iraque, Colômbia e agora o Brasil, deixando a seu passo milhares de vítimas.
Milhares, sim, porque as vítimas que a máfia fascista italiana mobiliza para todos os lados, devem ser muitas: elas estão em todos os lados: rádios, TVs, jornais, até no Parlamento Europeu, e seguramente serão levadas à Haia.
Mas, não haveria uma solução melhor que qualquer uma destas: distribuir injúrias ou injetar veneno??
Eu pergunto:
Por que não chamam Battisti a depor no Senado? Se eles acham que estão certos e Battisti está errado, por que não o desmentem na frente de todos?
Não será por problemas de linguagem: Battisti fala italiano, francês e espanhol perfeitos, e, embora com algo de sotaque, também um português bastante mais refinado que o dos jagunços que correm com cordas e tochas em sua procura.
Será que estes linchadores têm medo de olhar olho no olho uma pessoa corajosa?
Pode ser. Mas não os critico. Quem vive do lobby, da bajulação, do coronelismo, não pode sentir-se à vontade na frente de uma pessoa valente. É uma pena para todo nosso continente. Coitado do país que precisa de covardes e linchadores para impor a lei!!!
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