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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

GOVERNOS NÃO SE SUICIDAM

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Unidos contra Battisti: de relator a presidente...
Os companheiros estão à beira de um ataque de nervos.

As avaliações desencontradas que nos chegam das mais diversas fontes, a desinformação deliberada com que a mídia golpista tenta alavancar as posições reacionárias (mesmo pondo em risco a democracia brasileira) e a guerrilha judicial movida pelos dois ministros do Supremo Tribunal Federal que agem flagrantemente como quadros direitistas estão ensejando os piores temores nos cidadãos empenhados em evitar o linchamento do escritor italiano Cesare Battisti.

...e de presidente a relator, sempre os mesmos.
Fui o primeiro a advertir para este quadro, tão logo o presidente Luiz Inácio Lula deu a decisão final do Estado brasileiro sobre o pedido de extradição italiano, negando-o de uma vez por todas:
"...demagogias, mentiras, ameaças, bravatas e   buffonatas  italianas à parte, permanece o fato de que a dupla reacionária do STF parece querer colocar o Supremo no papel de uma corte internacional que estivesse julgando uma pendência entre o Brasil e a Itália, e não como um Poder brasileiro obrigado a respeitar as decisões tecnicamente consistentes de outro Poder.

Francamente, acredito que ficará falando sozinha, com os demais ministros não a acompanhando nessa aventura insensata e potencialmente catastrófica para nossa democracia.

Mesmo assim, cabe a todos os cidadãos brasileiros avessos ao totalitarismo, imbuídos de espírito da justiça e ciosos da soberania nacional manterem-se alerta contra o linchamento de Battisti e vigilantes contra essa nova forma de golpismo que habita os sonhos da direita inconformada com a hegemonia petista: a ditadura judicial".
Nada do que ocorreu nos últimos dias me leva a mudar uma vírgula sequer do artigo Lula decidiu: Battisti fica! Continuo acreditando que Cezar Peluso e Gilmar Mendes não conseguirão atrair os demais ministros do STF para sua cruzada de esvaziamento do presidencialismo brasileiro, mediante a usurpação de seus poderes e prerrogativas; da última vez, foi exatamente aí que a  britzkrieg  de ambos empacou.

O que o presidente do STF está fazendo é ganhar tempo, para ver se as pressões italianas e o comportamento abjeto de alguns jornalistas brasileiros criam um cenário mais favorável à sua intenção de colocar de joelhos o Governo Federal, submetendo-o aos caprichos dos neofascistas europeus.

Há um clima de insanidade no ar, graças à perda dos últimos escrúpulos por parte da imprensa canalha.

De um lado, O Estado de S. Paulo arrasta na lama sua tradição centenária, ao estuprar a verdade num editorial em que afirma ter sido Cesare Battisti sempre um criminoso comum.

Nem o mais virulento linchador midiático, Mino Carta, ousou ir tão longe.

Fanático simpatizante do Partido Comunista Italiano, Mino tudo fez para queimar o arquivo vivo chamado Cesare Battisti, o escritor que estava trazendo à tona o papel infame assumido pelo PCI durante os anos de chumbo. 

Foi quando os comunistas mancomunaram-se com a reacionária, corrupta e mafiosa Democracia Cristã para chegarem ao poder e o utilizaram da pior maneira possível, colocando-se na linha de frente da perseguição macartista à ultra-esquerda -- marcada pela introdução de leis caracteristicamente de exceção (como denunciou o grande Norberto Bobbio), orquestração de farsas judiciais e prática abrangente de torturas, mais fáceis de serem relegadas ao esquecimento porque lá os porões não tinham poder de vida e morte sobre as vítimas (daí sua dramaticidade ter sido menor...).

Obcecado em desacreditar o escritor e desobstruir os caminhos para que fosse despachado para a Itália e lá silenciado, Mino chegou até a encampar a infãmia inventada pela repressão italiana, de que Battisti seria um criminoso comum convertido à revolução no presídio. 

Ou seja, falaciosamente apontou o ingresso de Cesare no grupo Proletários Armados pelo Comunismo como marco inicial do seu engajamento na esquerda, omitindo que era neto, filho e irmão de comunistas, tendo militado anteriormente na juventude do PCI e nos grupos A Lotta Continua  e Autonomia Operária.

Mas, até para não conflitar com as sentenças dos dois julgamentos italianos de Battisti, Mino não ousou ir mais longe do que isto. 

O "ESTADÃO", NAS PEGADAS DE GOEBBELS

O Estadão, entretanto, não teve tais melindres, mentindo da forma mais descarada possível, a ponto de afirmar que Battisti teria estado escondido na França, e não protegido pela Lei Mitterrand das perseguições italianas, como tantos outros integrantes dos aproximadamente 500 grupos de ultraesquerda que, levados ao desespero pelo  compromisso histórico, fizeram uma opção insensata, mas, inquestionavelmente, política.

E é chocante vermos as mentiras italianas repercutirem até nas seções de cartas dos jornais, com leitores lamentando a sorte de Alberto Torregiani, coitadinho, obrigado a assistir ainda menino ao assassinato do seu pai por Battisti... embora ele próprio já tenha admitido à Agência Ansa que Cesare não foi um dos executores de Pierluigi Torregiani, pois, supostamente, estaria participando do atentado contra um açougueiro numa localidade distante.

Trata-se, nada mais, nada menos, da célebre balela que o delator premiado Pietro Mutti impingiu aos promotores italianos e estes engoliram, até alguém menos relapso se dar ao trabalho de conferir datas, horários e mapas, constatando que era impossível Battisti estar presente no palco dessas duas ações quase simultâneas.

Mesmo assim, a acusação inicial de quatro assassinatos -- alterada, pateticamente, para  autoria direta  de três e autoria intelectual do quarto -- continua trombeteada até hoje pela imprensa brasileira, que jamais tem a compostura de mencionar este  pequeno  detalhe.

Assim como boa parte da mídia continua rotulando Battisti de  terrorista, adjetivo que não encontra respaldo nas sentenças italianas (nelas só se fala em  subversão contra o Estado) e, na pior das hipóteses, só se aplicaria a suas atividades até 1979.

Ou seja, um cidadão que abandonou as organizações armadas há três décadas e vive desde então em fuga, preso ou trabalhando honestamente, tendo constituído família e se projetado na literatura, é até hoje identificado com seu passado longínquo, num óbvio artifício para levar-se o público desinformado a supor que se trate de um Osama Bin Laden da vida!

UMA CERTEZA: O GOLPISMO SERÁ DETIDO

Errará, entretanto, quem admitir a hipótese de que o Governo Federal venha a ser intimidado pela instrumentalização midiática da verdade e pelas arrogantes ameaças italianas.

O Governo Dilma não poderá recuar um centímetro sequer neste caso... não só para manter-se coerente com seus compromissos democráticos, mas até por instinto de sobrevivência. Submeter-se à ditadura judicial seria ensejar o caos institucional, que naturalmente adubaria e potencializaria o golpismo.

Governos não se suicidam.

Nem são ingênuos Dilma Rousseff e os que a cercam: estão carecas de saber que há muito mais em jogo além do destino de um perseguido político que nem sequer teve militância importante, capaz de justificar tamanha obsessão revanchista por parte dos neofascistas.

Trata-se, desde o início, não só de uma testemunha de episódios que se quer varrer para baixo do tapete, mas também de um símbolo: o troféu que a direita quer exibir para tripudiar sobre os ideais de 1968. 

E, como todo símbolo, Cesare foi assumindo diferentes significados para cada contingente humano, de acordo com a evolução dos acontecimentos.

Neste momento, p. ex., para os brasileiros dignos deste nome, a imediata libertação de Battisti está identificada com o equilíbrio de Poderes, a preservação da democracia e a soberania nacional.

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