Páginas

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A EDUCAÇÃO DO GRANDE IRMÃO


Bookmark and Share

A educação deve começar em casa. Mas quando não é possível começar em casa, porque as famílias estão desestruturadas e não existem mais valores a defender que não sejam aqueles ligados à luta pela vida – o que é uma coisa insana, porque vivemos em um país que joga todos contra todos e o maior come o menor e o menor, quando não morre, vai catar lixo e viver embaixo da ponte... Quando a estrutura da sociedade, em sua grande maioria, existe apenas como fator de sobrevivência, em 90% das supostas famílias, a educação passa para o Estado.

     E a educação pelo Estado tem sido sucateada propositadamente pelo próprio Estado, já faz mais de 16 anos. Compram-se computadores, kits escolares e constroem-se escolas, mas o ensino é péssimo. Em geral, os professores tem um baixo nível cultural, não passando de repetidores, e são muito mal pagos.

     Há frases de Paulo Freire nas paredes das escolas, mas Paulo Freire é apenas um nome que serve como uma vaga referência à educação ótima. O governo que se diz de esquerda optou pelo ensino de direita: nenhum desenvolvimento do senso crítico dos alunos, nenhum conhecimento da própria realidade.

     Professores que são meros repetidores, aos poucos ficam desprovidos de idéias. E os alunos que recebem aquelas aulas ocas, que em nada lhes estimulam a curiosidade pelo saber, preferem faltar, não estudar, preencher a sua força de vida, a sua vontade de agir e de não somente pertencerem ao mundo, com coisas que julgam interessantes, como as drogas. E, como viciados ficam ainda mais imbecilizados.

     O Estado facilita tudo isso. As faltas não são computadas, ou raramente o são, não é colocado nenhum limite ao educando, que faz o que quer durante as aulas e as provas não são referenciais do saber, porque no novo ensino brasileiro o aluno passa de ano automaticamente, estudando ou não.

     E em toda escola pública existem os pequenos traficantes, patrocinados por maiores traficantes, conhecidos por todos, inclusive pela polícia, mas nada é feito a respeito. Existem leis que não permitem prender menores e os menores do nosso país podem cometer quantas infrações desejarem. Inúmeras são as denúncias de que os policiais são cúmplices do tráfico, que não reprimem porque recebem dos grandes traficantes para não agirem, da mesma forma que fazem com o jogo do bicho.

     E as escolas passam a ser um centro de ensino de infrações. Ali se formam os pequenos marginais, que depois serão os grandes marginais.

     Sucatear a educação nas escolas públicas, torná-la cada vez pior e alvo de todas as críticas faz parte da estratégia de fazer do ensino pago e privado o único que poderá oferecer uma educação de verdade, aos olhos da população.

     Este é um país cada vez mais capitalista e no capitalismo a educação também é um produto que somente poderá ser adquirido por aqueles que tem dinheiro.

     O ensino pago é extremamente alienante, formando castas sociais que passam a deter o saber que é orientado de fora do país, da matriz. Aqueles que se formam em escolas privadas tem uma educação voltada para a competição, para o ganho a qualquer custo, com nenhuma preocupação social, porque se julgam superiores à grande maioria que é jogada nos ghetos escolares do Estado.

     É tamanho o descaso do Estado com a educação – e também com a saúde – que as verbas destinadas ao Esporte são quatro vezes maiores que as destinadas à Saúde e duas vezes e meia maior que as verbas destinadas e Educação, em 2011.

     A obscenidade é ainda maior. Maior anunciante do país, o governo federal tem à disposição R$ 622,8 milhões para aplicar em publicidade neste ano. Deste valor, o equivalente a R$ 210,3 milhões referem-se a anúncios diretamente vinculados à Presidência da República, que tem o maior orçamento entre todas as pastas dos Três Poderes.

     Para um governo assim, a educação deve ficar em último lugar, porque não dá retorno.

     Se as famílias estão desestruturadas e a escola pública é uma vergonha, sempre o governo terá a televisão e as drogas para iludirem o povo.

     Na televisão, para um povo drogado e submisso, tem aqueles programas estúpidos e licenciosos, que dizem ao povo que ele é “livre” para fazer o que quiser. Os BBBs e as novelas ensinam que você deve matar – ou eliminar – o próximo, para o seu próprio bem. Estimulam a concorrência desleal, a perfídia, a corrupção.

     Um programa como o BBB deveria ser proibido pelo próprio Ministério da Educação, se houvesse alguma lógica na moral do governo. Mas o governo precisa da televisão – mesmo com os seus programas podres – para domar as pessoas e fazê-las acreditar na liberdade de passar fome, de não ter saúde e de ser ignorante.

     Os mesmos veículos de comunicação que promovem esse tipo de programa são pagos para fazerem a propaganda governamental, e um governo que precisa de propaganda é um governo que não acredita em si mesmo e tem medo do despertar do povo.

     Para que esse despertar nunca aconteça, continuará promovendo, com a sua política de educação zero, o amor pelo futebol e pelo carnaval, pela maconha e pelo crack.

     Para os mais ricos, cocaína.

Fausto Brignol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário